Lá se vão 27 anos… Mas qual palmeirense vai esquecer daquele 12 de Junho de 1993?
Num dia como hoje, não tenho como não lembrar das noites em que fiquei sem dormir – era impossível dormir direito – esperando a final do Campeonato Paulista… nem do frio na barriga, e daquele aperto (gostoso) no coração, companheiros constante daqueles dias…
Evair, Edmundo, Zinho… povoando nossos pensamentos todos os dias. Do pé de algum deles ia sair gol certamente. E quanta engenharia cerebral imaginando as situações que a gente queria que acontecessem, tentando antever como seriam as jogadas, como seriam os gols – claro que isso não acontecia só comigo… E quanto mais a gente pensava, mais ansioso ficava… Medo, mesmo, só do improvável. Eu tinha certeza, absoluta, que o Palmeiras seria campeão. E, por isso, era ainda mais difícil esperar…
Os dois ingressos, tesouros inestimáveis, comprados graças à ajuda de Oberdan Cattani, aniversariante do dia, estavam em meu criado mudo junto à imagem da Madre Paulina e de um santinho do Papa João XXIII…
Hoje, as imagens daquele dia, as sensações daquele dia, do jogo, o perfume daquela noite, as cores, os sons… atravessam o tempo espontaneamente… a gaveta das memórias escancara…
A noite insone… o coração aflito… o dia nascendo… O caminhão da Parmalat, para o qual buzinávamos, felizes da vida, na Marginal, e que nos buzinava de volta… A chegada no estádio duas horas antes do jogo, a imagem dos torcedores chegando, enchendo o Morumbi cada vez mais… As risadas, as conversas, os olhos elétricos, faiscantes… A torcida palestrina cantando como nunca, sorrindo como nunca, se abraçando e se desejando sorte… como sempre
O Viola, diziam no rádio, vomitando no vestiário antes de entrar em campo – tinha provocado o timaço do Palmeiras na primeira partida, e sabia que com o Palmeiras mordido vinha chumbo grosso no segundo jogo…
Mais de cem mil torcedores no estádio… Dia dos Namorados, o melhor dia para estarmos com o nosso verde amor… O time do Palmeiras, de meias brancas, entrando em campo… Meu Deus! Que lindo! Impossível expressar o que senti… E do jeito que a gente gostava, indo pra cima, jogando muito – Edmundo quase marcando no primeiro minuto…
A intuição forte, aguçada pela imagem, tão nítida, quase como uma visão, que me acompanhava por duas semanas… Evair correndo pra galera, braços abertos e comemorando diante de mim. Evair de joelhos no gramado…
Era tudo muito arrebatador! Era mágico… Nos primeiros dez minutos, de uma final histórica, o Palmeiras tinha chutado oito vezes ao gol do rival, que chutara uma vez no gol de Sérgio…
O Palmeiras enlouquecendo a gente na bancada com o seu futebol, e mo gol que não vinha… A ansiedade pelo primeiro gol que, sabíamos todos, seria a senha para o título… A espera, que durou um século de 37 minutos… o toque de Evair para Zinho, o chute cruzado e a bola indo morrer lá no canto direito do goleiro… O grito que ganhou os ares – e me fez perder completamente a voz, de tanto repetir, bem alto pra Ele escutar, “Obrigada, meu Deus”… A felicidade em um nível que eu nunca tinha sentido na vida…
O gosto delicioso das lágrimas (quantas lágrimas), dos gritos, dos abraços… as minhas conversas com Deus… as mãos trêmulas, o coração batendo fora do peito… os rivais parecendo tão pequeninos, perdendo a cabeça e descendo a botina… a expulsão, injusta, inventada, de Tonhão… a nossa zaga espetacular… o abismo entre o futebol do Palmeiras, que sobrava na partida, e o futebol do adversário…
A torcida que cantava sem parar… um quase gol de Edmundo… Mazinho tocando e o Matador Evair marcando o segundo gol… a minha visão de tantos dias se materializando diante de mim enquanto ele corria enlouquecido no campo (mas sem se ajoelhar)… o coração que não cabia mais no peito… a jogada de Evair para marcar o terceiro, a bola, caprichosa, resolvendo que pararia na trave, e Edílson (que saiu do coração da torcida por vontade própria) pegando o rebote e guardando na rede, para fazer 3 x 0… o relógio passeando devagarinho, devagarinho quando queríamos que ele corresse para podermos gritar o que se apertava em nossa garganta… a tremedeira no meu corpo todo… a dificuldade pra respirar… muitos torcedores ajoelhados, olhando para o céu… Homens e mulheres chorando juntos…
O jogo que ia para a prorrogação (mesmo com o Palmeiras tendo 9 pontos a mais que o rival no campeonato)… mais trinta minutos de ansiedade… a hora do tudo ou nada… aquela energia absurda que percorria as nossas veias e incendiava o Morumbi…
A expectativa maravilhosa e inexplicável de um sonho, sonhado por tanto tempo, que está prestes a se realizar… o Morumbi transformado numa grande nave a nos levar por “planetas” desconhecidos… a sensação – nova para boa parte da torcida – de aproximação com o que é divino, sagrado… a pele arrepiada… aquele pensamento, estonteantemente feliz, de: Meu Deus, é verdade mesmo? O não ter mais controle nenhum sobre as suas emoções e se deixar “viajar” no sabor daquele calor que invadia nosso peito… e lágrimas, muitas lágrimas… de nervoso, de alegria… só existia o mundo ali, no gramado, nas arquibancadas e numeradas…
O grito preso na garganta, por tanto tempo, querendo sair de todo jeito… a alma louca pra se sentir leve, “lavada”… a espera judiando de todos os nossos sentidos… o corpo formigando… o coração batendo tão forte que chegava a doer o peito… Não tínhamos nenhuma dúvida… éramos as crianças correndo até a arvore de Natal para encontrar a tão sonhada “bicicleta”…
Os 9 minutos mais demorados da vida… o Animal, perigosíssimo, partindo pra dentro da área e sendo derrubado… o pênalti marcado… a felicidade de quem sabia que com Evair era só esperar a cobrança e comemorar…
Os olhos grudados no campo… o coração sem bater… a respiração suspensa… O mundo parado naquele momento entre o chute, a bola tocar as redes e o grito sair de nossas gargantas… O “Matador” nos dando a vida… e correndo, de braços abertos, se ajoelhando (só nesse momento entendi que a minha visão de semanas estava completa)…
A alma lavada, sons, cor, calor, o mundo brilhando em verde e branco… Luxemburgo descendo para os vestiários antes do jogo acabar (ele já sabia, todos nós sabíamos, até os gambás sabiam)…
Palmeirenses pulando, se ajoelhando, gritando, se abraçando, agradecendo… todos chorando de felicidade… O apito final… grito, delicioso, ensurdecedor, com que tanto sonháramos: É CAMPEÃO! É CAMPEÃO!
A minha maior alegria palestrina… Obrigada, Evair, Edmundo, Zinho, Mazinho, Cesar Sampaio, Sérgio, Antonio Carlos, Tonhão, Roberto Carlos, Amaral, Daniel Frasson, Jean Carlo, Alexandre Rosa, Luxa!
Obrigada, Palmeiras!
Nós vivemos isso! Passei isso aos meus filhos…