VII – BUSCANDO VAGA NUM SONHO

“Nada de grandioso se realizou no mundo sem paixão” – Georg Wilhelm Friedrich Hegel

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Após a última rodada da primeira fase, quando os confrontos das semifinais ficaram definidos, e os dois times brasileiros teriam que se enfrentar, muita gente passou a apostar as suas fichas todas no Vasco da Gama. Afinal, além de ter a base da seleção brasileira em seu plantel, ele vinha de três vitórias, duas por goleada, e o Palmeiras tinha sido derrotado pelos italianos. Uma goleada que ninguém esperava, e que custara até a posição do goleiro Oberdan Cattani – ele acabou “pagando o pato” e sendo sacado do time para a entrada de Fabio Crippa.

A derrota do Palmeiras  – sem três de seus jogadores titulares – para o Juventus (ITA) tinha sido um acidente de percurso, e boa parte dos torcedores brasileiros sabia disso – os palmeirenses, principalmente -, fora do Brasil, os que acompanhavam as notícias do Mundial de Clubes Campeões também conheciam a força do futebol do Palmeiras, no entanto, aqueles que passaram a achar que ficara fácil para o Vasco, que achavam que o Palmeiras iria se abater com a derrota, iriam se conscientizar mais à frente – dali a uns dias – de quanto estavam enganados.

Os dois maiores times do país, naquele início de década, iriam se enfrentar… e valendo uma vaga na final do primeiro Torneio Mundial de Clubes. Os brasileiros, que depois do mundial de seleções de 50, ficaram tão murchinhos em relação a futebol, começavam a soltar as amarras de seus corações…  sem que eles mesmos notassem, estavam eufóricos agora… entusiasmadíssimos  com a “nova Copa do Mundo”. Era esse mesmo o clima…

E seria um “prélio grandioso, envolvendo dois quadros categorizados, credenciados pelos títulos que ostentam. O Vasco, bi-campeão carioca e invicto na Copa Rio. O Palmeiras, Campeão Paulista. Herói do torneio Rio-São Paulo e agora com uma derrota no certame em que se acha empenhado” – Jornal dos Sports, 11/07/51  – a notícia não disse, mas o Palmeiras era também o bi-campeão da Taça Cidade de São Paulo. A disputa mexia com a paixão de todo um país… com a paixão de todos os torcedores do país… mexia com corações ainda machucados pelo que acontecera na Copa do Mundo…
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Seriam dois jogos entre as equipes, no que chamamos hoje em dia de “mata-mata”. O primeiro, no dia 11/07, às 21h00; o segundo, nos dias 14 e 15/07, às 15h00. Áustria e Juventus jogariam as suas partidas no Pacaembu para decidir uma das vagas à final – a segunda partida entre os dois seria no sábado (14/07). No entanto, as partidas semifinais que mais interessavam aos brasileiros seriam disputadas no Rio de Janeiro entre Vasco e Palmeiras, que jogariam a segunda partida no domingo (15/07). O Palmeiras até que tentara levar uma das partidas para São Paulo, mas não conseguira.

No entanto, para Juventus e Austria foi permitida a mudança de local de jogo na segunda partida entre eles. A notícia do jornal carioca dizia: “Juventus e Austria telegrafaram ao presidente Mario Pollo pleiteando realizarem, nesta capital, no sábado,  o seu segundo encontro semifinal pela “Copa Rio”. A Comissão Diretora reuniu-se para tratar do assunto e após entendimentos pelo telefone com a Federação Paulista e com os dirigentes dos dois clubes interessados ficou assentado que Austria e Juventus jogarão hoje, em São Paulo, como estava determinado pela tabela. No sábado, porém, os dois clubes virão jogar aqui, no Maracanã, à tarde, encerrando a luta semi-final do Torneio dos Campeões”

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Esses dois jogos entre Palmeiras e Vasco se tornariam a maior de todas as disputas entre Rio e São Paulo (o Rio-São Paulo era, na época, o maior torneio do país)… um dos dois times estaria na final do Mundial dos Campeões. Um dos dois times iria tentar buscar para o Brasil o que ele ainda não tinha conseguido conquistar, e que lhe escapara no trágico 16 de Julho do ano anterior… um título de campeão mundial. Que responsabilidade…

A Copa Rio, contrariando os pessimistas de plantão (sempre tem uns desses, em qualquer época), já era um sucesso, técnico e financeiro. E as rendas, como se fossem as rendas de uma Copa Jules Rimet, já não deixavam nenhuma possibilidade de prejuízo. Os torcedores já tinham se dado conta de que estavam diante de grandes equipes do futebol mundial. O Juventus, reabilitando a Azzurra, tornava-se a grande atração dessa fase da Copa, era o que dizia a publicação do Jornal dos Sports de 11/07/51- Êxito da “Copa Rio”- Vitória do football brasileiro.

E, na coluna de Vasco Rocha, no jornal “O Globo Sportivo”, edição 00649 (1),  de Julho de 1951 – onde um dos diretores era Roberto Marinho (ele ficaria bastante conhecido, anos depois, por ser o fundador e proprietário da Rede Globo) – falava-se também que os objetivos do “Torneio Mundial de clubes campeões” haviam sido alcançados, que  a primeira fase do torneio oferecera ao público espetáculos com muita semelhança daqueles de que foram pródigas as partidas da Copa do Mundo”.

 

E o Palmeiras chegava ao Rio de Janeiro para a semifinal, e chegava meio desacreditado aos olhos de muitos que davam como (quase)  certa a vitória do Vasco e também a sua classificação à final. No entanto, nem todo mundo achava que o Palmeiras já era “carta fora do baralho”.  Mario Julio Rodrigues, em sua coluna no Jornal dos Sports, avisava:

“Ontem chegou o Palmeiras. Aos olhos de muita gente com cara de concorrente desclassificado. Com cara de concorrente sem maiores pretensões. O Vasco, porém, que se precavenha, que entre em campo com a mesma energia com que tem entrado em todos os matches desta copa sensacional. O Palmeiras pode ter tido uma tarde negra, mas nem por isso deixa de se constituir em uma ameaça. Em uma grande ameaça, por sinal. Não foi por perder estrepitosamente para o Juventus que o Palmeiras deixou de ser uma grande equipe. Como não foi por ser goleado pelo Juventus que o Palmeiras deixou de ser o campeão paulista. O campeão paulista ou o campeão do Rio-São Paulo. Todos os magníficos “cracks” que lhe deram estas extraordinárias conquistas aí estão. E em plena forma. Nomes como Oberdan, Juvenal, Valdemar Fiume, Luiz Villa, Lima, Liminha e do fabuloso Jair dispensam qualquer comentário. O Palmeiras está na terra. E está na terra mais perigoso do que nunca. Porque nada como uma grande vitória para apagar uma grande derrota”.  – RODRIGUES, Mario Julio –  Êxito da “Copa Rio” –  Uma vitória do futebol brasileiro – Jornal dos Sports, 11/07/51.

Em sua coluna, publicada no Jornal dos Sports do mesmo dia 11/07, Vargas Neto também fazia um alerta e, entre outras coisas, avisava: “Cuidado com o Palmeiras, que ele anda mal intencionado. (…) Se alguém duvidar do que eu digo, que vá ao Maracanã e veja como vai jogar o Palmeiras contra o Vasco.” 

Sábias e proféticas palavras… Sabiam das coisas os dois. Não se pode subestimar nunca a força da camisa esmeraldina, a força dos que a vestem (ainda mais, quando seu elenco está recheado de craques, como era o caso no torneio mundial dos campeões)… não se pode subestimar aqueles que levam a paixão a campo… nós, palmeirenses, sabemos disso desde sempre, e, naquela época, os profissionais da imprensa já sabiam também.

Mas era semifinal do Mundial de Clubes Campeões… e não se falava em outra coisa no universo futebol. Aqui no Brasil a ansiedade era muita, e na Europa também. Fosse qual fosse o resultado nesses jogos, uma coisa era certa: um time brasileiro e um europeu decidiriam o primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões, e um deles conquistaria o cobiçadíssimo troféu, a “Copa Rio”. E quais seriam esses finalistas? Vasco ou Palmeiras? Áustria ou Juventus?

Os torcedores brasileiros estavam eufóricos, arriscavam palpites… Palmeiras e Vasco se mantinham confiantes, mas cada qual respeitando o adversário…

A imprensa foi ouvir os vascaínos a respeito do grande jogo. “O ambiente cruzmaltino, relatava o jornal, era magnífico. Os jogadores estavam bem dispostos e compenetrados da responsabilidade da missão”. Para o técnico Oto Glória, por exemplo, o Palmeiras em circunstância alguma deixou de ser aquele rival combativo e respeitável de sempre”.  Oto Glória reconhecia que o Vasco atravessava um período favorável, mas ele sabia, e dizia, que para superar o campeão paulista seria necessário prosseguir na luta, com a mesma elevação de sempre. O Vasco não poderia vacilar porque, um tropeço, naquela altura do campeonato, atrapalharia a brilhante campanha do time carioca. Danilo, Jorge, Barbosa, Augusto, Dejair, Maneca e todos os demais vascaínos concordavam com ele. Todos reconheciam as qualidades técnicas excepcionais do Palmeiras e sabiam que não poderiam economizar energias. Os vascaínos queriam a vitória e a manutenção da invencibilidade na competição.
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No lado palmeirense, a disposição era a mesma e todos estavam confiantes, e dispostos a darem o máximo de si mesmos… além do talento, ficava claro que a paixão, a fibra palestrina, também entraria em campo. Liminha dizia: “O Vasco é um grande adversário, mas não há de faltar espírito de luta para a vitória”. Juvenal concordava, e acrescentava: “O Vasco é sempre o Vasco. Em qualquer circunstância é um grande adversário, vamos porém dar o máximo para uma completa reabilitação”. Rodrigues, confiante, afirmava : “Com boa vontade tudo há de chegar favorável às cores do Palmeiras”… Luiz Villa, o magnífico “pivot” argentino do time de Parque Antártica, era mais discreto em seu comentário e afirmava: “o footbal é no campo e não se ganha com conversas”.

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O Vasco queria manter a invencibilidade, o Palmeiras queria a reabilitação… e as duas equipes, igualmente, queriam, muito,  a vaga na final do mundial… por isso, estavam todos empenhados em buscar a vitória…

Juventus e Austria também queriam muito a outra vaga na final… Mas o Juventus – que treinava no Parque Antártica – tinha uma baixa na equipe. Seu meia-esquerda, John Hansen, sofrera uma distensão no jogo contra o Palmeiras e estava afastado dos jogos do Torneio Mundial dos Campeões.

No dia 11 de Julho, às 21h00, e para a alegria dos muitos italianos que viviam em São Paulo, Juventus e Áustria se enfrentaram no Pacaembu pela primeira partida da semifinal. Segundo o Jornal dos Sports de 12/07/51, pág.1, […] “o público que compareceu ao Pacaembu teve a oportunidade de assistir a um espetáculo de excepcional brilhantismo no que diz respeito ao desempenho técnico dos quadros, durante o primeiro tempo e boa parte do período final”. […] “Se, por um lado, o Áustria tinha as suas linhas perfeitamente articuladas, com o excepcional e extraordinário centro médio Orcwick mandando o jogo, distribuindo e defendendo de forma precisa e eficiente, por outro, o Juventus mais vivo, mais rápido nas ações, mais decidido e disposto a proporcionar luta ao adversário”.

Por isso, o primeiro tempo foi mais ou menos equilibrado. O Áustria tinha melhor desempenho técnico, mas o Juventus se defendia muito bem e se utilizava de perigosos contra ataques. No primeiro tempo, aos 30′, após o lançamento de Aurednick, Koeller, com um chute forte, no canto esquerdo, abriu o placar para os austríacos; Muccinelli, com um chute indefensável, empatou aos 37′, mas Stojaspal colocou o Austria na frente outra vez aos 39′. Na segunda etapa, o Juventus voltou mais acertado e Praest empatou o jogo aos 4′. Aos 31′, Boniperti em boa jogada com Praest virou para o Juventus. No finalzinho, aos 44′, após falta cometida por Manente, o juiz marcou o pênalti para o Austria. E, então, aconteceu o que ninguém esperava…

Os jogadores italianos ficaram revoltados com a marcação e partiram pra cima do juiz brasileiro (o goleiro Viola chegou a dar um empurrão nele). E aí a confusão se instalou. Foi um custo para que os italianos deixassem o pênalti ser batido por Stojaspal. E depois da cobrança, bem sucedida, e do empate do Áustria no finalzinho de jogo, os italianos ficaram revoltados outra vez e cercaram o árbitro que por pouco não foi agredido (os austríacos se mantiveram afastados). Mas, então, aconteceu coisa pior…  Viola e Muccinelli agrediram um sub-delegado de polícia e foram levados para a Polícia Central onde ficaram detidos. Depois de algumas horas na Polícia Central,  das explicações dadas, e de muita tensão – o Juventus ameaçava até abandonar a “Copa Rio” (Jornal dos Sports, 12/07/51) -, eles acabariam sendo liberados. O empate do Áustria, que tirava a vitória, e a vantagem dos italianos na segunda partida, dificultando o caminho até a tão cobiçada vaga na final do mundial,  havia tirado os italianos do sério.

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ÁUSTRIA (AUS) 3 X 3 JUVENTUS (ITA)
Áustria
: Schweda; Oto Melchior e Josck; Fischer, Orcwick e Schleger; Ernst Melchior, Koeller, Huber, Ernst Stojaspal e Aurednick. Técnico: Heinrich “Wudi” Müller
Juventus: Giovanni Viola; Alberto Bertuccelli e Sergio Manente; Giacomo Mari, Carlo Parola e Piccinini; Ermes Muccinelli, Hansen, Giampiero Boniperti, Pasquale Vivolo e Karl Praest. Técnico: Jesse Carver
Árbitro: Alberto da Gama Malcher (Brasil)
Gols: Koeller (30′,1ºT), Stojaspal (39′,1ºT), Stojaspal (de pênalti, aos 42′, 2ºT) marcaram para o Áustria.
……….Muccinelli (37′,1ºT), Praest (4′,2ºT) e Boniperti (31′, 2ºT) marcaram para o Juventus

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No mesmo horário do jogo do Pacaembu, aconteceria o jogo que os brasileiros tanto esperavam. Palmeiras e Vasco se enfrentariam no Maracanã… os dois melhores times do país naquele ano de 1951… Uma expectativa imensa. O Vasco, a base da seleção, considerado favorito por muita gente, jogando em seus domínios, certamente estava mais tranquilo. O Palmeiras, que vinha de um resultado ruim, quando já estava classificado no grupo (jogara sem três de seus titulares), e passara a ser desacreditado quanto às chances de conquistar a vaga, tinha uma responsabilidade muito grande agora e a pressão estava com ele. Mas quem é Palmeiras sabe… a força da camisa esmeraldina e da gente que se veste com ela é inesgotável. E sem contar que o time do Palmeiras era bom demais –  pelo Rio-São Paulo, um pouco antes do Torneio Mundial começar, o Palmeiras, que acabaria sendo o campeão na ocasião, tinha batido o mesmo Vasco naquele mesmo Maracanã. E tendo ganhado os últimos quatro torneios que disputara, o time da camisa esmeralda, nesse mundial, ia em busca da sua quinta coroa.

E o Alviverde Imponente, tão imponente quanto a ocasião exigiu, cheio de talento e paixão, surpreendeu a todos os que duvidavam dele e bateu o Vasco da Gama… em pleno Maracanã. 2 x 1.  E com o agravante de ter tido duas perdas importantíssimas na partida, de ter precisado substituir Valdemar Fiume, que se lesionara, antes mesmo dos 20′ do primeiro tempo, e de ter ficado sem Aquiles, em boa parte da segunda etapa,  porque, depois de um choque com o goleiro Barbosa, uns minutos depois do gol de empate do Vasco, ele se lesionara gravemente e saíra de campo carregado.

O Vasco teve mais força ofensiva, no entanto, as suas investidas foram desorientadas, a maioria dos seus ataques não levaram real perigo ao gol de Fabio, e o Palmeiras, com ataques mais precisos, seguro na defesa, soube se impor no jogo. “O Palmeiras atacava pouco, porém era absolutamente mais objetivo. Cada ataque tinha a noção exata do perigo.  Isto porque a defesa do Vasco não exibia a segurança habitual”… “Salvador lutador  e incansável, Juvenal, mais clássico. Absolutamente mais consciencioso. Nunca abandonou a área”… “Magnífica a intermediária paulista, cabendo a Luiz Villa os méritos do principal valor”… “O arqueiro Fábio, não fosse o tento de Friaça, teria uma classificação excepcional”… “Dema reafirmou seu valor liquidando Tesourinha”… “dos pés de Jair partiram as jogadas mais perigosas”… “Rodrigues, embora pouco empenhado, deu grande trabalho à defensiva cruzmaltina” (Jornal dos Sports, 12/07/51 pág.6 – PALMEIRAS, 2 X 1).

O Palmeiras abriu o placar no Maracanã aos 24′ do primeiro tempo. Jair passou por Danilo e recebeu a falta de Eli, o próprio Jair cobrou a falta e tocou para Richard, o centroavante invadiu a área e chutou, abrindo o placar para o Palmeiras.  No segundo tempo, aos 40s, ataque do Vasco, posse de bola com Maneca que chutou muito forte, no ângulo. Fabio tentou defender, largou a bola, ela bateu na trave e entrou. Partida empatada. Aos 37′, Jair, de novo cobrando uma falta (os vascaínos fizeram muitas), acionou Liminha. O veloz jogador palmeirense avançou e, com um belo chute, que foi parar no fundo das redes de Barbosa, deu a sensacional vitória ao Palmeiras.

O Palmeiras venceu, estava muito feliz, mas uma sombra de tristeza e preocupação muito grande pairava sobre todos os palmeirenses.  Além de Valdemar Fiume ter saído lesionado no primeiro tempo, uns minutos após o empate do Vasco,  e depois de um choque com o goleiro Barbosa, o Palmeiras ganhara mais um, e muito sério, desfalque.  Aquiles saíra de campo seriamente contundido, e carregado – mais tarde seria confirmado que o jovem jogador do Palmeiras fraturara a tíbia (ele ficaria meses sem jogar). A família palmeirense ficou consternada.

 

 

O Vasco saiu reclamando de um impedimento de Richard no primeiro gol, o Palmeiras saiu reclamando da expulsão de Maneca que foi reconsiderada pelo juiz – ele expulsou o jogador do Vasco e, depois de uma conversa com Augusto, do time carioca, ele reconsiderou e voltou atrás…

O Palmeiras tinha ido ao Rio buscar a vaga e já saíra da primeira partida em vantagem. E tinha feito por merecer. A matéria do (carioca) Jornal dos Sports, do dia 12/07,  diria que o Vasco não esteve bem na partida, […] “produzindo pouco e com o agravante de procurar o jogo pesado nos momentos em que o adversário mostrava-se mais inspirado. Talvez enervados pela marcação severa da retaguarda palmeirense, os cruzmaltinos perderam inteiramente o controle”… “Tesourinha, inteiramente anulado por Dema, Friaça deixando-se dominar por Juvenal”… “Alfredo preocupou-se muito com a violência e deixou de ser o médio sereno e hábil dos outros prélios”…  “O Palmeiras ganhou com mérito. Foi mais quadro. Defendeu-se melhor. E teve a grande habilidade de se aproveitar das falhas do adversário para ganhar com justiça”“o onze do Palmeiras soube impor o seu valor, não se perturbando nunca com o maior volume ofensivo (do Vasco). Foi mais objetivo o conjunto palmeirense e daí a explicação lógica para a sensacional vitória colhida na noite de ontem”.

 

PALMEIRAS 2 X 1 VASCO DA GAMA
Palmeiras
: Fábio; Salvador e Juvenal; Valdemar Fiume, Luiz Villa e Dema; Liminha, Aquiles, Richard, Jair e Rodrigues. Técnico: Ventura Cambon.
Vasco da Gama: Barbosa; Augusto e Clarel; Eli, Danilo e Alfredo; Tesourinha, Ipojucan, Friaça, Maneca e Dejair. Técnico: Oto Glória
Árbitro: Mr. Craig (Inglaterra)
Renda: CR$ 901.520,00
Gols: Richard (24′, 1ºT), Maneca (40s, 2ºT) e Liminha (37′, 2ºT)

O Palmeiras saía na frente na disputa da vaga, ficava mais perto da final do mundial, mas os torcedores vascaínos não se davam por vencidos e continuavam confiando que o Vasco daria o troco ao Palmeiras no segundo jogo e que seria ele, Vasco da Gama, a ficar com a vaga na final…

Meu pai, à essa altura dos acontecimentos, certamente já deveria estar se preparando, com os amigos, para ir ao Rio de Janeiro ver a decisão do Mundial de Clubes… se o sangue que corre em minhas veias não me engana, ele tinha certeza  que o Palmeiras estaria lá…

Faltava uma partida… faltava um empate ao Palmeiras… a vaga na final do primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões estava ali, pertinho, quase ao alcance de verdes mãos… mas não seria fácil. O Vasco, que agora teria que vencer de qualquer maneira – era a sua única chance de classificação,  tinha um timaço também e certamente ia querer descontar o prejuízo. Faltavam só quatro dias para o próximo jogo, mas os corações brasileiros já batiam em ritmo de uma épica final…

Eu sempre soube que o Palmeiras conquistou um campeonato mundial de clubes em 1951… Alberto Vicente, meu pai, assistiu aos jogos em São Paulo, foi assistir à final no Rio de Janeiro e, muitos anos depois, me contou sobre aquela emoção, sobre o que significou aquilo tudo, me mostrou uma foto – daquelas de borda toda recortada –  feita naquele dia… Oberdan Cattani, o ídolo maravilhoso da história do Palmeiras, o goleiro de 3 das sete partidas do mundial, me contou também, me mostrou fotos, faixas… Fabio Crippa, o goleiro das semifinais e finais – que um dia conheci num dos aniversários de Oberdan (Deus é bom comigo, não?) -, também me falou brevemente a respeito da alegria de ter sido campeão mundial… Tive o privilégio de conhecer Valdemar Fiume (na casa do Oberdan também, mas em uma outra, e mais antiga, oportunidade – Deus me mima) e beijar as suas mãos (não tive como beijar seus pés na ocasião)… a taça, maravilhosa, repousa lá no Palestra e eu a vi de pertinho… senti a energia que ela carrega com ela…

Talvez, essa tenha sido a mais linda história que o Palmeiras, os palmeirenses (meu pai, inclusive), os cronistas,  os dirigentes da CBD, alguns dirigentes estrangeiros, e os brasileiros todos da época escreveram… e é pra eles, para os palmeirenses de outrora, para os palmeirenses de hoje, e para os palmeirenses que ainda irão nascer, que escrevo agora.

 

TORNEIO MUNDIAL DE CLUBES CAMPEÕES 1951 – “COPA RIO”…

“A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais do que eu, e ela não perde o que merece ser salvo” – Eduardo Galeano

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I – SURGE A IDEIA DO MUNDIAL DE CLUBES 

Logo após  a derrota da seleção brasileira para a seleção uruguaia, na final da Copa do Mundo de 1950, em pleno Estádio Municipal do Rio de Janeiro (Maracanã); logo após a frustração e dor que essa derrota causara para todo um país… Depois de quase 200 mil pessoas, numa demonstração de extrema grandeza e civilidade, encontrarem forças para aplaudir os adversários vencedores mesmo estando com o coração em pedaços e os olhos cheios de lágrimas… depois de quase 200 mil pessoas deixarem o Maracanã desoladas, em absoluto e estarrecedor silêncio, e sem querer nem mais ouvir falar em futebol, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) começou a organizar  uma competição que já vinha sendo pensada/sonhada/desenhada antes mesmo da Copa do Mundo.

Em 1950, antes da Copa se iniciar, um jornalista chamado Mario Filho (irmão do também jornalista e escritor Nelson Rodrigues), um pernambucano que vivia no RJ, um apaixonado por futebol, que era proprietário do ‘Jornal dos Sports’ (o de maior circulação na América do Sul), e em seu trabalho mudava a linguagem das notícias futebolísticas – a fazia mais parecida com a linguagem dos torcedores, com a intenção de tornar o esporte cada vez mais popular -, esse profissional, apaixonado por futebol, era também um apaixonado pelo então recém construído Estádio Municipal do RJ,  e muito por causa desse estádio  ele teve a ideia de um Torneio Mundial de Clubes.

No ano anterior, em 1949, a Fifa tinha garantido que a Copa do Mundo de 1950 seria no Brasil. A princípio, e depois de todas as atribulações causadas pela Segunda Guerra na Europa, e de mais de uma década sem o torneio mundial de seleções, a Copa do Mundo seria em 1949, mas foi postergada para 1950 para dar mais tempo ao Brasil de se preparar, e para os europeus se recuperarem dos estragos feitos por Hitler. Havia também falta de dinheiro generalizada na Europa; a guerra havia drenado todos os recursos das nações envolvidas, e nem todas tinham dinheiro para a viagem, ou estavam dispostas a cruzar o Atlântico naquele começo de década (muitos países, vivendo ainda entre escombros da guerra, achavam que não era a hora de se pensar em futebol, em sediar uma Copa do Mundo).

Naquele tempo, não era fácil garantir com antecedência os participantes de uma Copa do Mundo, de um torneio mundial. Qualquer time poderia desistir a qualquer momento, e os motivos poderiam ser vários: a falta de recursos, desinteresse ou desavenças com outras nações participantes. Hoje, quando há tantas lágrimas em campo quando um time não consegue a tão sonhada vaga na Copa do Mundo, não dá para se imaginar que em 1950 a FIFA teve que se desdobrar para evitar que o seu principal torneio não tivesse seleções suficientes. Muitas seleções desistiram por falta de dinheiro, algumas recusaram em cima da hora  – mesmo com o temor de um esvaziamento, mesmo com tantas desistências, e com menos seleções participantes do que o previsto, a Copa no Brasil acabaria sendo um sucesso.

E com a Copa assegurada para o Brasil, a construção de um estádio no Rio de Janeiro – projeto antigo, e que havia sido engavetado – começou a virar frenética realidade. Mario Filho se empenhou tanto na construção do Estádio Municipal do Rio de Janeiro (ele fazia campanha pela sua construção desde o final da década de 30), combateu fortemente a ideia do político  Carlos Lacerda – que o queria mais modesto, com aproximadamente 60 mil lugares, e construído em Jacarepaguá, afirmando ser essa a vontade do povo -, conseguiu o apoio da opinião pública para que o estádio fosse construído no bairro Maracanã, se empenhou para que ele viesse a ser o maior do mundo… Ele tanto fez pelo estádio que acabou ganhando o apelido de “namorado do estádio”, estádio que seria o grande palco da Copa do Mundo em 1950. E o gigantesco palco do futebol, o maior do mundo – um dos 6 estádios da Copa, onde o Brasil jogou a maioria das suas partidas -, acabaria sendo merecidamente batizado – em 1966, um mês depois da morte do jornalista – como “Estádio Municipal Jornalista Mario Rodrigues Filho”.

E porque o Brasil tinha esse estádio maior do mundo – nenhum outro país possuía um igual, com tantos lugares -, e  por causa do sucesso técnico e financeiro da Copa Jules Rimet (que tanto agradaria à CBD e à FIFA), só aqui seria possível se realizar uma competição com a grandeza de um mundial entre clubes campeões. Era o que acreditava Mario Filho (o tempo mostraria que ele tinha toda razão).

Mas a ideia do Mundial de Clubes surgiria antes mesmo da Copa se iniciar… Segundo uma publicação de 1950 [Jornal dos Sports, 1950 – edição 06427(1)],  tudo começou num fim de tarde, dentro de um carro que se dirigia à Copacabana… Na ocasião, vivia-se a ansiedade pela  Copa do Mundo, a grande agitação que precedia a chegada das primeiras seleções inscritas no torneio.

No carro, Mario Filho, Ricardo Serran, Mario Julio Rodrigues e o também jornalista Geraldo Romualdo da Silva – que escreveria sobre isso no jornal depois. Mario Filho expôs a ideia de um torneio mundial de clubes, uma disputa entre grandes clubes campeões da América do Sul e da Europa. Eles debateram a ideia e, ali mesmo, combinaram que não se tocaria no assunto sobre o torneio enquanto Stanley Rouss (Football Association – ele foi o responsável pela comissão de arbitragem na Copa de 50), Ottorino Barassi (Federazione Italiana Giuco del Calcio e FIFA) e Jules Rimet (presidente da FIFA) não tomassem conhecimento do plano. No entanto, Serran alertava aos demais: “não podemos permitir que a ideia fique em sigilo muito tempo”.

E foi num jantar, realizado pouco tempo depois, onde estiveram presentes o jornalista Mario Filho, idealizador do torneio,  o presidente da CBD, Sr. Mario Pollo, Stanley Rouss, Arthur Drewry (que já começava a preparar a sua candidatura à sucessão de Jules Rimet na FIFA), Jules Rimet, Ottorino Barassi (no Brasil, alguns jornais grafavam o nome dele com um único “t” – “Otorino”), Sotero Cosme e José Lins do Rego, que a ideia foi comunicada aos representantes do futebol mundial, e eles se mostraram francamente de acordo – desses participantes do jantar,  Jules Rimet, Stanley Rouss (seria eleito presidente da Fifa em 1961) e Ottorino Barassi (criaria a UEFA e também participaria efetivamente da criação da Champions League muitos anos depois) fizeram parte do comitê responsável pela organização da Copa do Mundo de 1950.

Barassi, o homem que organizara as copas de 34 e 50 (indicado por Jules Rimet), e que durante a guerra, escondera a Taça Jules Rimet  dos nazistas que ocupavam a Itália (ele teria tirado o troféu do banco onde ele estava guardado e o colocado em uma caixa de sapatos, que pôs embaixo da cama), lembrou a todos que seria preciso conseguir um patrocínio oficial de um dos poderes públicos para o torneio. O presidente da Fifa, por sua vez, salientou que o assentimento da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e a solidariedade dos clubes e demais entidades no Brasil eram indispensáveis para o êxito do certame.

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O presidente da FIFA, o francês Jules Rimet, idealizador da primeira Copa do Mundo, havia nomeado oficialmente o italiano Ottorino Barassi para o comitê organizador do torneio, e Barassi, além da ajuda aos brasileiros, tomaria todas as providências para as inscrições dos clubes europeus.

A ideia de Mario Filho era a de uma competição que tivesse a mesma grandeza de uma Copa do Mundo, o mesmo arrebatamento, mas que fosse disputada por grandes clubes campeões da América do Sul e da Europa e não por seleções. E essa disputa só seria possível, segundo Mario Filho, por causa do Estádio Municipal. Não havia no mundo um maior e melhor para receber tão importante competição – depois da realização da Copa, do sucesso técnico e de público/arrecadação, depois da demonstração de civilidade da torcida com a seleção uruguaia  (tudo isso encantou os europeus e os dirigentes da Fifa), ficaria ainda mais claro, só aqui poderia ser realizado o primeiro torneio mundial de clubes.

Além disso, o torneio serviria (pensou-se assim depois da Copa) para que o Brasil pudesse dar uma resposta nas quatro linhas, serviria para que o futebol brasileiro voltasse a ser “A” referência em futebol, a permanecer na rota mundial do futebol, façanha conseguida com a realização da Copa do Mundo… serviria para que ele pudesse dar uma volta por cima e recuperasse o orgulho destroçado… para que ele pudesse conquistar o que, por descuido, tinha deixado escapar naquele doloroso e recente 16 de Julho de 1950… um título de campeão mundial.

E foi por tudo isso que, três dias depois do triste final da Copa; três dias depois de Jules Rimet – parecendo contrariado, triste – entregar a taça para o zagueiro uruguaio Obdulio Varela; três dias depois de milhares de brasileiros se abraçarem chorando convulsivamente de tristeza, no Maracanã, a CBD já se reunia para as deliberações do Torneio Mundial de Clubes Campeões.

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(A Parte II virá na próxima postagem)

“… Doera mais aquele 16 de Julho porque os uruguaios revelaram possuir uma qualidade que faltava aos brasileiros. Com menos football os uruguaios conseguiram a “Copa do Mundo”. Mereceram o título porque lutaram como campeões.O football brasileiro era o melhor do mundo, mas não era o campeão do mundo. Faltava-lhe alguma coisa para ser campeão do mundo. O principal, já que não bastava jogar melhor. Olhou-se para a derrota com um sentido de culpa. A culpa do brasileiro. Que falhara quando não podia falhar. Daí a expressão da conquista do Palmeiras. O Palmeiras só falhou quando podia falhar. Na hora da decisão cresceu. Superando, inclusive, o que depois de 16 de Julho, ficou sendo como o limite das exigências de cada um de nós àquele scratch brasileiro…

… o match final do mundial de clubes exigiu muito mais do Palmeiras do que aquele de 16 de julho do scratch brasileiro…

… foi o que tornou o 2 x 2 da finalíssima uma grande vitória. O QUE FOI PRECISO PARA CONQUISTAR O MAIOR TÍTULO JÁ CONQUISTADO POR UM CLUBE NO MUNDO, O QUE FOI PRECISO PARA DAR UM CAMPEONATO DO MUNDO AO BRASIL, O PALMEIRAS FEZ

… o Juventus foi uma equipe quase que perfeita. E se não chegou a mais, se não atingiu em cheio seus propósitos foi porque teve pela frente uma equipe como a do Palmeiras. A EQUIPE QUE DESPIU A SUA CAMISA PARA VESTIR A DO BRASIL“. – Jornal dos Sports, 1951.

PARABÉNS, PALMEIRAS! HÁ EXATOS 67 ANOS, O PRIMEIRO CAMPEÃO MUNDIAL DE CLUBES! #OrgulhoImenso

“Em janeiro de 1951, o periódico brasileiro, “O Globo Sportivo”,  noticiava em destaque que o presidente da FIFA, Senhor Jules Rimet, concedera apoio incondicional ao torneio a ser realizado no Rio de Janeiro. Para tanto, nomeava oficialmente o engenheiro Ottorino Barassi, secretário geral da entidade, para o Comitê Organizador do Campeonato Mundial de Clubes Campeões (prestou atenção, leitor, no nome do comitê?). A importante matéria vinha assinada pelo jornalista francês Albert Laurence – integrante do L ‘Equipe e do France Football, ambos da França.”  Trecho retirado do site Palestrinos.

A Fifa, querendo aproveitar o sucesso da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, organizou um mundial de clubes em 1951, também no Brasil.  Eram oito times, divididos em duas chaves de quatro: Vasco da Gama/Brasil, Áustria Viena/ Áustria, Nacional/Uruguai e Sporting/Portugal, PALMEIRAS/Brasil, Juventus/ Itália, Estrela Vermelha/Iugoslávia e Olympique/França.

A importância dele era tanta, que o campeonato paulista foi paralisado; no Uruguai, o Torneio Competência também parou. Afinal, o Uruguai tinha acabado de ganhar uma Copa do Mundo no ano anterior, e a ganhara do Brasil, em pleno Maracanã. Não podia deixar que lhe carimbassem a faixa de campeão do mundo. O Brasil, por sua vez, estava “mordido”, e o povo brasileiro, traumatizado, sonhava com a possibilidade de ver resgatado o orgulho de uma nação inteira.

O torneio prometia ser um sucesso! O Vasco, considerado uma máquina de jogar futebol, era um dos favoritos, sem contar os ‘bichos-papões’, Estrela Vermelha da Iugoslávia, e Juventus da Itália.

E boa parte do mundo parou pra acompanhar essa disputa…

E viu um certo time, muito conhecido nosso, da camisa verde-esmeralda mais linda do mundo, imponente como ele só, desclassificar a “máquina de jogar futebol”, ultrapassar os adversários todos e chegar à final, contra o único time que o vencera na competição, o temível Juventus da Itália – que goleara o Palmeiras por 4 x 0, na fase classificatória. Duas partidas entre eles decidiriam o campeão mundial de clubes.

Que tarefa para o Palmeiras… Que tarefa para Fábio Crippa, Oberdan Cattani, Juvenal, Richard, Aquiles, Lima, Rodrigues, Canhotinho, Liminha, Salvador, Dema, Luiz Villa, José Sarno, Túlio, Jair da Rosa Pinto, Ponce de Leon, Waldemar Fiume e o técnico Ventura Cambon…  Quanta responsabilidade!

Com as ameaças do Juventus de deixar o torneio, caso a segunda partida não fosse realizada no RJ, a CBD (a CBF daquele tempo) resolveu fazer a vontade dos italianos. Palmeiras sendo desfavorecido desde sempre…

O Verdão, disposto a se desforrar do resultado da fase classificatória, se agigantou, e, num jogo épico, venceu o Juventus por 1 x 0, levando a vantagem do empate para o segundo jogo. Os italianos acreditavam que ganhariam a segunda partida e também a prorrogação.

E, na final, o Maracanã ficou pequeno pra tanta torcida! 100.093 pessoas foram assistir à partida, enquanto o resto do Brasil a acompanhava no rádio.

E o futebol ficou pequeno para tanto Palmeiras… O PALMEIRAS ERA O BRASIL! O Brasil, que queria gritar “é campeão”, que queria esquecer a dor e a tristeza da Copa do Mundo do ano anterior.

E o gigante Palmeiras, destemido, guerreiro, numa apresentação soberba, empatou com o Juventus em 2 x 2 [Praest (Juv), Rodrigues (Pal), Boniperti (Juv) e Liminha (Pal)], e fez o Brasil explodir de alegria. A festa, que atravessou a noite e o dia seguinte, contagiou os brasileiros de Norte a Sul do país. Não tinha ninguém torcendo contra naquele dia. Cada torcedor brasileiro era “palmeirense desde criancinha”; cada torcedor deste país morreu de alegria nos gols de Rodrigues e Liminha; todos os brasileiros ‘defenderam’ embaixo das traves de Fábio Crippa.  Nunca se tinha comemorado tanto um título. Nunca se tinha desejado tanto um campeonato… Nunca se festejaria tanto a volta pra casa de um campeão mundial.

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E numa noite muito fria, o Palmeiras, que aquecera o coração de um país inteiro, chegava em São Paulo, e foi acompanhado da Estação Roosevelt até o Parque Antártica por um milhão de pessoas. Sim, um milhão de pessoas! Nenhum clube de futebol jamais havia proporcionado uma apoteose dessa, e, até hoje, não houve quem conseguisse uma conquista com tanta magnitude e importância.

E 22 de Julho de 1951, em todos os jornais, em todas as rádios, em todas as bocas, em todo Brasil, ficou marcado como o dia em que o mundo conheceu o seu primeiro campeão mundial de clubes…

 

Hoje em dia, há quem coloque em dúvida ter sido esse campeonato um mundial de clubes. A Fifa o reconheceu em 2007 (e se o reconheceu é porque sabia que era um mundial, senão, não o teria feito jamais), a CBF comunicou ao Palmeiras a oficialização e nunca saberemos por quais motivos a Fifa voltou atrás. Nunca saberemos quem os convenceu a mudar de ideia e com quais argumentos.

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Não foi o Palmeiras quem se auto-intitulou “campeão mundial interclubes”, esse era o torneio do qual ele participou, e, porque não poderia ser diferente, o Brasil e o mundo o aclamaram assim.

O Palmeiras é o 1º Campeão Mundial Interclubes e sabemos muito bem disso, assim como a Fifa também sabe. Se ela vai reconhecer ou não, pra nós isso pouco importa. O que importa mesmo é o que ficou na história do futebol brasileiro e mundial, o que essa história conta do grandioso feito do Palmeiras; importa tudo o que foi escrito sobre o Palmeiras e sua conquista; importa toda a alegria de um país que resgatou o seu orgulho; importa o troféu que dorme no Palestra; importa o que ficou no coração de cada brasileiro…

As notícias atravessaram o tempo, e são, hoje, as testemunhas do Palmeiras Campeão Mundial. E ninguém pode desmenti-las, nem mesmo a Fifa.

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FELIZ 22 DE JULHO, AMIGO PALESTRINO!!

ORGULHE-SE, VOCÊ É TORCEDOR DO PALMEIRAS, O PRIMEIRO CAMPEÃO MUNDIAL INTERCLUBES!

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Informações e imagens: www.palmeiras.com.br  e  www.palestrinos.com.br