Mago-campeão

“Não tem palavras pra explicar o q este clube representa na minha vida,e não falo de futebol. falo de vida, de aprendizado, de 6 anos q me entregue bem ou mau, mas fiquei diante de todas as adversidades, sequestro, agressão. tudo isso me fez querer mais ainda o clube. Sou e por sempre serei agradecido da torcida, do clube, das pessoas q sempre me apoiaram em todos os momentos. fui mto feliz disputando uma segunda divisão pelo clube q amo, voltando o clube onde nunca jamais deverá sair.meu futuro está num outro clube a partir de agora.mas minha adoração por este clube será por toda a vida.goataria muito de ter ficado até velho por aqui mas o clube precisa dessa grana , espero q vcs entendam e vejam q sou um aternamente agradecido por vcs …por sempre agradecido e por sempre porco.” Despedida de Valdivia, via Instagram.

Eu não queria ter que escrever sobre isso, na verdade, não queria que estivesse acontecendo isso, mas, antes da Copa, quando me disseram que o Palmeiras “estava doido para vender o Mago”, meio que me preparei para esse momento – mas de nada adiantou…

E Valdivia vai/foi embora… e até já se despediu da gente… que difícil… perder o cara que é o diferencial do time, ver as esperanças de conquistarmos algo no centenário do clube diminuírem um bocado, e, pra mim, com o agravante de perder também o meu ídolo, que eu adoro e, mais do que isso, que admiro e respeito demais… Como diria Camões: “Num é fácio”…

O tempo dirá se isso foi uma negociação inteligente, se o Palmeiras ganhou com ela e se haverá reposição à altura… mas, penso, que perdemos todos, Palmeiras, Valdivia, futebol e torcida – principalmente as crianças, que adoram o Mago.

Sabe, Mago, pra nós também é difícil encontrar palavras para dizer o que você representa. As pessoas tentam traduzir o que você significa e, observando a variedade de significados que ‘Valdivia’ tem para a maioria dos torcedores, compreendemos o muito de ausência que você vai deixar aqui.

Nos divertimos juntos, sofremos juntos também, e aprendemos a ser mais fortes a superar os momentos difíceis. Foram 3 títulos e um bocado de emoção, unhas roídas, lágrimas de alegria, dribles e passes maravilhosos. Um Paulistão inesquecível, que caiu como chuva farta na terra árida e infértil de uma década, até aquele momento, maldita… Uma Copa do Brasil, conquistada na raça, na fibra, na superação de tantos obstáculos e problemas – até mesmo de um sequestro (e quantos apostaram que você não ficaria depois disso)… e aquele gol mágico diante do Grêmio, que aqueceu o nosso coração e os nossos corpos naquela noite de chuva e frio… gol que nos colocou na final, com a certeza que poderíamos superar qualquer adversidade que surgisse dali pra frente, e, quase sem acreditar naquela felicidade gigante, conquistamos a  Copa do Brasil, que sacramentou o Palmeiras no posto de maior campeão nacional. E teve a famigerada segundona (ela quase nos pegou em 2011, mas você nos salvou), da qual saímos pelas portas da frente, honrados, dignos e campeões (e quantos juraram que você não disputaria a série B). As alegrias que você nos deu, Mago, são pra sempre, ajudaram a escrever algumas páginas da história do Palmeiras e jamais serão esquecidas.

O Paulistão de 2008 não foi o primeiro título que vi o Palmeiras conquistar, mas foi deliciosamente redentor, a Copa do Brasil também não foi a primeira –  foi a mais eletrizante -, portanto, Valdivia, você não foi o meu primeiro ídolo, quero crer que não será o último, mas você é especial, único e muito amado. E sabe  o quanto te respeito e admiro.

Foi um prazer e um privilégio imenso ver, mais uma vez em ação, esse seu talento raro a serviço do meu/nosso Palmeiras. Você é o grande namorado da bola, que se encanta e se rende a você, enquanto tantos outros jogadores não conseguem conquistá-la de jeito nenhum…  Você brinca, faz poesia no gramado, e nunca entrou em campo para não jogar sério, nunca fugiu do pau… e, por isso mesmo, foi tão caçado em campo defendendo as cores do Palmeiras.

Como disse Armando Nogueira, num bilhete que te escreveu, “os medíocres é que detestam o drible” (eles é que o confundem com provocação, deboche), mas, “assim como o sol, ele – o drible – não nasceu pra todos. O drible é um privilégio, e só os eleitos merecem o dom que, por sinal, os deuses te concederam. O drible é invenção que nasce do coração. O driblador é um poeta… e pertence à uma dinastia que foi canonizada pelas canelas de Stanley Mattews, de Garrincha, de Zico, de Júlio Botelho, de Maradona e de tantos outros apóstolos do evangelho do drible”

Você é um poeta, é um Mago sim, na acepção da palavra; quantas vezes lá na arquibancada, nós, torcedores, boquiabertos, olhamos um para a cara do outro e nos perguntamos: “Como foi que ele fez aquilo”? E, rindo, encantados, não sabemos responder, e esperamos chegar em casa para ver o replay. Sim, seus dribles e passes muitas vezes parecem magia…

Você sempre foi o diferencial do nosso time, aquele toque de categoria e inteligência, de futebol arte, que anda tão raro por aqui. Num país com uma escassez tão grande de bons jogadores na sua posição (a selenike, na Copa, não tinha um nesse nível), era você quem nos mostrava que o futebol arte ainda existe, e é muito difícil aceitar que vamos ficar sem nostro Mago agora, que o “nosso futebol arte” vai brilhar em outro clube, que voltaremos à mesmice de um futebol sem magia, que venderam “o melhor 10 do país”, “o cara” do time, tão identificado com o Palmeiras. E como será possível trazer um outro lá de fora, com a mesma competência futebolística sua, sem gastar muito mais do que o Palmeiras recebe agora? Essas coisas são tão difíceis de entender e aceitar. E em pleno ano do nosso centenário, quando, teimosos que somos, sonhamos tão alto…

Ah, você vai fazer muita falta, Mago… e nem imagina quanta; vai fazer falta em todos os jogos, porque, agora, vamos perder até a costumeira esperança de uma jogada mágica  e inesperada, e do gol que surge depois dela. Você vai fazer falta para os atacantes palmeirenses lá na área, porque a bola, na maioria das vezes, não vai chegar mais tão redondinha e açucarada. Só os adversários se contentarão com a sua ausência.

Vão fazer falta as entrevistas com as suas míticas e divertidas declarações, vão fazer falta as suas comemorações, a sua alegria, a sua marra o seu sorriso franco…

Eu sei que nenhum jogador é maior do que o clube. Mas também sei que são os jogadores que ajudam a construir a grandeza de um clube ao conquistarem os títulos e as glórias. Sem eles, a mágica não acontece! Não se conta a história do Palmeiras sem citar seus jogadores e seus feitos pelos gramados. E você escreveu seu nome na história da Sociedade Esportiva Palmeiras.

Boa sorte, Jorgito! Que você seja muito feliz em seu novo clube. Que Deus te abençoe e que a Virgem Del Carmen te ilumine (leva a medalhinha com você). Avisa lá os caras ‘de vestido’, que eles ganharam uma torcedora e vão ganhar muitos torcedores mais (vou comprar uma burca pra ir aí te ver jogar).

Muito obrigada, El Mago,  por todas as alegrias, por ter honrado a camisa do Palmeiras e tê-la vestido com tanta raça. Obrigada por ter aprendido a amar o Palmeiras – eu sei que você o ama sim.

Foi um presente de Deus poder te conhecer, viu?

Eu e a camisa 10 do Palmeiras estamos muito tristes, e vamos morrer de saudade do seu futebol e de você, Mago. Mas não somos as suas únicas admiradoras (você tem milhões de fãs palestrinos), e fazemos nossas as palavras desse santo aqui:

Marcos-msg

Até breve, Mago! Nunca se esqueça de voltar pra casa! #PraSemprePorco

Foi como uma bomba caída sobre nossas cabeças… No dia seguinte à declaração de Brunoro de que não havia possibilidade de Barcos sair por causa da dívida com a LDU, o jogador acertou com o Grêmio. E a gente ficou de bobeira…

Eu não sei quem tem razão, quem acertou/errou e onde acertou/errou, se é que alguém acertou/errou, mas, no dia seguinte, eu chorei vendo o Barcos na TV…

Situação estranha, de amor e ódio. Nosso centroavante, tão querido, talentoso, de futebol lindo e aguerrido; aquele,  de quem enchemos a bola já na estreia – antes mesmo de sabermos como ele se sairia em campo -, aquele, que já fazíamos ídolo, pra quem fazíamos a saudação pirata, pra quem demos tanto carinho, e que não queríamos que saísse, de jeito nenhum, foi embora… e o que é pior, ele quis ir.

O que fazemos agora com as ‘juras de amor’, com o #tamojunto e as ‘fotografias na gaveta’? Como vamos olhar aquela camisa 9 que leva o seu nome guardada no armário?

A parte torcedor de cada um de nós, que não consegue entender o que aconteceu, está arrasada, se sentindo traída… e vai ter que assimilar a porrada de ter que vê-lo com a outra “namorada”, de vê-lo com outras cores… Ele agora é o ex…  A gente xinga esse ex de tudo quanto é nome, diz que a nova namorada dele é feia, gorda, burra, tem a b*%nda caída e, ainda assim, continua morrendo de dor de cotovelo e chorando escondido, com o coração doendo de saudade. Afinal, o Pirata era nosso, e nos orgulhávamos disso.

Mas, sejamos racionais e francos; desde o ano passado, sabíamos que ele queria sair, que ele não queria, e não iria jogar a série B de jeito nenhum, por medo de perder a visibilidade (vira e mexe tinha um papo rolando sobre isso) e não ser mais chamado pela seleção argentina. Visibilidade que o Palmeiras lhe proporcionou – se não tivesse vindo pra o Palmeiras, não teria vestido a camisa da seleção argentina nem a pau. Estava até se naturalizando equatoriano para poder jogar na seleção de lá. Será que Barcos passou a se achar o último tango do bordel?

Segundo Brunoro, o atleta tinha pedido para ser informado de qualquer proposta que chegasse, o que nos leva a pensar que ele estava mesmo interessado em se transferir. O Grêmio fez a proposta, o Palmeiras a repassou ao jogador, ele gostou e a aceitou rapidinho… assim como poderia ter recusado (Valdivia já recusou várias). Isso é que doeu mais. Nós queríamos que ele tivesse recusado, queríamos que tivesse havido uma maneira dele ficar, queríamos que Brunoro tirasse um ás da manga e não deixasse o Pirata ir embora. Mas nada disso aconteceu…

Elogiávamos tanto a frieza de Barcos na área e, agora, nos lamentamos que ela estivesse presente também na hora de negociar. Mas ele é um profissional, que escolheu o que imagina ser o melhor pra ele, pra sua família e carreira.  Só achei que ele não precisava vir com esse blá blá blá de “querer ajudar o clube que está em situação financeira difícil”, afinal, não pensou nisso quando aceitou aumento há uns meses atrás.

E, por falar em aumento, nossos problemas atuais começaram quando Tirone ofereceu um aumento pro jogador e depois o deixou sem receber. Quatro meses de salários não pagos, que davam ao atleta a possibilidade de entrar na Justiça contra o Palmeiras. Corríamos, sim, o risco de perder o jogador sem ganhar um centavo. Tirone deixou o Palmeiras quebrado, sem nem mesmo poder contar com algumas receitas, recebidas em adiantamento, na gestão anterior. E o fanfarrão ainda queria contratar o Riquelme!

Resumo da ópera: Barcos não queria jogar a série B, já tinha dito isso antes. No entanto,  imaginamos que ele ficaria ainda um tempo aqui, por causa da vitrine da Libertadores. Só que o Grêmio carimbou a sua vaga na competição…

E em meio à tantas especulações e à tanta falta de informação, confesso que me questionei… Porque o Palmeiras não disse ao Grêmio: Quer o Barcos? Paga e leva. Ou ao Barcos: Quer sair? Paga a multa e vai com Dios! Nós é que tínhamos a mercadoria valiosa que o outro tanto queria. Mas sou obrigada a reconhecer, não estávamos em posição de dar as cartas, de bater o pé com o atleta, e ele e o Grêmio sabiam disso.

Apesar da tristeza imensa de perder o Pirata, a negociação, a princípio, parecia boa. Já que a saída era inevitável, o Palmeiras receberia 5 jogadores para “engordar” o elenco “magrinho”, as dívidas com Barcos (2 milhões e 150 mil reais) e com a LDU (1,5 milhão de reais) seriam pagas, e o Palmeiras ainda ficaria com alguns milhões. Computando os custos dos jogadores (ainda que a maioria seja por empréstimo, isso tem um custo), me pareceu o melhor que se podia arranjar.  Eu sei que estávamos perdendo um ótimo jogador, titular, querido; sei que estávamos reforçando um time rival na Libertadores e recebendo jogadores reservas desse rival, mas, com o rombo deixado pela gestão anterior, com as dívidas com Barcos e com a LDU, como dificultar a saída de quem estava com a faca e o queijo na mão? Como cobrar a multa de 70 milhões, se Barcos estava com 4 meses de salários atrasados? Não tínhamos muita escolha, e saber isso é que me faz não querer estrangular alguém.

De repente, o que nos parecia ter sido a melhor opção, virou um pesadelo. Já não bastava a dor da perda, veio a recusa de Marcelo Moreno e as declarações ridículas e ofensivas ao Palmeiras, por parte do seu pai, que jura que é pai de um  “Cristiano Ronaldo”, versão boliviana, que é reserva do “Louro” José no Grêmio e reserva na “poderosa” e “vitoriosa” seleção da Bolívia (e depois, o fracassado é o Palmeiras). O tal pai, prepotente e imbecil, virou a sua artilharia para o Palmeiras quando, na verdade, quem desvalorizou o “Cris”, fazendo dele moeda de troca, fazendo-o valer uma ínfima parte do valor do passe de Barcos, foi o seu próprio clube, o Grêmio. O pai do moço tinha que ter ficado bravo lá com os gaúchos.

A partir disso, virou um caos, com todo mundo atirando pra todo lado e se perguntando: Como entregamos o Pirata, sem ao menos ter acertado com os jogadores que viriam pra cá? Que difícil aceitar uma mancada dessa justo de Brunoro, cuja contratação foi pedida por 12 entre cada 10 palmeirenses.

E então, o que era certo, passou a ser errado. Nas bocas de muitos, as pessoas corretas, passaram a ser incorretas… passaram a ser incompetentes. E aí, os torcedores, ansiosos por ver o time do Palmeiras da maneira que sonham, passaram a reclamar, a ofender, a acusar (eu também sonho com um time ideal, mas sei que, gostemos ou não, vamos ter que esperar, e a culpa disso não é de quem chegou agora, e sim de quem fez todo o estrago antes)… outros, ainda inconformados com alguns privilégios perdidos, ou, quem sabe, com privilégios antevistos e frustrados, se aproveitaram, e ainda se aproveitam, para colocar mais veneno no coração ferido do torcedor. Até Tirone se achou no direito de fazer críticas! Logo ele, que despachou Pierre para trazer Daniel Carvalho; logo ele que fez contratações inimagináveis, e nunca explicadas, com o São Caetano; logo ele QUE REBAIXOU O PALMEIRAS (tem gente que parece achar isso menor) e, ainda por cima, foi curtir uma praia no dia seguinte.

Talvez pudéssemos ter lucrado mais na saída, inevitável, de Barcos… talvez, tenha sido uma negociação desastrada … talvez tenha sido o que se podia fazer, diante da situação que nos deixou a administração anterior… Talvez tenha sido uma baita mancada  (será que não tinha mesmo outro jeito, Brunoro?)… Talvez…

De qualquer maneira, eu continuo acreditando que os dirigentes querem, sim, acertar; continuo confiando e aceitando que, primeiro, as estruturas do Palmeiras sejam fortalecidas, pra depois se fortalecer o resto. Belluzzo tentou fazer o contrário, ficamos tão felizes e deu tudo errado! Já aprendemos que de nada adianta usarmos uma bela maquiagem, ou postarmos uma imagem photoshopada em nosso ‘perfil de time de futebol’, porque isso serve apenas para enganarmos a nós mesmos.

Não vai ser fácil, e nós já sabíamos disso antes mesmo que alguém ocupasse o lugar de Tirone; o remédio para a cura da doença que consome o Palmeiras há décadas vai ter algumas doses amargas (essa está sendo terrível de engolir)… Mas há de ser com ele que o Palmeiras vai se reerguer.

E, por mais difícil que seja, nós vamos chegar lá!