Nos deixou hoje, aos 73 anos, o ex-jogador e eterno ídolo do Palmeiras, Ronaldo, da segunda Academia. Ele estava hospitalizado há 20 dias, em Belo Horizonte, depois de ter sofrido uma hemorragia gástrica.
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Ronaldo Gonçalves Drummond…
Bicampeão brasileiro em 1972 e 73, campeão paulista em 1972 e 74 pelo Verdão… Ficou no Palmeiras de 1972 a 1975. Fez 184 jogos (104 vitórias, 56 empates e 24 derrotas) e marcou 31 gols.
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Ajudou o Palmeiras a escrever páginas lindas da sua história – a campanha perfeita em 72 (o Palmeiras ganhou 5 torneios diferentes), os gols decisivos na reta de chegada na conquista do Brasileiro 73 – e a mais marcante das páginas que ele ajudou o Alviverde a escrever foi, sem dúvida, no Campeonato Paulista de 1974.
Era 22 de Dezembro, quase Natal… decisão do campeonato paulista… com o rival Corinthians, que estava na fila desde 1954… A primeira partida, que tinha sido disputada no Pacaembu, terminara empatada em 1 x 1…
Os torcedores rivais ansiosos, confiantes em Rivellino, Zé Maria, Vladimir… e acreditando que a fila de 20 anos terminaria naquele dia, eram a grande maioria no Morumbi… mais ou menos 90% do estádio estava tomado por eles… mas o Palmeiras tinha um time de craques, que vinha de uma rotina incansável de conquistas de títulos… e, naquela época, o rival não costumava chegar até as finais.
Ronaldo, que substituía César Maluco, quase ficou de fora da final… Ele mesmo contaria depois como foi que conseguiu entrar em campo, depois da “paulistinha” que levara de Zé Maria no primeiro jogo: “Tive um grave problema muscular na coxa no primeiro jogo. Minha perna inchou demais. Nem o pé no chão eu conseguia colocar. O Brandão (técnico) me chamou e disse: “Mineiro, vamos para o jogo”. Eu respondi que não tinha como, mas ele disse que ia dar um jeito. Dentro de mim, sabia que isso seria impossível. O Brandão quebrou todos os tabus da medicina. O massagista e o Brandão entraram no meu quarto com uma garrafa de água mineral, jogaram em mim e começaram a espremer a região com muita força. O Brandão segurava a minha perna (porque doía muito), e o massagista esfregava, fazia massagem como se tivesse mexendo em massa de pastel. Fiz isso até de madrugada. Quando acordei no domingo, estava zerado”.
E não foi à toa que Ronaldo estava zerado no domingo… Certamente ele, (naquele timaço de Leão, Ademir da Guia, Dudu, Luís Pereira, Alfredo, Zeca, Jair Gonçalves, Leivinha, Edu, Nei) estava predestinado para o que aconteceria… para a conquista que até mesmo Ademir da Guia já afirmou ser a mais importante da sua carreira.
O ambiente era hostil antes da partida – Leivinha recebera até uma carta com ameaça de morte. O jogo seguia 0 x 0… Aos 24 minutos da segunda etapa, Ronaldo marcaria o gol que calaria mais de 100 mil alvinegros, o gol do título do Campeonato Paulista 1974… o gol que enlouqueceu a torcida palmeirense – quem estava no estádio, quem acompanhou no rádio (e depois na TV) não esquece jamais a emoção enorme que foi aquela conquista…
“Zum, zum, zum… é 21!” cantavam os palestrinos para os rivais, que viam as fila aumentar para 21 anos… o “presente de Natal” verde chegava mais cedo…
Depois do jogo, por segurança, o pessoal do Palmeiras colocou Leivinha e Ronaldo num carro todo fechado. Dois policiais foram dirigindo (com metralhadoras no chão) e, assim, eles saíram do Morumbi. Ronaldo foi levado para casa com a orientação para sair só no dia seguinte.
Foi uma final histórica! Foi uma conquista arrebatadora! Ronaldo, o gol espetacular, o silêncio dos rivais, o título, a alegria daquele dia ficaram guardados nos corações palmeirenses… pra sempre.
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Você foi grande, Ronaldo. Honrou a camisa do Palmeiras. Os palmeirenses nunca esquecerão de você. Descanse em paz no Olimpo Verde. E que o seu caminho no outro Plano seja de muita luz.
Muito obrigada.