Pelos olhos e relatos de meu pai eu ‘vi’ Oberdan jogar… e ele se tornou meu ídolo desde então.

No sábado passado, meu ídolo comemorou 94 anos, e eu tive o privilégio e a honra de poder comemorar com ele e de lhe dar um abraço e um beijo.

Na entrada do salão, o verde-e-branco já se fazia presente, e eu encontrei o aniversariante na sua mesa repleta de amigos, como sempre… Altivo, elegante, bem disposto, atencioso, lá estava Oberdan Cattani, a lenda do Palmeiras… O único remanescente do Palestra Italia…

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A minha palestrina cabeça pira diante dessa constatação. Oberdan faz a ponte com um tempo que eu não vivi, com um Palestra que eu não vi jogar. É como se ele tivesse saído de uma máquina do tempo, ou eu tivesse feito uma viagem até aqueles dias.

Pra mim, é mágico poder segurar aquelas mãos imensas, que fizeram defesas tão importantes, que ajudaram o Palmeiras a conquistar títulos, inclusive um mundial, num tempo em que eu ainda não tinha nascido. Quando estou com ele, nunca deixo de me lembrar que esse senhor, de 94 anos, vestia a camisa do meu time e entrava em campo para fazer valer aquele trecho do nosso hino, “defesa que ninguém passa”. E ele fez isso tão bem… Quem o viu em campo diz que ele foi o mais fantástico de todos, e que pegava a bola com uma mão só, num tempo em que os goleiros não usavam luvas, e que as faltas no goleiro eram permitidas… Num tempo em que se jogava por prazer e por amor… Num tempo em que o atacante do grande rival lhe rasgava a coxa com as travas da chuteira, e ele, que continuava jogando mesmo assim, lhe quebrava algumas costelas no lance seguinte…

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Ele se lembra de tudo, e nos coloca diante do Palestra Italia do qual só ouvimos falar, e é como se estivéssemos vendo acontecer a história do Palmeiras que apreendemos dos livros. Ele defendeu o Palestra que morreu líder e o Palmeiras que nasceu campeão, ajudou o Palmeiras a conquistar o primeiro mundial de clubes e resgatar o orgulho de um país inteiro. Viu o Palmeiras ser aclamado pelo mundo por esse feito. A história da vida de Oberdan, de verdade, se confunde com a história da Sociedade Esportiva Palmeiras. Não dá para contar a história de um sem falar do outro.

Lembro do meu pai me falando dele (ele sempre fala); lembro de como a sua expressão, depois de tanto tempo, ainda parecia maravilhada com as lembranças, com o filme que passava lá em sua cabeça. Oberdan, o ídolo que passou de pai pra filha, que era conhecido como o “goleiro de mãos gigantes”, “muralha verde”, “fortaleza voadora”, e até mesmo “Clark Gable”, devido sua semelhança com o ator americano…

Que foi fazer um teste no Palmeiras, lá no distante ano de 1940, com o exigente técnico Caetano de Domênico, que costumava, durante os testes, jogar a bola com as mãos em direção à meta e, caso o goleiro não a pegasse, perdia a vez para o próximo da fila. Oberdan não só pegou a bola jogada pelo técnico, como o fez com apenas uma das mãos e na maior tranquilidade, para surpresa de Caetano de Domênico. E assim ele foi aprovado para o quadro de aspirantes. E sem salário algum.

O tempo passou e ele completou 94 anos. Com bolo e vela de bola de futebol; com distintivo do Palmeiras e goleiro embaixo da trave, enfeitando a mesa; com champanhe, alegria… com a família e os amigos, com os votos de felicidades de milhões de novos e jovens fãs palestrinos, e com Palmeiras… no coração, no sangue e no hino que tocou depois do “Parabéns a você”.

Auguri, Oberdan Cattani. Tante grazie!

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