“Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica…” –
Mario Quintana
.
O Palmeiras dá uma tropeçada – quando podia tropeçar, quando tinha vantagem que lhe permitia perder -, e parte da torcida se ‘agarra à pedra’… abdica de raciocinar e, guiada pelo medo e pelo não saber lidar com a frustração, caso ela aconteça, desce os degraus do sonho e vai despertar todos os monstros…
Que escarcéu! E quanta incoerência… Alguns torcedores – pra lá de pessimistas – vociferam contra alguns jogadores, se descabelam e fazem parecer que as posições na tabela foram invertidas, que é o Palmeiras quem está 5, 6 e 7 pontos atrás do líder, e não que o Palmeiras continua na liderança, com vantagem sobre os demais.
A 5 rodadas do final do campeonato, é melhor ter 5 pontos a mais do que o segundo colocado, ou ter 5 pontos a menos do que o primeiro? Será mesmo que preferiam que o Palmeiras ocupasse qualquer outra posição que não fosse a que ele ocupa agora?
E pensar que a derrota na Vila foi a única do time nos últimos 16 jogos. E ela aconteceu porque , visivelmente, entramos em campo para empatar. O resultado certamente teria sido outro se a nossa postura em campo fosse mais ofensiva, ambiciosa, e se errássemos menos passes também. Normalmente, jogar pra empatar não funciona, mas quase que deu certo essa falta de ambição do nosso time e do nosso técnico. O Santos não jogou nada, nós também não jogamos nada , não atacamos, só que resolvemos tomar um gol pra lá de besta e perdemos o jogo.
Parte da torcida do Palmeiras, ao mesmo tempo que gosta de bradar o “aqui é contra tudo e contra todos”, basta um insucesso, uma expectativa frustrada, já vem com a ladainha que “o Palmeiras gosta de se auto sabotar”, de que “ele adora perder pra ele mesmo”, que “ele sempre faz dessas” e que “é por isso que a torcida não confia”…
Insucessos, títulos perdidos, fazem parte da história de qualquer time. Mas será que perdemos tantos ” títulos que estavam praticamente ganhos” assim? Será que o Palmeiras sempre faz dessas? Nos títulos que conquistamos, ‘passamos o carro’ em todo mundo mesmo, sem nenhuma escorregada?
Na maioria das vezes em que chegou, o Palmeiras se sagrou campeão e não o contrário como fazem parecer alguns. Não fosse assim, ele não seria o maior campeão do Brasil, o Campeão do Século.
Vejamos algumas das últimas conquistas mais ‘recentes’, aquelas das quais nos lembramos, as que acompanhamos, ou as que vimos nossos pais acompanharem e torcerem…
Campeonato Brasileiro de 1972 – PALMEIRAS CAMPEÃO
30 Jogos – 16V – 10E – 4D /// (52 gols marcados e 13 sofridos)
Média de gols marcados: 1,53/J – Média de gols sofridos: 0,63/J
Melhor série sem perder: 12 jogos / Pior série sem vencer: 4 jogos
O time campeão do Palmeiras, da inesquecível e consagrada Academia, entre outros resultados, obteve uns placares que, hoje em dia, levariam o torcedor à loucura: 0 x 0 com o Nacional-AM, 2 x 2 com o ABC, 1 x 1 com o Sergipe; perdeu do Corinthians, do São Paulo, do Santos e do Coritiba. “Salto alto” seria a coisa mais amena que diriam após esses resultados.
Campeonato Brasileiro de 1973 – PALMEIRAS CAMPEÃO
40 Jogos – 25V – 12E – 3D /// (46 gols marcados e 19 sofridos)
Média de gols marcados: 1,3/J – Média de Gols sofridos 0,33/J
Melhor série sem perder: 22 jogos / Pior série sem vencer: 4 Jogos
O time campeão de 1973, a temida Academia, que parava até o Santos de Pelé, deu as suas escorregadas também. Perdeu do São Paulo, Guarani e Grêmio; empatou, sem gols, com o Sergipe; ganhou (só) por 1 x 0, em casa, do América-RN, da Ferroviária, em Araraquara, também. Circunstâncias de um campeonato, que nem de longe foram determinantes para o resultado final.
Campeonato Brasileiro de 1993 – PALMEIRAS CAMPEÃO
22 jogos – 16V – 4E – 2D /// (40 gols marcados e 17 sofridos)
Média de gols marcados: 1,82/J – Média de gols sofridos: 0,77/J
Melhor série sem perder: 9 jogos / Pior série sem vencer: 2 jogos
Marcou gols em 20 jogos e sofreu gols em 18.
O Palmeiras, que se classificou no Grupo B disputando 20 jogos – os outros dois jogos foram as finais -, perdeu duas vezes para o Santos (3 x 1, fora, e 0 x 1, em casa) e, das 14 vitórias obtidas no grupo, 7 delas tiveram placares com apenas um gol de diferença (4 jogos com placar de 2 x1, 2 jogos com placar de 1 x 0 e 1 jogo com placar de 3 x 2).
O time do Palmeiras era sensacional, superior aos demais, de verdade – e isso não está em discussão aqui – , mas, ainda assim, teve várias vitórias com placares apertados. Hoje em dia, seria uma choradeira infinita pelos gols perdidos e muita crítica para quem, por acaso, tivesse desperdiçado algumas chances..
Campeonato Brasileiro de 1994 – PALMEIRAS CAMPEÃO
31 jogos – 20V – 6E – 5D /// (58 gols marcados e 30 sofridos)
Média de gols marcados: 1,87/J – Média de gols sofridos: 0,97/J
Melhor série sem perder: 14 jogos / Pior série sem vencer: 4 jogos
Marcou gols em 28 jogos e sofreu gols em 22
E sim, o time maravilhoso do Palmeiras campeão de 1994, cheio de craques, também dava umas rateadas… perdia algumas partidas. Perdeu para o Paysandu, Portuguesa, Guarani, Flamengo, foi goleado pelo Fluminense… teve uma vitória bem magrinha (1 x 0) sobre o União São João… Essas coisas fazem parte, mas… ah, se fosse agora…
Libertadores 1999 – PALMEIRAS CAMPEÃO
14 jogos – 7V – 2E – 5D /// 24 gols marcados e 18 gols sofridos
Média de gols marcados: 1,71/J – Média de Gols Sofridos: 1,29/J
Melhor série sem perder: 4 Jogos / Pior série sem vencer: 3 jogos
E todos sabemos que não foi fácil essa conquista. Todos sabemos que foi no talento dos jogadores, do técnico, mas foi também na raça, no peso da camisa; foi com o coração e a alma, foi com o amor da torcida. Derrota fora, na semifinal, vitória em casa; derrota fora, na final, vitória com a mesma vantagem em casa… e decidida nos pênaltis… sacramentada no erro de Zapata… E os torcedores todos acreditando no time… torcendo, apoiando (rezando)… como deve fazer quem se diz torcedor.
Copa do Brasil de 1998 – PALMEIRAS CAMPEÃO
12 Jogos, 6V – 4E – 2D /// 21 gols marcados e 9 gols sofridos
Média de gols marcados: 1,75/J – Média de Gols Sofridos: 0,67/J
Melhor série sem perder: 5 Jogos / Pior série sem vencer: 4 jogos
Só conseguimos uma única vitória fora de casa no campeonato – contra o Sport. Nas semifinais, e nas finais também, a coisa foi parelha, apertada. O que dizer daquele gol, tido como ‘espírita’ de Oséas, na segunda final (tínhamos perdido a primeira)? O que dizer daquela conquista sobre o forte time do Cruzeiro?
Copa do Brasil de 2012 – PALMEIRAS CAMPEÃO
11 Jogos – 8V – 3E – 0D /// 23 gols marcados e 6 gols sofridos
Média de gols marcados: 2,09/J – Média de Gols Sofridos: 0,55/J
11 jogos sem perder
E quem diria que o time, que uma parte tão grande da torcida achava fraco (alguns jogadores eram fracos mesmo), fosse se sagrar campeão, não é mesmo? Quem diria que o time que “está sempre se auto sabotando”, que “sempre faz isso”, o time “que é o culpado por não confiarmos nele”, fosse superar a falta de talento de alguns, fosse superar apendicite, sequestro, a falta de sua casa no campeonato, a bagunça administrativa dos seus dirigentes, o ambiente sempre conturbado, as fofocas, o fogo-amigo, fosse superar a desconfiança de tanta gente?
Quem diria que ele fosse ganhar do Grêmio lá no sul e, na partida da volta, fosse aguentar porrada, pisão, soco na cara, expulsão mandrake (Henrique levou um soco e foi expulso, lembra?) e, com um gol maravilhoso de Valdivia – tão perseguido por uma parte da torcida – saísse com a vaga para a final?
Quem diria que nas partidas finais o time seria prejudicado pela arbitragem de novo – pênalti não marcado sobre Valdivia, na primeira partida; pênalti não marcado sobre Henrique, no segundo jogo; com a expulsão de Valdivia, em Barueri, por falta cometida no jogador que, segundos antes, o agredira com um chute e não recebera punição alguma – e, ainda assim fosse conquistar o título?
Quem diria que ele fosse sair de Curitiba campeão com um gol de Betinho? A estrela de campeão já estava até pintada na parede da sede da torcida adversária…
É esse mesmo o time que faz a gente desconfiar dele?
Copa do Brasil de 2015 – PALMEIRAS CAMPEÃO
13 Jogos, 8V – 3E – 2D /// 25 gols marcados e 14 gols sofridos
Média de gols marcados: 1,92/J Média de Gols Sofridos: 1,08/J
Melhor série sem perder: 9 Jogos
Essa foi ontem mesmo… todo mundo lembra… todo mundo sabia das dificuldades… todo mundo viu o Palmeiras empatar com o Sampaio Correa, empatar com o Asa – e ganhar dele fora só por 1 x 0… Vimos o pênalti não marcado em Jesus, lá no sul, os dois gols irregulares do Inter aqui… todo mundo viu o gol, legítimo, de Amaral, anulado no RJ, diante do Fluminense… todo mundo viu a imprensa fazendo o Santos campeão antes da hora, os deboches, o pênalti em Barrios, não marcado lá na Vila…
Todo mundo viu a força de se desejar algo ardentemente, a capacidade de se superar, todo mundo viu o Prass fazer ainda mais do que o muito que ele já fazia no time… todo mundo viu a mágica de se acreditar… todo mundo viu o sonho se realizar na força de milhões, na garra e entrega de um time, no amor de uma torcida…
E é sério que tem gente fazendo o contrário agora? Que prefere atacar o Palmeiras, seus jogadores, justo quando faltam 5 partidas para acabar o campeonato e o Palmeiras fará três delas em casa? Justo quando o Palmeiras é líder, com vantagem de 5 pontos sobre o segundo colocado e 86% de chances matemáticas de conquistar o título? Quando mais duas vitórias praticamente lhe darão o título? É sério que tem palmeirense sem coragem de abrir o peito à possibilidade de ser feliz, só pelo medo de não dar certo? Que não vê que a nossa campanha atual em nada fica devendo às campanhas vitoriosas de outros tempos? É sério que existe torcedor que prefere se resguardar de um revés, que, matematicamente, tem 86% de chances de não acontecer? É sério que ainda não aprenderam a acreditar no Palmeiras?
Que pena…
Ninguém pode saber como acabará o campeonato, ninguém pode bater o martelo sobre quem será o campeão. Todos podemos imaginar… E já dizia Shakespeare: “O horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado”.
Se é para imaginar, eu imagino o melhor, sempre… o corredor verde, luzes, fumaça, a Palestra Italia lotada de gente “verde”, o Allianz Parque explodindo de felicidade, os jogadores do Palmeiras se abraçando, comemorando… Cuca agradecendo à Nossa Senhora… os torcedores palmeirenses chorando de alegria… o enea conquistado…
A minha alma está com você, Palmeiras, e ela quase ouve os gritos de “é campeão” que estão guardados no meu coração… e a minha alma vai acreditar em você, Palmeiras, até o último minuto… até o juiz apitar o final da última partida… do último campeonato…
<3