V – E JUNHO CHEGOU

“Para onde quer que fores, vai todo, leva junto teu coração” – Confúcio

O coração dos brasileiros se apertava, e era bem grande a empolgação. Junho conduziria os brasileiros ao torneio mundial, a mais um torneio mundial no Brasil… Muitos já sentiam aquele friozinho na barriga quando pensavam na competição. Meu pai, que iria, claro, assistir aos jogos do Verdão no Pacaembu, certamente, já pensava na possibilidade de assistir à final caso o Palmeiras chegasse até ela (mesmo sem nunca ter perguntado isso a ele  – e agora não posso mais fazê-lo -, tenho certeza que ele acreditava piamente que o Palmeiras estaria na final). Muito provavelmente, naquele início de Junho, ele e os amigos que foram ao RJ também, já faziam planos para uma possível viagem – outro dia mesmo, minha mãe, com quem eu falava sobre essa postagem, me contou sobre as pessoas que foram ao Rio de Janeiro com ele na ocasião.

A hora estava chegando… A “Copa Rio”, verdadeiro Campeonato Mundial de campeões logo começaria…

E, por decisão da Associação Uruguaia de Futebol, o Nacional confirmava presença no torneio…

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E porque o Nacional participaria do  Mundial de Clubes, o campeonato uruguaio também seria paralisado durante a disputa (mas que “torneiozinho sem expressão”… Paralisaria até o campeonato do Uruguai, o país que acabara de ser campeão do mundo), e haviam negociações em andamento para a realização, em Montevidéu, e durante o torneio aqui no Brasil, de uma série de partidas entre clubes orientais (clubes uruguaios) e brasileiros. O Corinthians já havia aceitado a proposta para se exibir em Montevidéu no que seria o seu primeiro amistoso fora do país (seria um amistoso de “fax”?), e Bangu, América e outros clubes nacionais estudavam o assunto. Um representante da CBF seguiria para a capital uruguaia para acertar em definitivo essas negociações.

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Antes mesmo que a tabela ficasse realmente pronta,  já noticiavam…  O Vasco, no dia 30 de Junho, enfrentaria o Sporting, de Portugal, na abertura do Torneio Mundial de Campeões, pela chave do Rio de Janeiro. Na chave de São Paulo, o Palmeiras, no mesmo dia, enfrentaria um time italiano. Pensava-se que seria o Milan, no entanto, o campeonato italiano só terminaria na segunda quinzena de Junho – o Milan já tinha acertado anteriormente que disputaria a Copa Latina, que seria na Itália naquele ano –  e, antes disso, Barassi, que também era presidente da Federação Italiana,  acabaria preferindo, convidando e se acertando com o Juventus, o campeão de 50, com vários jogadores da seleção italiana, e que já tinha conquistado oito campeonatos italianos contra três do Milan (o Milan conquistaria o seu quarto título em 51).

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E, então, depois de alguns dias, Barassi finalmente definiria todos os participantes do primeiro mundial de clubes. Além de Palmeiras e Vasco, seis campeões estrangeiros participariam da disputa. Eram eles:

Nacional (URU) – Campeão uruguaio de 1950 (batera o Peñarol, a base da seleção que conquistara a Copa no Brasil), e possuía 9 conquistas no campeonato do Uruguai.
Sporting (POR) – Campeão português de 1951, dez vezes campeão nacional (na última década, tinha sido campeão em 41/44/47/48/49/50),  sendo o representante designado pela federação portuguesa.
Juventus (ITA) – Campeão italiano da temporada 49/50, com 8 conquistas no campeonato nacional, e que tinha em seu elenco 7 jogadores da Azzurra e um da seleção sueca, e fora designado pelo próprio Barassi,  presidente da Federação Italiana, para representar o futebol de seu país no torneio.
Olympique Nice (FRA) – Campeão francês da temporada 50/51, o melhor clube da França, onde jogava o popular Ieso Amalfi, o brasileiro que era o astro número 1 do futebol francês naquela temporada.
Estrela Vermelha (IUG) – ele não era o campeão iugoslavo de 50 – acabaria se tornando o campeão de 51 -, mas era o Tricampeão da Copa da Iugoslávia (48/49/50), além de ser a base da seleção que estivera no Brasil na Copa de 50, e fora designado pela própria Federação de Belgrado como o representante melhor qualificado do futebol iugoslavo.
Austria Wien (AUS) – Bicampeão austríaco (48/49 e 49/50), quatro vezes campeão da Áustria, tinha em sua equipe 10 jogadores que integravam a seleção austríaca – o Rapid Viena era o campeão de 50/51, mas, por problemas ocasionados em outras competições, a CBF o vetara e Barassi nem sequer o convidara – Diário da Noite, 06/51.

E com essas equipes já acertadas para o torneio, a imprensa alertava: “Nada de otimismo exagerado para o Mundial de Campeões”.  Mesmo com muitos triunfos internacionais dos clubes brasileiros diante de clubes estrangeiros, mesmo com o futebol brasileiro atravessando um período áureo, não se podia achar que estava tudo azul… e que o título de campeão mundial de clubes já estava no papo.

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E tudo ia se acertando, se encaixando… as providências todas iam sendo tomadas… E formavam-se as comissões para o Torneio Mundial dos Campeões.

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A Comissão de Imprensa também seria formada e, para isso, estariam reunidos na sede da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) os cronistas credenciados.

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O Ministro das Relações Exteriores do Brasil telegrafaria para todos os embaixadores brasileiros em países cujos campeões participariam do Torneio Mundial, para que facilitassem no que fosse necessário as citadas delegações.

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Os gastos com a Copa Rio, segundo informava a CBD, atingiam cerca de 12 milhões de cruzeiros. Os dirigentes esperavam lucros com o torneio, mas havia os que profetizavam (eles existem em qualquer época) que o torneio daria prejuízo – se ele seria um torneio rentável parecia ser uma das coisas que a Fifa queria observar nesse primeiro mundial.

Enquanto o país todo acompanhava e aguardava o torneio,  Rio e São Paulo fervilhavam de ansiedade, aguardando a chegada das delegações. Palmeirenses, vascaínos e os demais torcedores brasileiros não viam a hora de ver a bola rolando no mundial de clubes. Os jogadores de Palmeiras e Vasco  não viam a hora de entrar em campo.

A CBD e a FIFA, repetindo a decisão da Copa do Mundo, oficializaram a bola para a Copa Rio… A SUPERBALL, a mesma bola utilizada na Copa do Mundo, seria a bola oficial no 1º Torneio Mundial de Campeões (Ainnn, mas não era mundial). E, para atender ao regulamento, Maurício Fucks foi pesar e medir as  “Superballs” e colocar a sua assinatura em cada uma delas.

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Havia gente da imprensa que procurava desmerecer o Mundial de Clubes, desmerecer as equipes estrangeiras que iam participar do torneio… Havia um jornal, ou melhor,  havia um cronista, que não assinava o que escrevia (devia ser avô de algum desses “jornaleiros” atuais), que tentava confundir o fato de o Torneio Mundial de Clubes Campeões também ser chamado pelo nome do seu troféu, “Copa Rio”, como se o segundo anulasse o primeiro (da mesma forma que, levianamente – ou por ignorância – fazem alguns agora, quase 70 anos depois), havia quem achasse que não deveria mais ser considerado um torneio mundial. E Mario Filho – o idealizador do torneio -, em sua coluna no jornal,  esclareceria os fatos e o ‘certo cronista’…

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“O campeonato do mundo de futebol é Taça Jules Rimet. O campeonato mundial de clubes  é “Taça Rio”. Só que o campeonato mundial de Futebol já foi “Coupe du Monde”, e o campeonato mundial de clubes nunca deixou de ser “Copa Rio”. “COPA RIO” É O NOME DA TAÇA. Sempre se chamou o mundial de clubes de “Copa Rio” e “Copa Rio” de mundial de clubes” , Mário Filho.  – Duas notas sobre o mundial de clubes ou “Copa Rio”, Jornal dos Sports, 16 de Junho de 1951.

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Mas são “juquinhas” da vida que, quase 70 anos depois, juram que sabem mais sobre o torneio do que o jornalista que o idealizou e que apresentou a ideia do torneio aos dirigentes da FIFA, juram que sabem mais do que as notícias contaram sobre o torneio na época em que ele aconteceu.

Não havia no mundo um torneio entre clubes que fosse mais importante do que a “Copa Rio”. Em importância no cenário futebolístico só a Copa do Mundo era maior do que o mundial de clubes que estava sendo organizado no Brasil. E Mario Filho contava em sua coluna, que tinha encontrado um aliado em Ottorino Barassi, que o dirigente via o estádio com os mesmos olhos dele, Mario Filho. E quando ele falara com Barassi sobre o mundial de clubes, antes de dizer “sim” ou “não”, Barassi lhe perguntara quanto ele achava que renderia o campeonato do mundo. E quando Mario Filho respondeu que renderia uns 40 milhões, Barassi, então, lhe apertara a mão.
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Sim, a Copa do Mundo de seleções era o torneio de maior expressão no planeta. E, por isso mesmo, alguns membros da Fifa temeram que esta nova competição de relevo mundial, por levar o nome de mundial também, prejudicasse o sucesso das futuras Copas do Mundo (Taça Jules Rimet), lhes tirasse algum brilho – a Copa do Mundo era, e tinha que continuar sendo, a maior e mais importante competição do planeta -, mas fora o próprio presidente da FIFA, Jules Rimet (o Jornal dos Sports publicaria isso depois), quem afirmara que não havia motivo para tantos receios.


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Era um mundial de clubes desde que fora idealizado, concebido – as notícias dos jornais, de vários jornais diferentes, nos contam essa história. O primeiro mundial de clubes a ser realizado. E era no Brasil… E o Brasil, que ainda não conquistara nenhum título mundial, e ansiava por uma conquista assim, aguardava e contava as horas para o início do torneio…

“Pronto. Está tudo feito. Agora é esperar que esses poucos, pouquíssimos dias se escoem. Cada meia-noite passada, sendo um dia a menos. E então começará a romaria diária ao aeroporto do Galeão. Será a chegada dos concorrentes ao torneio mundial dos campeões. Candidatos à primeira posse da Copa Rio. Uruguaios, italianos, franceses, iugoslavos, austríacos, portugueses. Sim, também os portugueses. Para alegria de quantias que ansiavam por uma reaproximação que já estava tardando. Iremos, pois, uma porção de vezes ao aeroporto para receber os nossos hóspedes. Seis clubes estrangeiros. Meia dúzia que, com nossos Vasco e Palmeiras, totalizarão oito concorrentes ao primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões. Tal como havia sido previsto. Pensara-se inicialmente em oito, mesmo antes da Copa do Mundo de cincoenta. E oito são os que virão.

Não foi sopa, porém, para trazer ao Rio esses oito concorrentes. Que o diga Ottorino Barassi, o operoso dirigente da Federação Italiana e da FIFA. O Herbert Moses do futebol internacional pela faculdade de onipresença. Teve de andar de Herodes para Pilatos a fim de não fracassar.  Parecia até o combinado São Paulo-Bangu, hoje aqui, amanhã ali. E como Barassi é homem que não está acostumado a fracassar, teve de meter os peitos. Afinal, conseguindo resolver tudo a contento. E ninguém poderá negar o mérito que esse italiano teve para um certame praticamente já vitorioso. Porque o mais difícil está feito. Agora é esperar o momento do início da festa”, escreveu Everardo Lopes para o Jornal dos Sports, em 16 de Junho de 1951).

 

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Sim, seria uma festa, disso todos tinham certeza… os brasileiros estavam inteiros nisso, de coração… mas será que dessa vez o anfitrião ficaria com o título? Será que dessa vez a Copa ficaria no Brasil?

IV – O MUNDIAL DE CLUBES VEM AÍ

“A história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória…” – Cícero
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1951 chegara… a Europa, ainda cheia de escombros, ia se refazendo dos estragos da guerra, mas continuava sofrendo pelo horror vivido, sofria com a falta de dinheiro… Em outro ponto do planeta, norte-coreanos e chineses, em guerra com a Coréia do Sul, capturavam Seul… A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) preparava a sua segunda temporada de F1, que, na época, era disputada só no continente europeu e em apenas oito corridas (um campeonato com 21 corridas, como aconteceria décadas depois, era impensável naquele tempo em que as viagens eram mais complicadas e sair da Europa era muito difícil)…. Na Argentina, aconteceriam os primeiros Jogos Pan-americanos… e em terras brasilis o primeiro Mundial de Clubes era organizado.

E nesse início de Janeiro, o Mundial de Clubes era o assunto do universo futebol… No Jornal dos Sports, a coluna de Pierre Rimet informava que o presidente da FIFA afirmara que “A Copa Rio”, Torneio Mundial dos Clubes Campeões, deveria bisar o triunfo do Campeonato Mundial de 1950″. As expectativas eram muitas…

Na primeira semana do ano, a notícia era sobre a chegada, nos próximos dias, de Ottorino Barassi – o dirigente da Fifa e presidente da Federação Italiana – que mantinha estreita ligação com a CBD e vinha ao Brasil para ultimar providências para a realização do 1º Torneio Mundial de Clubes Campeões (Jornal do Brasil – 06/01/51)

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No Brasil, enquanto aguardavam Barassi, os homens do Conselho Técnico da CBD  se reuniam para tratar do palpitante assunto do momento: o Campeonato Mundial de Clubes Campeões. O Conselho Técnico de Futebol da CBD , sob o comando de Castelo Branco, organizava o regulamento da competição. (Correio da Manhã – 09/01/51)

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E o mundial de clubes, em sua inédita edição – o seu primeiro formato na história – já fazia tanto sucesso, antes mesmo de estar totalmente organizado, que “os dirigentes ingleses, impulsionados à modernidade por Sir Stanley Rouss e Mr. Arthur Drewry, queriam/se decidiam a organizar, em 52, um Torneio Mundial de Clubes Campeões mais  ou menos idêntico ao torneio idealizado por Mario Filho”,  que se realizaria no Rio de Janeiro naquele ano.

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Até o comércio pegava carona na grande badalação que era o Torneio Mundial dos Campeões… e fazia ofertas com “Preço Campeão”…

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Em 30 de janeiro, vindo de Roma, Ottorino Barassi, presidente da Federação Italiana de Calcio e vice-presidente da FIFA, chegava ao Brasil para tratar com a CBD dos assuntos do torneio mundial – (Jornal dos Sports, 30/01/51).

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Fevereiro mal iniciara e a CBD já se reunira outra vez, e exclusivamente por causa do Campeonato Mundial de Clubes Campeões. E ficou decidido que no torneio seriam dois grupos de quatro times cada um.  Vasco e Palmeiras seriam os cabeças de chave do grupo do Rio de Janeiro e de São Paulo respectivamente (com jogos no Rio e em São Paulo, a recém inaugurada Via Dutra, que ligava os dois estados, facilitaria a vida de muitos torcedores). Faltava Ottorino Barassi definir os demais participantes.

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Barassi, que tinha ido à Argentina, chegava ao Brasil mais uma vez e, no mesmo dia,  esteve na CBD conversando com os dirigentes e com os jornalistas credenciados. E, embora por aqui se especulasse muito sobre os países que participariam do mundial de clubes, durante a conversa, Barassi e CBD combinaram que, dentro de alguns dias, eles se reuniriam mais uma vez para acertarem quais países, por intermédio de seus clubes campeões, seriam convidados a participar  do  torneio.

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O CND (Novo Conselho Nacional de Desportos) estudava até a possibilidade de reatar relações com a AFA, a Associação de Futebol da Argentina, estudava aceitar o apaziguamento insinuado pelo chanceler argentino Jesus Paz,  e convidar o Racing para o torneio – as relações haviam sido cortadas depois que os argentinos, sem maiores explicações, se recusaram a participar da Copa do Mundo no Brasil (Jornal da Noite, edição 050591) – na verdade, segundo o que diziam alguns, a explicação existia sim, e a recusa da Argentina em participar se dera pelo fato de a Copa ser no Brasil, e a Argentina querer sediar a Copa.

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Barassi ‘quebrava a cabeça’ para fechar a parte dos europeus que viriam para o mundial – como era o primeiro  torneio no gênero, o primeiro mundial de clubes, e não havia um critério determinado, os participantes tinham que ser convidados, não havia outro jeito, e como a Europa ainda vivia muitas dificuldades pós guerra,  ficava mais difícil ainda. O dirigente adiantava que Uruguai, Itália, Inglaterra, Portugal e Espanha estavam entre os países que seriam convidados, e ele acreditava que todos aceitariam (como constataríamos depois, Uruguai, Itália e Portugal aceitariam sim o convite do dirigente da Fifa). Barassi achava que, muito provavelmente, a outra vaga acabaria sendo da Suíça. 

Em Portugal, uma notícia equivocada (falsa) dizia que o mundial não mais se realizaria e que teria sido Jules Rimet a afirmar isso, mas a CBD desmentia e garantia que a realização do mundial estava firme – Jules Rimet também desmentiria e esclareceria o assunto depois.

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A organização do mundial – programado desde Julho de 1950, e cuja ideia existia desde Março desse mesmo ano e contava com a concordância de todos os presidentes de clubes brasileiros -,  ia encorpando…

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Era uma novidade a cada dia… Dois árbitros ingleses – um deles, que estivera apitando na Copa do Mundo –  estariam entre os árbitros do Mundial dos Campeões, e Barassi, por telefone, adiantava que um time da Áustria deveria participar do torneio. Barassi também informava que Mr. Stanley Rouss viajaria para o Brasil em sua companhia para integrar a comissão organizadora do torneio.

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O frisson pelo mundial prestes a acontecer era cada vez maior no Brasil. Os dias se tornavam ansiosos, inquietos… E como os participantes europeus ainda não estavam definidos, as especulações, como não poderia deixar de ser, eram muitas… mas já se podia quase afirmar que Itália, Iugoslávia, Portugal e Uruguai mandariam os seus representantes – o futebol italiano e o uruguaio eram bicampeões do mundo. Em relação à Espanha, a derrota para o selecionado brasileiro na Copa, por 6 x 1, e a grande significação da Copa Rio – era uma “outra Copa do Mundo” – deixava inseguros os seus representantes quanto a disputar o Mundial de Clubes. Atletico de Madrid, campeão espanhol, e o Barcelona, campeão da Copa Generalíssimo Franco,  achavam impossível vencer no Brasil. E depois de a Portuguesa ter vencido o campeão espanhol em Madrid, o futebol espanhol acabou convencido da absoluta superioridade do futebol  brasileiro. Além disso, achavam que o Mundial de Clubes serviria apenas para que o Brasil reeditasse a goleada imposta à Espanha na Copa. No “Diário da Noite” a notícia contava que o campeão espanhol fugira do Torneio Mundial de Campeões.

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Era quase confirmada a ausência da Inglaterra (por problemas financeiros o Tottenham acabaria declinando do convite) e, em seu lugar, diziam, deveria participar a França. A Áustria, cujo campeão, o Austria Wien, derrotara o campeão inglês, também queria participar. A participação da Iugoslávia, Portugal e Itália estavam asseguradas.

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Junho, mês em que o mundial teria início  – a partida de abertura seria no dia 30 -, estava quase chegando… e aconteceria mais uma conversa da diretoria da CBD com o Presidente da República, Sr. Getúlio Vargas, que nesse ano de 1951, estava em seu segundo mandato como o 17º presidente do Brasil – dessa vez eleito pelo voto direto.

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O Nacional, do Uruguai  – país cuja seleção atravessara a faca no coração dos brasileiros na Copa do Mundo -, pediu à CBF o regulamento e alguns esclarecimentos sobre ele, a fim de poder confirmar a sua inscrição. E era muito grande a expectativa e a alegria, dos brasileiros pela participação do time campeão uruguaio de 50 no Torneio Mundial de Clubes Campeões… era grande a vontade de enfrentar os uruguaios mais uma vez.

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Durante os primeiros meses desse novo ano em que o mundial era organizado, o Brasil ganharia 32 medalhas no primeiro Pan-americano (5 de ouro, 15 de prata e 12 de bronze), ficando em 5º lugar… o “Trio de Ouro” faria sucesso com a música “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues… Juan Manuel Fangio, no Grande Prêmio da Suíça, em Maio, conquistaria o seu primeiro campeonato na Fórmula 1… O Palmeiras, que se sagrara campeão da Taça Cidade de São Paulo 1950,  campeão Paulista de 1950  – o campeonato terminara em Janeiro de 51 -,  conquistaria ainda o Torneio Rio-São Paulo de 1951 – com alguns resultados muito expressivos, como a goleada de 7 x 1 no Flamengo (a maior goleada , até hoje, no confronto entre os dois clubes), 4 x 1 na Portuguesa, 4 x 2 no Bangu, 3 x 0 no São Paulo, 4 x 1 no Vasco (o outro participante brasileiro do mundial e favorito ao título para muita gente) e as duas vitórias decisivas sobre o Corinthians por 3 x 2 e 3 x 1 –  conquistaria também a Taça Cidade de São Paulo 1951 onde derrotou o São Paulo por 3 x 2 e  goleou o  time do Santos por 6 x 2. Com quatro títulos disputados e conquistados, o Palmeiras ia agora em busca da sua quinta coroa… o titulo do Torneio Mundial de Clubes Campeões.

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O campeonato paulista de 51, que teria início em 02 de junho, por determinação da CBD seria paralisado para que o Torneio Mundial de Clubes Campeões fosse disputado…

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Os meses passavam rapidamente, os dias corriam apressados, tagarelas, ansiosos… os torcedores brasileiros sonhavam com o mundial… um rapaz de vinte anos, que no futuro viria a ser o meu pai, e me daria por herança o verde dos meus olhos e o sangue verde que corre em minhas veias, sonhava com o Palmeiras conquistando esse grandioso torneio… sonhava com dribles, com gols de Jair da Rosa Pinto, com defesas do seu grande ídolo, Oberdan Cattani (“ele pegava a bola com uma mão só”, me contaria ele anos depois), sonhava com a faixa de campeão mundial em peitos palestrinos…  sonhavam também os jogadores do Palmeiras, os do Vasco… sonhavam os palmeirenses, os vascaínos… sonhavam todos os brasileiros… já era chegada a hora de preparar a alma pra ser feliz…

(Continua na próxima terça-feira, 04/09)

III – YES, NÓS TEREMOS OUTRA COPA DO MUNDO

“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória” – José Saramago
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E todo mundo já sabia, estava nos jornais, haveria uma outra Copa do Mundo no Brasil… (SILVA, Geraldo Romualdo da – “Outra Copa do Mundo no Brasil” – Jornal dos Sports, 05/08/50, pág. 5)

As notícias do Mundial de Clubes Campeões começavam a ganhar (mais) manchetes… e contavam aos leitores sobre os “aplausos dos altos dirigentes da FIFA e das entidades internacionais ao torneio”… Seria “um certame de proporções gigantescas, dentro de um estádio com condições de receber as maiores assistências jamais reunidas em qualquer praça de esportes – como se constatara na Copa do Mundo… um campeonato mundial de clubes com a repercussão autêntica de uma Copa Mundial” (Jornal dos Sports,  21/07/50 – “Parada Mundial de Clubes Campeões”).

.O Mundial de Clubes Campeões ganhava  manchetes na Europa também…

Em Setembro de 1950, o jornal londrino “World Sports” noticiava: “WORLD SOCCER CHAMPIONSHIP FOR CLUBS NEXT YEAR” (“Um Campeonato Mundial de Clubes no próximo ano”)… e afirmava: “os brasileiros já discutiram a respeito do projeto com o Sr. Jules Rimet, presidente da FIFA, e com Sir Stanley Rouss, secretário da F.A (Football Association) – Jornal dos Sports, 1950 – edição 06450(1) – “Um campeonato mundial de clubes no Rio no ano próximo vindouro”.  (E pensar que mais de 60 anos depois, muita gente –  jornalistas, inclusive -, por puro despeito e pequenez, ia querer desmentir isso, desmentir o que noticiou a imprensa da época, ia querer sumir com uma página linda do futebol brasileiro e mundial) 

Sim, haveria um campeonato mundial de clubes no ano seguinte, em 1951. E as providências já estavam sendo tomadas…

A diretoria da CBD foi até o Palácio do Catete (na época, o Rio de Janeiro era o Distrito Federal, a capital do Brasil) cientificar o então presidente da república, Getúlio Vargas, sobre a realização em nosso país do Torneio Mundial dos Campeões – Jornal dos Sports, 1950, edição 05067-1. (Era um torneio importante, de grande relevo, por isso que o presidente da república, em audiência especial, precisava ser informado sobre a sua realização)

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Na Europa, Otorino Barassi cuidava de inscrever os clubes que viriam para o torneio. Os contratempos eram muitos e, embora grande número de clubes tivesse interesse em participar – até a Índia mandaria  telegrama -, nem todos poderiam vir.  A Hungria, por exemplo, estava exilada pela União Soviética do futebol internacional; e a Alemanha Ocidental,  naquele ano de 1950,  estava banida pela FIFA.

A ideia de mandarem os campeões nacionais dos países europeus para esse primeiro mundial de clubes já não parecia muito viável em alguns casos, uma vez que, enquanto nos trópicos é verão, na Europa é inverno e vice-versa; quando os campeonatos na Europa estavam terminando, os daqui já estavam começando… sem contar que em alguns países, na Áustria, por exemplo, os campeonatos começavam num ano e terminavam no seguinte… seria difícil prever alguns campeões de 1951, os da Itália e da Áustria, por exemplo (os campeonatos paulista e carioca de 51 também estariam apenas começando por ocasião do mundial de clubes), e ainda haviam os problemas todos ocasionados pela guerra, a falta de dinheiro, as prováveis desistências – como acontecera na Copa do Mundo. Barassi, inteligente, sagaz, se preocupava em fazer o torneio de alto nível e, enquanto acompanhava o desenrolar de alguns campeonatos, objetivava mandar ao Brasil os melhores times, os que tivessem os melhores jogadores, os que tivessem jogadores que atuaram bem na Copa do Mundo de 1950, os que tinham encantado os torcedores na ocasião, como, por exemplo, Mitic, da seleção da Iugoslávia, cheia de craques, e que  no jogo contra o Brasil, na Copa do mundo que acabara de se realizar,  tinha dado dor de cabeça para a torcida brasileira.

No Brasil, em 18 de Setembro de 1950, era inaugurada a PRF3 TV Tupi de São Paulo, a emissora fundada pelo jornalista Assis Chateaubriand. Era a primeira emissora de televisão da América do Sul, a quarta do mundo. Mas os receptores eram bem caros. Ao preço de 12.950 cruzeiros (receptor GE com tela de 12,5 polegadas – 32 cm) mais 1.600 pela antena externa e 1.100 pelo estabilizador de voltagem – mais ou menos 41 salários mínimos no total – , bem poucos aparelhos seriam comprados pelos brasileiros até o final do ano.

O primeiro jogador a aparecer na TV, no dia seguinte à inauguração da TV Tupi, em uma entrevista, foi Baltazar, do Corinthians. As primeiras imagens de uma partida a serem mostradas na TV, dias depois, foram do jogo São Paulo 2 x 0 Portuguesa.

E  27 dias após a inauguração, a TV Tupi mostrou flashes, ao vivo, do jogo Palmeiras 2 x 0 São Paulo, diretamente do Pacaembu.  Era um domingo, 15 de Outubro. O ponteiro esquerdo Brandãozinho, autor dos dois gols palmeirenses, foi o primeiro jogador na história do futebol brasileiro a marcar um gol ao vivo, aos 41minutos do segundo tempo. Do primeiro gol, marcado por ele 13 minutos antes, a TV mostrara apenas a comemoração. (GEHRINGER, Max – A grande história dos mundiais. 1950, 1954, 1958) Histórico… o primeiro gol ao vivo da TV brasileira foi um gol do… Palmeiras…

A TV ia ajudar – seria fundamental – a popularizar o futebol como tanto almejava Mario Filho. E se na Copa, ocorrida três meses antes da inauguração da TV, os brasileiros ficaram no radinho, no campeonato mundial de clubes a coisa já seria diferente. E por isso também ele ganhava ainda mais importância.

E porque o torneio tinha muita importância, e porque só dois representantes brasileiros participariam do mundial de clubes, muitos se perguntavam:

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                                                      (Jornal dos Sports, 05/12/50)

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…………………………………………………………..(Jornal dos Sports, 06/12/50, pág5)

Muitas pessoas se preocupavam com os outros clubes brasileiros. O que fariam eles durante a disputa do mundial além de assistir e torcer? No final do ano de 1950, ainda se pensava que em São Paulo alguns jogos do campeonato paulista poderiam acontecer em outras localidades, como Campinas, Piracicaba, durante o torneio mundial; no entanto, se estabeleceria depois, os campeonatos paulista e carioca seriam paralisados durante a disputa do mundial de clubes. E, no final das contas, muitos clubes brasileiros fariam amistosos com outros times estrangeiros que estariam no país na ocasião, sem contar que o mundial duraria aproximadamente 22 dias apenas e os outros clubes não seriam prejudicados como ainda pensavam alguns no final daquele ano.

1950 ia chegando ao fim… o início do novo ano já acenava e sorria para o Brasil. E o novo ano traria o Torneio Mundial de Clubes Campeões… E, num tempo em que muita gente  pensava que o Rio de Janeiro era a capital da República Argentina, e que nas ruas haviam macacos, cobras e outros bichos ameaçando a vida das pessoas, o futuro Torneio Mundial de Clubes Campeões (Copa Rio de Janeiro) seria uma propaganda maravilhosa para a gente e as coisas do Brasil , como escrevera o francês Albert Laurence – dos periódicos “L’Équipe”, “France Football” (algumas notícias davam conta de que ele fazia parte também da assessoria de imprensa da Fifa) -, na “Crônica Internacional” do Jornal dos Sports  naquele início de Dezembro …

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E já se falava que no regulamento do mundial um novo dispositivo seria incluído: cada clube poderia inscrever 22 jogadores, mas só poderia trazer 18 ao Brasil. Os outro quatro ficariam em seus países constituindo uma reserva de emergência (Jornal dos Sports, 12/12/50 – “Inscrições para o Torneio Mundial de Clubes”).

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E logo depois do Natal de 1950, em 28 de Dezembro, o Conselho Técnico da CBD já se reunia e começava a esboçar o regulamento do Torneio Mundial dos Clubes Campeões… (Jornal dos Sports, 28/12/50 – “Notícias da C.B.D” / Correio da Manhã, 30/12/50 – “Nova fórmula para o Torneio de Campeões Mundiais”)

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Mas havia quem temesse que a CBD acabasse apresentando uma regulamentação nos mesmos moldes da que  Ottorino Barassi apresentara – como se fosse criação do Conselho Técnico da CBD -, ou ainda que Castelo Branco inventasse um novo regulamento, porque não havia tempo para que se começasse a tratar do assunto de novo; Ottorino Barassi tinha todos os motivos para considerar aprovado o projeto.

Os jornais também diziam que, enquanto em Londres tratavam do Campeonato Mundial de Clubes como o grande acontecimento do futebol do próximo ano, aqui, no Brasil, ninguém tomava providência – a gente sabe, brasileiros são mais sossegadões mesmo (Jornal dos Sports, 29/11/50 – “O papel de Barassi”).

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Todo mundo queria a realização do Mundial de Clubes no Brasil, e as notícias, mesmo quando tratavam de clubes brasileiros em viagem à Europa, sempre davam algum relevo à realização do Campeonato Mundial de Clubes Campeões no ano seguinte (Jornal dos Sports, 14/11/50).

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E as primeiras luzes de 1951 chegariam com o futebol brasileiro vivendo as  emoções do Torneio Mundial de Clubes Campeões que se aproximava… Palmeirenses, vascaínos, os brasileiros todos, já respiravam mais forte, já sentiam o coração bater diferente quando pensavam no torneio mundial… e sonhavam acordados com essa conquista…

(Continua no próximo sábado, 01/09)

II – E O TORNEIO MUNDIAL COMEÇA A SER ORGANIZADO

A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las. (Aristóteles)
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Como ainda não existiam naquela época competições que pudessem servir como eliminatórias pra indicar os participantes de um torneio mundial de clubes, algo inédito até então, eles decidiram, a princípio, convidar os campeões nacionais de países da América do Sul e da Europa considerados potências futebolísticas naquele início de década, e que participaram da Copa do Mundo.

No Brasil ainda não havia um campeonato nacional que pudesse indicar os participantes desse torneio – a Taça Brasil, o primeiro campeonato nacional,  só surgiria em 1959 (o Bahia seria o primeiro campeão brasileiro; em 1960, seria o Palmeiras) -, e também não seria possível disponibilizar datas para a inclusão de uma nova competição no calendário nacional. Como os torneios mais importantes do país eram os campeonatos estaduais do RJ e de SP e o Torneio Rio-São Paulo – a disputa entre os dois estados onde havia o melhor futebol e o maior número de craques do Brasil – a CBD e a FIFA  decidiriam que Palmeiras e Vasco (os campeões desses estados em 1950), seriam os representantes brasileiros no torneio mundial de clubes campeões.

Claro que teve alguma reclamação de alguns que ficaram de fora, claro que teve choradeira até mesmo de alguns (poucos) jornalistas por causa dos clubes que não participariam. Mas não teve camaradagem na escolha dos representantes do Brasil não… Palmeiras e Vasco eram os melhores times do país naquele ano, eram os campeões de São Paulo e Rio de Janeiro – os dois estados com o futebol mais forte do país. O time de Parque Antártica entraria na nova década com quatro conquistas de “Campeonatos Paulistas” (1942, 1944, 1947 e 1950 – por ocasião do mundial de clubes, o campeonato estadual de 51 estaria ainda em seu início, e seria paralisado para o torneio mundial) -, dois “Torneios Início do Campeonato Paulista” (1942 e 1946) e três “Taças Cidade de São Paulo” (1945, 1946 e 1950) – o Palmeiras ainda conquistaria o “Torneio Rio-São Paulo”-1951, a “Taça Cidade de São Paulo”-1951 – o Torneio Mundial de Clubes Campeões, se conquistado,  tornaria o Palmeiras  “Campeão das Cinco Coroas”. O Vasco, por sua vez, tinha sido campeão carioca e a base da seleção brasileira na Copa disputada no Brasil  – 8 jogadores, o técnico e também o massagista –  (os palmeirenses Jair da Rosa Pinto, Juvenal e Rodrigues Tatu também haviam defendido a seleção na Copa – Juvenal e Rodrigues Tatu vieram para o Palmeiras depois do mundial de seleções). Sendo assim, Palmeiras e Vasco teriam a honra de serem, merecidamente, os representantes do Brasil no Mundial de Clubes Campeões.

O patrocínio, que Ottorino Barassi desejava para o torneio, logo apareceria… e, pelo que se podia perceber, viria da prefeitura do Rio de Janeiro. [Diário da Noite, edição 05065(1)]

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Barassi, uma das grandes autoridades do futebol mundial, ia voltar para a Europa. Na véspera da viagem, por iniciativa da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), da Federação Metropolitana de Football e dos clubes cariocas, ele foi homenageado com um almoço no restaurante do aeroporto Santos Dumont. Tratava-se de um importante contato para o campeonato mundial de clubes. O campeonato idealizado por Mario Filho caminhava para se tornar realidade (Jornal dos Sports, edição 064362, 1950 – “Realidade para o Campeonato Mundial Dos Clubes”).

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Ottorino Barassi sabia, e não se cansava de repetir: “Só o Rio comportará um acontecimento dessa transcendência. Só mesmo o Rio, com a praça de esportes que tem, com esse entusiasmo incomparável de sua gente, com essa prova de altivez ao revés, poderá lançar-se a tão alto projeto”.

E nesse almoço, Barassi sugeriu um nome para o campeonato mundial de clubes que organizavam e que a Prefeitura do Rio de Janeiro já insinuava que iria patrocinar (mais à frente, ela mandaria confeccionar a taça que seria entregue ao campeão e ao vice). Pediu especial atenção dos que o rodeavam (prestem atenção também os que leem esse texto agora, em 2018), pigarreou, e disse que já tinha um nome para o Campeonato Mundial de Clubes. Fez uma pausa e disse: “Copa Rio de Janeiro”. Outra pausa, e ele fez um adendo: “Copa Rio”. Sorrindo, se justificou: “Mais simples. Mais Popular. Pegará mais depressa”. [Jornal dos Sports – edição 06427(1)] 

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E foi assim, por ideia de Ottorino Barassi – por causa do patrocínio que viria da prefeitura também, claro -, que o Torneio Mundial de Clubes Campeões,  que não deixaria de ser um mundial de clubes em nenhum momento, ganhou o nome de “Copa Rio”, mas só depois de ter sido idealizado como um campeonato mundial de clubes, e não o contrário.

E então, o torneio começava a ser realmente organizado. E era considerado uma conquista do futebol brasileiro. As adesões entusiásticas da FIFA (Jules Rimet se colocara à disposição do futebol brasileiro para que vingasse a ideia do campeonato mundial de clubes), da Inglaterra, Itália e outros países à ideia de Mario Filho de realizar um mundial de clubes, poderiam ser traduzidas como o reconhecimento da liderança que estava sendo pretendida para o futebol do Brasil. Porque só um centro completamente evoluído, completamente amadurecido e completamente aparelhado, como era, futebolisticamente falando, o Rio de Janeiro naquela época – e com um estádio como o Municipal do Rio de Janeiro -, poderia ter a pretensão de realizar um campeonato de tal vulto, apenas um ano depois da Copa do Mundo no Brasil (Jornal dos Sports, 1950 – edição 06419).

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A imprensa atual, a do século XXI, numa injustiça tremenda com um dos maiores jornalistas esportivos da nossa história, pouco lembra de Mario Filho como o idealizador do primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões e, na maioria das matérias a respeito dessa competição, quase nunca lemos algo o ligando à idealização do torneio (Jornal dos Sports, 1950 – edição 06418, O CORAÇÃO DO MUNDO FOOTBALLÍSTICO).

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.Mas naquele meio de século, naquele distante 1950, a imprensa esportiva sabia que esse primeiro campeonato mundial de clubes era uma grande distinção ao Brasil, e ela apelava aos dirigentes de clubes e entidades do país para que não deixassem a ideia morrer, e levassem a sério a organização do torneio. Os benefícios para o Brasil – diziam os jornais – para o esporte brasileiro, para o futebol brasileiro, para os clubes e entidades, seriam ainda maiores do que os que foram prestados pela Copa Jules Rimet. Primeiro, porque  seria um prêmio que o futebol mundial reconhecia que o Brasil merecia; segundo, porque beneficiaria diretamente os clubes e as entidades no Brasil. Os campeonatos do Rio e de São Paulo ganhariam em interesse, em atenção, uma vez que iam designar os representantes do Brasil no campeonato mundial de clubes, assim como o Torneio Rio-São Paulo seria igualmente beneficiado. E isso iria além do interesse clubístico. O interesse era do Brasil, que seria mais uma vez palco de um campeonato mundial [Jornal dos Sports, 1950 – edição 06419(2) – O CAMPEONATO MUNDIAL DE CLUBES].

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Os periódicos temendo que, por falta de organização, o Brasil perdesse a chance de realizar o mundial de clubes, cobravam da CBD que ela corresse mais na direção desse grande projeto, e não perdesse a chance, porque a ideia do mundial já existia e outros países poderiam se antecipar ao Brasil (a ideia do mundial de clubes agradava à muitas federações estrangeiras. Estava cheio de gente de olho nele). Todavia, alguns jornalistas –  e alguns dirigentes europeus também – temiam que o tempo fosse escasso para se realizar mais um campeonato mundial no Brasil – era mesmo.  Diziam que um campeonato desse vulto, um torneio mundial de clubes, só poderia ser realizado em 1952,  porque não daria tempo de organizá-lo para 1951 [Jornal dos Sports – edição 06417(1) -Olimpicus – O campeonato Mundial de Clubes É UM GRANDE PROJETO].

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Mas, por outro lado, depois da realização da Copa Jules Rimet, e do estádio municipal do Rio de Janeiro construído a tempo, com tanto sucesso,  e quando muitas pessoas achavam que ele não ficaria pronto (a obra terminou em 12 de Junho, doze dias antes do início da Copa do Mundo), os dirigentes da Fifa costumavam dizer que “para os brasileiros nada seria impossível” . Na verdade, antes da conclusão da obra, a Fifa temera sim que o estádio não ficasse pronto para a Copa, e Barassi, que muito fez para que os prazos fossem cumpridos, que cobrou as pessoas responsáveis, que insistiu, ficou ‘em cima’ para que o aprontassem em tempo, foi de uma ajuda inestimável na ocasião.

Será que o Brasil, com a ajuda de Barassi na organização, conseguiria vencer o tempo mais uma vez e promover um mundial de clubes? Conseguiria, no prazo de um ano, e mesmo com todos os problemas que a guerra causara à Europa, trazer grandes times europeus ao torneio em 1951?

(Continua na próxima quinta-feira, 30/08)

Eu sempre soube que o Palmeiras conquistou um campeonato mundial de clubes em 1951… Alberto Vicente, meu pai, assistiu aos jogos em São Paulo, foi assistir à final no Rio de Janeiro e, muitos anos depois, me contou sobre aquela emoção, sobre o que significou aquilo tudo, me mostrou uma foto – daquelas de borda toda recortada –  feita naquele dia… Oberdan Cattani, o ídolo maravilhoso da história do Palmeiras, o goleiro de 3 das sete partidas do mundial, me contou também, me mostrou fotos, faixas… Fabio Crippa, o goleiro das semifinais e finais – que um dia conheci num dos aniversários de Oberdan (Deus é bom comigo, não?) -, também me falou brevemente a respeito da alegria de ter sido campeão mundial… Tive o privilégio de conhecer Valdemar Fiume (na casa do Oberdan também, mas em uma outra, e mais antiga, oportunidade – Deus me mima) e beijar as suas mãos (não tive como beijar seus pés na ocasião)… a taça, maravilhosa, repousa lá no Palestra e eu a vi de pertinho… senti a energia que ela carrega com ela…

Talvez, essa tenha sido a mais linda história que o Palmeiras, os palmeirenses (meu pai, inclusive), os cronistas,  os dirigentes da CBD, alguns dirigentes estrangeiros, e os brasileiros todos da época escreveram… e é pra eles, para os palmeirenses de outrora, para os palmeirenses de hoje, e para os palmeirenses que ainda irão nascer, que escrevo agora.

 

TORNEIO MUNDIAL DE CLUBES CAMPEÕES 1951 – “COPA RIO”…

“A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais do que eu, e ela não perde o que merece ser salvo” – Eduardo Galeano

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I – SURGE A IDEIA DO MUNDIAL DE CLUBES 

Logo após  a derrota da seleção brasileira para a seleção uruguaia, na final da Copa do Mundo de 1950, em pleno Estádio Municipal do Rio de Janeiro (Maracanã); logo após a frustração e dor que essa derrota causara para todo um país… Depois de quase 200 mil pessoas, numa demonstração de extrema grandeza e civilidade, encontrarem forças para aplaudir os adversários vencedores mesmo estando com o coração em pedaços e os olhos cheios de lágrimas… depois de quase 200 mil pessoas deixarem o Maracanã desoladas, em absoluto e estarrecedor silêncio, e sem querer nem mais ouvir falar em futebol, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) começou a organizar  uma competição que já vinha sendo pensada/sonhada/desenhada antes mesmo da Copa do Mundo.

Em 1950, antes da Copa se iniciar, um jornalista chamado Mario Filho (irmão do também jornalista e escritor Nelson Rodrigues), um pernambucano que vivia no RJ, um apaixonado por futebol, que era proprietário do ‘Jornal dos Sports’ (o de maior circulação na América do Sul), e em seu trabalho mudava a linguagem das notícias futebolísticas – a fazia mais parecida com a linguagem dos torcedores, com a intenção de tornar o esporte cada vez mais popular -, esse profissional, apaixonado por futebol, era também um apaixonado pelo então recém construído Estádio Municipal do RJ,  e muito por causa desse estádio  ele teve a ideia de um Torneio Mundial de Clubes.

No ano anterior, em 1949, a Fifa tinha garantido que a Copa do Mundo de 1950 seria no Brasil. A princípio, e depois de todas as atribulações causadas pela Segunda Guerra na Europa, e de mais de uma década sem o torneio mundial de seleções, a Copa do Mundo seria em 1949, mas foi postergada para 1950 para dar mais tempo ao Brasil de se preparar, e para os europeus se recuperarem dos estragos feitos por Hitler. Havia também falta de dinheiro generalizada na Europa; a guerra havia drenado todos os recursos das nações envolvidas, e nem todas tinham dinheiro para a viagem, ou estavam dispostas a cruzar o Atlântico naquele começo de década (muitos países, vivendo ainda entre escombros da guerra, achavam que não era a hora de se pensar em futebol, em sediar uma Copa do Mundo).

Naquele tempo, não era fácil garantir com antecedência os participantes de uma Copa do Mundo, de um torneio mundial. Qualquer time poderia desistir a qualquer momento, e os motivos poderiam ser vários: a falta de recursos, desinteresse ou desavenças com outras nações participantes. Hoje, quando há tantas lágrimas em campo quando um time não consegue a tão sonhada vaga na Copa do Mundo, não dá para se imaginar que em 1950 a FIFA teve que se desdobrar para evitar que o seu principal torneio não tivesse seleções suficientes. Muitas seleções desistiram por falta de dinheiro, algumas recusaram em cima da hora  – mesmo com o temor de um esvaziamento, mesmo com tantas desistências, e com menos seleções participantes do que o previsto, a Copa no Brasil acabaria sendo um sucesso.

E com a Copa assegurada para o Brasil, a construção de um estádio no Rio de Janeiro – projeto antigo, e que havia sido engavetado – começou a virar frenética realidade. Mario Filho se empenhou tanto na construção do Estádio Municipal do Rio de Janeiro (ele fazia campanha pela sua construção desde o final da década de 30), combateu fortemente a ideia do político  Carlos Lacerda – que o queria mais modesto, com aproximadamente 60 mil lugares, e construído em Jacarepaguá, afirmando ser essa a vontade do povo -, conseguiu o apoio da opinião pública para que o estádio fosse construído no bairro Maracanã, se empenhou para que ele viesse a ser o maior do mundo… Ele tanto fez pelo estádio que acabou ganhando o apelido de “namorado do estádio”, estádio que seria o grande palco da Copa do Mundo em 1950. E o gigantesco palco do futebol, o maior do mundo – um dos 6 estádios da Copa, onde o Brasil jogou a maioria das suas partidas -, acabaria sendo merecidamente batizado – em 1966, um mês depois da morte do jornalista – como “Estádio Municipal Jornalista Mario Rodrigues Filho”.

E porque o Brasil tinha esse estádio maior do mundo – nenhum outro país possuía um igual, com tantos lugares -, e  por causa do sucesso técnico e financeiro da Copa Jules Rimet (que tanto agradaria à CBD e à FIFA), só aqui seria possível se realizar uma competição com a grandeza de um mundial entre clubes campeões. Era o que acreditava Mario Filho (o tempo mostraria que ele tinha toda razão).

Mas a ideia do Mundial de Clubes surgiria antes mesmo da Copa se iniciar… Segundo uma publicação de 1950 [Jornal dos Sports, 1950 – edição 06427(1)],  tudo começou num fim de tarde, dentro de um carro que se dirigia à Copacabana… Na ocasião, vivia-se a ansiedade pela  Copa do Mundo, a grande agitação que precedia a chegada das primeiras seleções inscritas no torneio.

No carro, Mario Filho, Ricardo Serran, Mario Julio Rodrigues e o também jornalista Geraldo Romualdo da Silva – que escreveria sobre isso no jornal depois. Mario Filho expôs a ideia de um torneio mundial de clubes, uma disputa entre grandes clubes campeões da América do Sul e da Europa. Eles debateram a ideia e, ali mesmo, combinaram que não se tocaria no assunto sobre o torneio enquanto Stanley Rouss (Football Association – ele foi o responsável pela comissão de arbitragem na Copa de 50), Ottorino Barassi (Federazione Italiana Giuco del Calcio e FIFA) e Jules Rimet (presidente da FIFA) não tomassem conhecimento do plano. No entanto, Serran alertava aos demais: “não podemos permitir que a ideia fique em sigilo muito tempo”.

E foi num jantar, realizado pouco tempo depois, onde estiveram presentes o jornalista Mario Filho, idealizador do torneio,  o presidente da CBD, Sr. Mario Pollo, Stanley Rouss, Arthur Drewry (que já começava a preparar a sua candidatura à sucessão de Jules Rimet na FIFA), Jules Rimet, Ottorino Barassi (no Brasil, alguns jornais grafavam o nome dele com um único “t” – “Otorino”), Sotero Cosme e José Lins do Rego, que a ideia foi comunicada aos representantes do futebol mundial, e eles se mostraram francamente de acordo – desses participantes do jantar,  Jules Rimet, Stanley Rouss (seria eleito presidente da Fifa em 1961) e Ottorino Barassi (criaria a UEFA e também participaria efetivamente da criação da Champions League muitos anos depois) fizeram parte do comitê responsável pela organização da Copa do Mundo de 1950.

Barassi, o homem que organizara as copas de 34 e 50 (indicado por Jules Rimet), e que durante a guerra, escondera a Taça Jules Rimet  dos nazistas que ocupavam a Itália (ele teria tirado o troféu do banco onde ele estava guardado e o colocado em uma caixa de sapatos, que pôs embaixo da cama), lembrou a todos que seria preciso conseguir um patrocínio oficial de um dos poderes públicos para o torneio. O presidente da Fifa, por sua vez, salientou que o assentimento da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e a solidariedade dos clubes e demais entidades no Brasil eram indispensáveis para o êxito do certame.

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O presidente da FIFA, o francês Jules Rimet, idealizador da primeira Copa do Mundo, havia nomeado oficialmente o italiano Ottorino Barassi para o comitê organizador do torneio, e Barassi, além da ajuda aos brasileiros, tomaria todas as providências para as inscrições dos clubes europeus.

A ideia de Mario Filho era a de uma competição que tivesse a mesma grandeza de uma Copa do Mundo, o mesmo arrebatamento, mas que fosse disputada por grandes clubes campeões da América do Sul e da Europa e não por seleções. E essa disputa só seria possível, segundo Mario Filho, por causa do Estádio Municipal. Não havia no mundo um maior e melhor para receber tão importante competição – depois da realização da Copa, do sucesso técnico e de público/arrecadação, depois da demonstração de civilidade da torcida com a seleção uruguaia  (tudo isso encantou os europeus e os dirigentes da Fifa), ficaria ainda mais claro, só aqui poderia ser realizado o primeiro torneio mundial de clubes.

Além disso, o torneio serviria (pensou-se assim depois da Copa) para que o Brasil pudesse dar uma resposta nas quatro linhas, serviria para que o futebol brasileiro voltasse a ser “A” referência em futebol, a permanecer na rota mundial do futebol, façanha conseguida com a realização da Copa do Mundo… serviria para que ele pudesse dar uma volta por cima e recuperasse o orgulho destroçado… para que ele pudesse conquistar o que, por descuido, tinha deixado escapar naquele doloroso e recente 16 de Julho de 1950… um título de campeão mundial.

E foi por tudo isso que, três dias depois do triste final da Copa; três dias depois de Jules Rimet – parecendo contrariado, triste – entregar a taça para o zagueiro uruguaio Obdulio Varela; três dias depois de milhares de brasileiros se abraçarem chorando convulsivamente de tristeza, no Maracanã, a CBD já se reunia para as deliberações do Torneio Mundial de Clubes Campeões.

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(A Parte II virá na próxima postagem)

Na Antiguidade, acreditava-se que a escrita vinha dos deuses. Os gregos pensavam tê-la recebido de Prometeus. Os egípcios, de Tot, o deus do conhecimento. Para os sumérios, a deusa Inanna a havia roubado de Enki, o deus da sabedoria…

Não teríamos conhecimento do que falou e fez Jesus Cristo se não fossem os Evangelhos… não saberíamos nada sobre o Descobrimento se Caminha não tivesse escrito a primeira carta, e se outras tantas não tivessem sido escritas depois… nada saberíamos sobre os egípcios se não fosse o que eles escreveram  em pergaminhos/papiros, se não fossem os hieróglifos… não saberíamos nada sobre o mundo, e o que aconteceu no mundo antes de nascermos, ou de termos entendimento suficiente, se não fosse a história escrita. Se as pessoas não resolvessem escrever sobre os acontecimentos para transmiti-los às outras…

E a velocidade de informação que temos hoje, essa absurda velocidade de informação, só foi possível graças ao desenvolvimento da escrita…. Com a escrita, a humanidade pôde atravessar a barreira do tempo e preservar informações sobre povos que viveram há milhares de anos, sobre a maneira como viviam, em que acreditavam, como se organizavam socialmente…

No século 15, a invenção da imprensa tornou tudo isso mais fácil, mais ágil e à disposição de um número muito maior de pessoas. A reprodução de livros, jornais, o acesso à leitura e à divulgação de fatos, de informações, passaram a ser acessíveis a um número muito grande, e cada vez maior, de indivíduos… e, assim, a humanidade passou a preservar e divulgar fatos históricos, transmitindo-os às novas gerações…

E, nos dias de hoje, sempre que queremos nos informar a respeito de algo corremos buscar nos livros, nos jornais, nos sites, no Google – que reúne tudo isso – ou seja, onde quer que alguém possa ter escrito a respeito do que queremos saber, a respeito da informação que desejamos obter… não é mesmo? Porque é através do que foi e é escrito que a história foi e é contada. Os contemporâneos de cada época é que podem nos contar, com riqueza de detalhes os fatos do período em que viveram… Está tudo lá…  guerras, invenções, costumes, cultura, comidas, vestimentas, lazer, personalidades, idiomas, conquistas… tem sempre alguém escrevendo para contar algo que vivenciou, testemunhou…

É fato que as pessoas podem mentir sobre o que escrevem… é fato que podem focar só um ângulo de um acontecimento, podem escrever de maneira defeituosa/distorcida a respeito de um assunto ou de alguém, dar-lhes as cores que elas quiserem… mas também é verdade que fatos concretos, coisas que aconteceram, que fazem parte da história, são imutáveis, por mais vontade tenham alguns de mudar os acontecimentos…

Uma pessoa pode, por exemplo, escrever de uma maneira sobre Luís XV, atribuir qualidades a ele (mesmo que ele não as tivesse possuído) e mostrá-lo como o ‘bem-amado’; outra pessoa pode fazer exatamente o contrário… podem escrever sobre suas amantes, ou omiti-las… mas se tem algo que nenhuma pessoa, ao escrever sobre ele, pode mentir, falsear, ou escrever de outra maneira é que ele foi Rei de França e Navarra, de 1715 – quando ele tinha cinco anos – até 1774, quando ele morreu. Isso é fato, aconteceu, e é imutável. Não tem como escrever de maneira diferente, distorcida, não tem como escrever que nesse período o rei da França foi um Luís de Camões, por exemplo.

E baseada nisso, nessa imutabilidade dos fatos concretos – que ficam a salvo da subjetividade, ou levianidade de alguns -, é que fui pesquisar nos escritos antigos – mas não tão antigos assim. Nos escritos de pessoas que viveram num tempo em que não vivi, não conheci, a não ser pelo que me foi transmitido por quem o viveu… um tempo pra se guardar no coração…

E é sobre isso que falo na próxima postagem. Ela será o primeiro “episódio” de uma “série” que vou publicar aqui no blog. Acompanhe, acho que você vai gostar…
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…………….Imagem relacionada

Filipenses 99:12 “Tem que ter raiva dessa p#rra de Cu rintia”.

 

Em meio à turbulência política pela votação que decidirá sobre as alterações do estatuto da SEP – com direito à chantagem da patrocinadora/conselheira/sócia desde 2015, que, ontem, ameaçou retirar o patrocínio do clube se não ganhar a eleição quem ela quer que ganhe, quem é amiguinho dela (olha o nível da coisa), e de uma reação contrária, por parte de três dos vice-presidentes do clube,  exigindo um posicionamento do presidente Maurício Galiotte a respeito dessa coação da patrocinadora (é coação sim) -,  menos de 24 horas depois da derrota do Palmeiras para o Fluminense (graças a um gol ilegal, diga-se de passagem) e da demissão do técnico Roger Machado… o Palmeiras anunciou um novo comandante: Luís Felipe Scolari, o nosso conhecido Felipão.

E como pouquíssimas coisas são consenso entre os torcedores palestrinos, claro que a escolha de Felipão não foi unanimidade na torcida. Uns queriam o “A”, outros queriam o “L”, o “X”, o “Y”, o “Z” (eu queria o Z… idane  rsrs)… mas, a partir do momento em que o Palmeiras fecha uma contratação, nós todos queríamos e queremos o mesmo. Não é assim que funciona, ou deveria funcionar? Assim é comigo. Felipão não era o meu favorito, estava muito longe disso, aliás, mas a partir de agora,  “eu quis a sua contratação desde sempre”.

E, hoje, se você perguntar para os palmeirenses: Quem é o melhor técnico do Brasil? A grande maioria  certamente responderá: Felipão.  

Ele está de volta! E pela terceira vez. E assim como aconteceria com qualquer outro nome que fosse escolhido, a sua contratação é uma aposta. Nenhum técnico ou jogador, por mais renomado que seja, por mais títulos que tenha conquistado, chega em um clube trazendo a certeza de sucesso, de conquistas, tampouco traz ele a certeza do fracasso – ainda que alguns pensem assim. Se o time encaixa, se o esquema engrena, se os comandados se entendem com o comandante e com o esquema, se a torcida abraça, apoia e joga junto… a coisa acontece sim.

E, da mesma forma que não podemos olhar só para os anos 90, como os mais “filipenses” fazem, ou olhar só para os problemas e o final desastroso de 2012, o trágico 2014 da seleção, como os não “filipenses” insistem em olhar, não podemos fazer de conta que não sabemos que Felipão – de extenso e vitorioso curriculum – ganhou vários títulos recentemente. Na China – por onde passaram, sem o mesmo sucesso, vários treinadores brasileiros – a equipe do Guangzhou Evergrande, comandada por Felipão nas temporadas de 2015 a 2017, conquistou o tricampeonato chinês (2015/2016/2017), a Liga dos Campeões da Ásia (AFC) 2015, a Copa da China 2016 e a Super Copa da China 2016 e 2017.

E, sejamos justos com Felipão, ele tem muitas conquistas. No século XXI, que ainda não completou duas décadas, ele é o treinador brasileiro que mais títulos conquistou (14) – e  tem uma Copa do Mundo no meio dessas conquistas, a única que o Brasil conseguiu ganhar nos últimos 24 anos.

Copa Sul-Minas: 2001 (Cruzeiro)
Copa do Mundo FIFA: 2002 (Seleção Brasileira)
Campeonato Uzbeque: 2009 e 2010 (Bunyodkor)
Taça Uzbequistão: 2010 (Bunyodkor)
Copa do Brasil: 2012 (Palmeiras)
Copa das Confederações: 2013 (Seleção Brasileira)
Campeonato Chinês: 2015, 2016 e 2017 (Guangzhou Evergrande)
Liga dos Campeões da AFC: 2015 (Guangzhou Evergrande)
Copa da China: 2016 (Guangzhou Evergrande)
Supercopa da China: 2016 e 2017 (Guangzhou Evergrande)

Então… Que novos e verdes títulos se juntem a esses da lista de Felipão, se juntem aos muitos que o Palmeiras possui.

É “Família Scolari” outra vez, parmerada! 

SEJA BEM-VINDO DE NOVO, FELIPÃO! MUITA SORTE E SUCESSO NESSA SUA NOVA PASSAGEM NO MAIOR CAMPEÃO DO BRASIL!

Os palmeirenses têm acompanhado mais uma disputa política na SEP.  A campanha que antecede a votação para que, no dia 04/08, sejam feitas algumas alterações no Estatuto da Sociedade Esportiva Palmeiras. E, como é de praxe, a coisa se divide, naquele jeitinho Palmeiras de ser (que está de volta ao clube com tudo, infelizmente), entre o pessoal do “Vote SIM” e o do “Vote NÃO”.

Nem todos os torcedores e associados entendem realmente o que está sendo votado, ou não percebem o que está por trás do que está sendo votado.

Embora sejam várias as alterações para o Estatuto, pelo que podemos observar, a real e única intenção de se mudar o estatuto da SEP nesse momento é tornar propício e garantido que se aprove os 3 anos de mandato para presidente, para que a Sra. Leila Pereira seja a sucessora direta do presidente Maurício Galiotte, e sem riscos, uma vez que, caso não haja a mudança no estatuto, ao final do ano, quando se encerra o mandato do atual presidente, um sucessor precisará ser eleito, e a empresária/conselheira (que mistura tanto essas duas coisas) não poderá se candidatar ainda.  E, além disso, esse sucessor teria direito à reeleição, o que seria um risco às pretensões da Conselheira/Patrocinadora/Sócia desde 2015. Portanto, essa modificação no estatuto pela qual ela e seus pares tanto se esforçam, tem como objetivo alterar a dinâmica do processo eleitoral palestrino para favorecer a Sra. Leila Pereira,  e também ao atual presidente, uma vez que ele se utilizará de um benefício do estatuto anterior, que é o da reeleição, somado com o benefício da alteração que pretendem fazer, que é o mandato de 3 anos.   

Não é a toa que a Conselheira/Patrocinadora/Sócia desde 2015 se empenha tanto na campanha pela alteração do estatuto, não é à toa que ela faça todo esse investimento financeiro nessa campanha com muitos “mimos” (recepção em hotéis de luxo, boca livre – muitas pizzas -, uso de camarotes, viagens de jato e, segundo alguns palestrinos andaram publicando, também empréstimos, a juros subsidiados, contratos de prestação de serviço com a Crefisa, com a FAM, promessas de compras de imóveis, aumento da frota de Uber…) para um monte de gente (diretores, conselheiros, associados).

De qualquer forma, é fácil de se perceber, mesmo de longe, que algo não está certo.  Lembra daquelas figuras carimbadas que por perderem regalias, cargos, benefícios, ingressos, viagens… tantas presepadas fizeram durante a gestão Paulo Nobre? Lembra da perseguição ininterrupta ao ex-presidente enquanto ele levantava e reestruturava o Palmeiras, enquanto ele mantinha a Academia e o time blindados de confusões e fofocas – o que não vemos acontecer agora -, e levava a SEP de volta ao caminho dos títulos? Lembra de todos os que o atacavam diariamente,  dos “caciques” que davam entrevistas para vários veículos de comunicação, sempre desmerecendo a sua pessoa e o seu trabalho, jogando a torcida contra a gestão e atrapalhando, muito, o Palmeiras? Lembra dos que ficaram a favor da construtora contra o Palmeiras na questão das cadeiras? Então… perceba como todos esses estão bem satisfeitos agora, e de que lado eles estão. Por que será, né?

Ah, mas votar NÃO para os 3 anos é RETROCESSO, dirão alguns. Nada disso. Retrocesso mesmo é voltar às “velhas práticas” lá nas alamedas.  Votar NÃO para os 3 anos é votar contra o que é imoral, é votar CONTRA A MARACUTAIA… contra o conflito de interesses!  É votar contra a desculpa esfarrapada e oportunista de que “os fins justificam os meios”. É votar contra aquela prática escusa de “vou dar mais X milhões ao clube se o resultado da votação for o que eu quero que seja” (não há ética alguma nisso. Não tem nada de “modernidade” nisso, pelo contrário). E o principal, não se pode alterar um estatuto apenas com o intuito de se favorecer algumas pessoas. O estatuto deve proteger o clube, porque o Palmeiras precisa ser tratado e cuidado como um filho” – não era esse o seu discurso, naquela reunião, poucos dias antes de ser eleito, sr. presidente?

Não bastasse isso, no item 9 desse cardápio do “vote SIM”, está a reprovação das mudanças na composição do Conselho Deliberativo, ou seja, não querem que o número de conselheiros vitalícios seja reduzido, é mole? É a “cadeira cativa” no Conselho… uma vergonha não quererem que esse número seja reduzido. Fique esperto, associado.

Muita gente repete o clichê de que  a Crefisa paga 40 milhões a mais pela publicidade… A mais ela não paga nada.  A Crefisa paga pela PUBLICIDADE EXCLUSIVA no Palmeiras, paga o que essa exclusividade vale, e qualquer outro patrocinador teria que pagar mais para ser exclusivo  – por isso o valor é maior, uma vez que o Palmeiras não pode ter mais nenhum outro patrocinador – e nessa exclusividade não está incluído se apropriar do clube, fazer o que ela bem entender no/com o Palmeiras,  com os rumos do Palmeiras. A Crefisa é uma parceira. O Palmeiras tem também como seus parceiros a Globo, a WTorre e a Adidas (será a Puma a partir de 2019). Imagina a Globo participando  da política do Palmeiras através da família Marinho? Elegendo um deles como presidente do clube? Você, torcedor/associado, gostaria disso? Gostaria que a WTORRE , por exemplo, que foi tão traíra com o Palmeiras, disputando com ele as cadeiras que, por direito, sempre foram do clube, assumisse o poder na SEP? Gostaria de ter o próprio Walter Torre como presidente do Palmeiras e da construtora? Gostaria que ele ou algum dos proprietários da Globo (do Esporte Interativo no ano que vem), ou alguém da Adidas (da Puma), pudesse mudar o estatuto do clube como bem entendesse?

Um dos argumentos usados para que os associados votem SIM é o que diz que  alterar para 3 anos o estatuto permitirá que o Palmeiras possa usufruir da Lei do Incentivo ao Esporte. MENTIRA! O Palmeiras já pode usufruir da Lei de Incentivo, sem necessidade de alteração alguma do tempo de mandato do presidente. A Lei ainda tem o espírito de reduzir os tempos de mandatos e não de aumentá-los.

Ah, mas votar pelo NÃO é votar com o Mustafá, não é? Votar NÃO é votar por um Palmeiras ético. É votar contra o mais do mesmo que tanto atrasou o Palmeiras. E devemos observar… usam o nome Mustafá e a rejeição que a coletividade palestrina tem dele, de acordo com a conveniência. Hoje, a Sra. Leila Pereira tem como seu maior “inimigo” o Sr. Mustafá Contursi, o associando a tudo que vai contra seus próprios interesses (essa tática para se ganhar a simpatia dos palestrinos é velha) – e pensar que até outro dia, ela dava centenas de ingressos para o “inimigo”; e pensar que outro dia mesmo, ela emprestou, sem contrato escrito, R$ 400 mil para a entidade(sindicato) que o “inimigo” preside (segundo ele, foi doação)…

Mas basta puxarmos um pouquinho pela memória… Não faz tanto tempo assim, em 17 de março de 2017, a empresária/Conselheira/Sócia desde 2015, em entrevista para o Jornal Lance, disse:  “O Mustafá Contursi é a alma do Palmeiras. Ele pensa 48 horas no Palmeiras. Eu sou muito grata por concorrer na chapa dele, muito honrada. É um presidente que trouxe momentos de glórias que nenhum presidente trouxe para o Palmeiras. É um dos que mais trouxeram títulos. Ele sempre me apoiou”.

Agora, ela mudou radicalmente de ideia, não? A “alma do Palmeiraxxx”, que pensa 48 horas no Palmeiraxxx, da chapa por onde ela se elegeu, que trouxe tantos momentos de glória para o clube (bem se vê que da nossa história ela não manja muito) e que sempre a apoiou… virou “inimigo”. Essa tática, tão manjada no clube, é usada há tanto tempo. Para ganhar simpatia instantânea basta se declarar do lado oposto ao de Mustafá, em qualquer coisa… mesmo que isso possa ser só um ‘tapeation’ nos mais incautos. Suponhamos que Mustafá, “alma do Palmeiras”, também quisesse 3 anos, quisesse facilitar as coisas para a amiga que ele ajudou a virar candidata… sabendo da rejeição dos palestrinos a ele, bastaria se posicionar a favor da outra opção para conseguir o que queria, não é?

“Ele sempre me apoiou”, disse a patrocinadora/conselheira/sócia desde 2015…  Verdade, ele deu a maior ajuda para que ela, mesmo sem ter o tempo exigido para se candidatar ao Conselho, ou a qualquer outro cargo eletivo, pudesse sair candidata na SEP. E teve coisa ‘esquisita’ nesse apoio, não é mesmo? A candidatura e a eleição da dona da Crefisa foram muito questionáveis. E, para mim,  de todas as ações não muito éticas que rondam a vontade imensa que ela tem de ser presidente do clube (ações que acompanhamos pelas notícias – algumas com uma grande cara de matéria paga por ela mesma), o “jeitinho” dado para que ela saísse candidata foi a pior de todas. Pra mim, foi a “assinatura do recibo”.

Não gostaria que uma pessoa que aceita esse tipo de coisa para se favorecer  venha a ser presidente do meu clube de coração. Fico pensando… o que mais ela poderia aceitar pra se dar bem? Ela mesma havia afirmado em uma entrevista que era associada desde 2015. Com esse tempo de associada não poderia concorrer ao Conselho. Mas conseguiu fazê-lo por causa de uma carta de Mustafá, a “alma do Palmeiraxxx”, o agora “inimigo”, atestando que , em 1996, enquanto era presidente do clube, teria dado à ela um título de associada (de benemérita)… mas sem que se tivesse qualquer documento que comprovasse isso. Nem mesmo a matrícula de associada existia até JUL/2015, quando a Sra. Leila adquiriu um título remido, segundo ela, para ajudar o clube. Antes disso, ela nunca teve carteirinha de associada do clube, nunca pagou taxa de manutenção nem tampouco esteve apta a votar em qualquer eleição na SEP.  Só pôde fazê-lo agora graças à ajuda de Mustafá.

Então, né? O Mustafá é tão isso e tão aquilo (também acho que é)… mas acreditar na palavra dele, sem nada que comprovasse que era verdadeiro o que tinha na tal carta, foi bastante conveniente pra muita gente. E aí não teve o se você está do lado do Mustafá, você está contra o Palmeiras…

Muito cuidado, palestrino! Os associados que não são palmeirenses – e eles existem -, certamente não estão preocupados com nada além do clube social, com piscinas e quadras… não estão nem aí para o futebol. No entanto, o torcedor/associado, que é maioria, graças a Deus, tem que ficar esperto. Se ele se descuidar agora, será só uma questão de tempo para sair de dentro da máquina do tempo… e dar de cara com o passado, tenebroso, que todos nós gostaríamos que nem houvesse existido.

Pelo SIM, pelo NÃO… VOTE PELO PALMEIRAS!

 

 

  

 

“… Doera mais aquele 16 de Julho porque os uruguaios revelaram possuir uma qualidade que faltava aos brasileiros. Com menos football os uruguaios conseguiram a “Copa do Mundo”. Mereceram o título porque lutaram como campeões.O football brasileiro era o melhor do mundo, mas não era o campeão do mundo. Faltava-lhe alguma coisa para ser campeão do mundo. O principal, já que não bastava jogar melhor. Olhou-se para a derrota com um sentido de culpa. A culpa do brasileiro. Que falhara quando não podia falhar. Daí a expressão da conquista do Palmeiras. O Palmeiras só falhou quando podia falhar. Na hora da decisão cresceu. Superando, inclusive, o que depois de 16 de Julho, ficou sendo como o limite das exigências de cada um de nós àquele scratch brasileiro…

… o match final do mundial de clubes exigiu muito mais do Palmeiras do que aquele de 16 de julho do scratch brasileiro…

… foi o que tornou o 2 x 2 da finalíssima uma grande vitória. O QUE FOI PRECISO PARA CONQUISTAR O MAIOR TÍTULO JÁ CONQUISTADO POR UM CLUBE NO MUNDO, O QUE FOI PRECISO PARA DAR UM CAMPEONATO DO MUNDO AO BRASIL, O PALMEIRAS FEZ

… o Juventus foi uma equipe quase que perfeita. E se não chegou a mais, se não atingiu em cheio seus propósitos foi porque teve pela frente uma equipe como a do Palmeiras. A EQUIPE QUE DESPIU A SUA CAMISA PARA VESTIR A DO BRASIL“. – Jornal dos Sports, 1951.

PARABÉNS, PALMEIRAS! HÁ EXATOS 67 ANOS, O PRIMEIRO CAMPEÃO MUNDIAL DE CLUBES! #OrgulhoImenso

Um mês de Copa do Mundo… um mês em que a nossa atenção se desviou do futebol daqui, dos jogadores daqui (se desviou, é maneira de dizer. Ficamos de olho no Palmeiras esse tempo todo), para o futebol das seleções de vários países…

O mês passou, a Copa acabou, a França foi campeã, a vice campeã, Croácia, encantou muita gente, o jogador Revelação foi Mbappé , o Bola de ouro foi  Modrić , o Chuteira de ouro, foi Kane , o Luva de ouro: Courtois , o melhor ator foi Neymar … e algumas lições nos foram transmitidas…

Para os torcedores brasileiros, o grande aprendizado foi concluir (e sentir na pele também) que não funciona mais o “já ganhou” antecipado… O ‘peso da camisa’ até costumava amedrontar algumas seleções ditas “menores” (sem conquistas), mas o peso da camisa não dribla, não lança e nem faz gols, também não defende, não ganha dividida, não desarma, não monta esquema tático, não escala, nem substitui… e, como vimos muito bem, não tem mais bobo e nem amedrontado disputando Copa do Mundo…

Aprendemos com a Copa que não importa quantas conquistas uma seleção possa ter. Se ela não for montada visando, única e exclusivamente, a formação de uma equipe competitiva, forte, a coisa não vai dar muito certo… E se ela for montada com outro$ e “panelísticos” interesses, vai ficar no meio do caminho mesmo. Se um técnico usar o seu centroavante para ficar marcando adversários, fazendo a vez do volante, meio lento, que o técnico manda pro ataque no lugar do centrovante (jênio), o time certamente vai sentir a falta de gols… Se colocar o lateral amiguinho, que no seu clube, com a benevolência das arbitragens, só leva a melhor sobre o adversário usando de muita violência e deslealdade,  numa Copa do Mundo, sem poder contar a arbitragem amiguinha, obviamente ele nada vai produzir e um “Hazard”  vai passear na ‘avenida’ e levar a melhor sobre ele em todas as vezes que o lateral tentar pará-lo… Se uma comissão técnica satisfizer todos os caprichos do seu “melhor jogador”, se der a ele privilégios que os demais não receberam… ao invés de ter um craque brigador, focado, chamando a responsa em campo, vai desperdiçar todo o futebol que esse jogador poderia produzir, e vai ter só um menino mimado em campo, querendo aparecer, e da maneira mais tosca e vergonhosa possível. E, em todas essas situações, o peso da camisa e as muitas conquistas dessa seleção não vão ajudar em nada.

Aprendemos que  sem a ajuda do apito, um “grande” técnico, “ao nível dos melhores técnicos europeus” (quantos repetiram essa blasfêmia) não consegue ganhar de uma fraca Suíça, passa noventa minutos vendo seu time ser contido por uma Costa Rica (graças a Deus que existem os acréscimos, né?), leva um nó – de marinheiro – de técnico belga, e sem conseguir mudar o jeito de o seu time jogar – e fazendo uma campanha idêntica à de Dunga – , acaba se despedindo da Copa mais cedo.

Em relação às regras, aos direitos de uma equipe em uma competição, tivemos um bom aprendizado também, como aconteceu quando a CBF reclamou, na Fifa, da arbitragem de Brasil x Suíça (um pênalti não marcado em Gabriel Jesus, e uma falta em Miranda, que não era digna de reclamação alguma), quando a CBF reclamou de o VAR não ter sido usado a seu favor, quando ela solicitou o áudio das conversas entre os elementos da arbitragem… aí, nós aprendemos que o que a CBF nega para alguns clubes aqui (não todos), o que permitiu que fosse negado ao Palmeiras aqui, ela solicitou para a  Fifa em favor da seleção brasileira, ou seja, o que ela acha que é direito do seu selecionado na Copa do Mundo, ela não entende como direito de um clube nos campeonatos que ela organiza, ou nos campeonatos organizados por federações estaduais que se subordinam à ela.

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A imprensa brasileira na Copa, e a que ficou aqui falando/escrevendo sobre a Copa, também nos ensinou algo… nos ensinou que ela, imprensa, tem uma noção do que é falta, do que é pênalti, e do que é correto em uma competição como a Copa do Mundo, diferente da noção que ela tem dessas mesmas coisas nos campeonatos no Brasil. Ela também acha corretíssimo que a CBF, após o primeiro jogo, ainda na fase de grupos, reclame da arbitragem em uma instância superior – fez coro com a CBF nas reclamações -, mas achou errado, vergonhoso, que o Palmeiras fizesse  o mesmo, DEPOIS DE UMA FINAL DE CAMPEONATO, onde ele foi muito prejudicado e o adversário muito favorecido, com um esquema sujo – comprovado por imagens e leitura labial –  que teve a participação de vários elementos da arbitragem e até mesmo de integrantes da Federação Paulista de Futebol, todos imbuídos da mesma intenção: fazer com que o árbitro anulasse a marcação de um pênalti claro, legítimo em Dudu, e que fora marcado com muita convicção pelo apitador.

A reclamação da CBF na Fifa é justa e corroborada por todos os “jornaleiros”, a do Palmeiras no TJD é “mimimi” e  é ironizada pelos mesmos “jornaleiros” (foi ironizada até mesmo pelo presidente do TJD)… Aprendeu a diferença, amigo leitor?

E, no decorrer da Copa, principalmente quando vieram os jogos eliminatórios, enquanto observávamos lances e as análises sobre esses lances, fomos aprendendo mais coisas…

Aprendemos que o uso do VAR de maneira seletiva, como vimos acontecer na Copa (e como acontece ilegal e não muito disfarçadamente no Brasil), deixando só ao árbitro a decisão de usá-lo ou não, vai continuar permitindo que se beneficie ou prejudique quem se queira beneficiar ou prejudicar. Ou seja, não vai acabar com a roubalheira.

Já na estreia do Brasil tivemos um aprendizado sobre pênaltis, mais especificamente sobre quando um jogador é agarrado pelo adversário na área… Se o lance acontecer na Copa e a favor da seleção brasileira,  é pênalti. E se o árbitro não marcar a infração, a CBF reclama na FIFA, pede VAR, áudio da conversa entre os árbitros, a imprensinha reclama muito também… Se o mesmo lance acontecer no Brasil, em uma final de campeonato, e se for a favor do Palmeiras (claro), aí a coisa muda, e não é falta, não é nada, e o prejudicado tem as suas reclamações totalmente ignoradas pela federação, pela imprensa, até mesmo pela CBF, que, então, se faz de cega e surda,  como se comandasse o futebol de outro país, em um outro planeta.

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Depois disso, um outro lance, em uma outra partida, nos chamou bastante a atenção também e nos ensinou mais uma coisinha… Em uma das partidas, o árbitro marcou um pênalti, depois foi na beira do campo e voltou atrás na marcação (te parece familiar isso?), reiniciando com bola ao chão. O comentarista de arbitragem da Globo não conseguiu entender como isso pôde acontecer…

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No entanto, na final do Paulistão 2018, o Arnaldo Cezar Coelho e todos lá da sua emissora – de outros canais e veículos de comunicação também –  não tiveram dificuldade alguma para entender como – num campeonato onde não é aprovado o uso do VAR – o árbitro parou o jogo marcando  um pênalti, todo convicto da marcação, e DEPOIS DE OITO MINUTOS, e de muita interferência externa (dirigente da FPF usando celular, outro dirigente da federação, que se dirigiu ao campo, delegado, quinto árbitro, quarto árbitro – um passando uma informação (ordem?)  para o outro) voltou atrás na marcação do pênalti que, se convertido poderia mudar a taça de endereço, e deu escanteio.

E o que aprendemos disso foi que “a percepção e entendimento dos profissionais de imprensa mudam completamente de acordo com o campeonato disputado e de acordo com o time que vai ser beneficiado/prejudicado”.

Como aconteceu num outro lance nessa Copa, de onde nos veio (mais) um outro aprendizado…

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Não foi só essa pessoa que fez essa observação… muita gente repetiu a mesma coisa. E foi assim que aprendemos mais umas coisinhas… o “é igual mas é diferente… e o “porque sim”.

O lance da imagem abaixo é pênalti claro, o infrator pega a perna do atacante e depois a bola, e o derruba (defensor que atropela e derruba atacante na área comete pênalti desde sempre)… e todo mundo concorda…

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Mas nesse outro lance (na imagem abaixo), ocorrido em terras brasilis, na final do Paulistão, onde o defensor também pega primeiro a perna do atacante, depois a bola (e, de lambuja, dá mais um chute no outro pé dele), e o derruba, não é pênalti, e a imprensa toda repetiu isso quando o lance aconteceu… esse outro lance “é igual, mas é diferente”. E sabe por que é diferente? “Porque sim”… Essa foi a lição aprendida.

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Na final da Copa, mais uma lição… Sempre discutimos aqui no Brasil sobre a marcação de pênaltis quando há toque de mão, porque as arbitragens aqui nunca assinalam todos os toques… sempre discutimos quando o toque é involuntário, quando não é… Mas, no jogo entre França e Croácia, um toque de mão, totalmente involuntário e inevitável, foi marcado contra a Croácia. Quem torcia para a Croácia reclamava da marcação, quem torcia para a França prontamente afirmava que estava correta a marcação…

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E, então, aprendemos que a orientação da Fifa diz que todo toque deve ser assinalado, mesmo quando for involuntário… os jornalistas faziam questão de lembrar isso para todos os torcedores que reclamaram do pênalti a favor da França.  Sendo assim, muito provavelmente, a informação sobre a orientação da Fifa deve estar vindo a nado para o Brasil e até agora não chegou, porque os árbitros aqui parecem não saber disso, e não marcam todos os toques de mão na área… como fizeram com esse toque aqui, que a imprensa fez absoluta questão de ignorar…

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E as lições não pararam aí. Na Copa, aprendemos até sobre política e sobre políticos…

Enquanto a presidente da Croácia pediu alguns dias de licença – NÃO REMUNERADA (ela fez questão que os dias fossem descontados) – para a companhar a seleção de seu país, e pagou a passagem com o dinheiro do seu bolso… no Brasil, se um deputado eleito pelo povo, assume compromissos como presidente de um clube de futebol e falta a 19 dos 46 dias em que há sessões na Câmara (e recebendo salários e benefícios normalmente. Salários  e benefícios que são pagos com dinheiro dos contribuintes) não há nada errado. Se de cada 10 sessões, ele faltar a aproximadamente 4 isso estará “certo”. Ninguém reclamará…

Aprendemos com isso que aqui é certo o que seria errado no Brasil e vice versa. Aqui, o dinheiro do povo serve para favorecer políticos e agregados, e só não favorece mesmo o povo.

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E com a França campeã da Copa 2018, nós aprendemos que o Brasil agora tem mais companhia no segundo lugar na lista das seleções mais vencedoras. A Alemanha tem 3 Copas, Brasil, França, Itália, Argentina 2 Copas,  e Espanha 1 Copa, e só essas seleções foram campeãs mundiais, afinal, segundo alguns devotos de São Cotovelo, antes disso, o futebol não existia e, portanto, as outras 3 conquistas que o Brasil alega ter, as 2 conquistas do Uruguai, as outras duas da Itália, uma outra da Alemanha, não podem ser computadas, porque  essas conquistas todas são de fax…

E, por fim, a última lição para um monte de gente – pra nós, palmeirenses, foi apenas a confirmação do que já sabemos desde sempre: SELEÇÃO BRASILEIRA SEM JOGADOR DO PALMEIRAS… NÃO GANHA COPA.