Na Antiguidade, acreditava-se que a escrita vinha dos deuses. Os gregos pensavam tê-la recebido de Prometeus. Os egípcios, de Tot, o deus do conhecimento. Para os sumérios, a deusa Inanna a havia roubado de Enki, o deus da sabedoria…
Não teríamos conhecimento do que falou e fez Jesus Cristo se não fossem os Evangelhos… não saberíamos nada sobre o Descobrimento se Caminha não tivesse escrito a primeira carta, e se outras tantas não tivessem sido escritas depois… nada saberíamos sobre os egípcios se não fosse o que eles escreveram em pergaminhos/papiros, se não fossem os hieróglifos… não saberíamos nada sobre o mundo, e o que aconteceu no mundo antes de nascermos, ou de termos entendimento suficiente, se não fosse a história escrita. Se as pessoas não resolvessem escrever sobre os acontecimentos para transmiti-los às outras…
E a velocidade de informação que temos hoje, essa absurda velocidade de informação, só foi possível graças ao desenvolvimento da escrita…. Com a escrita, a humanidade pôde atravessar a barreira do tempo e preservar informações sobre povos que viveram há milhares de anos, sobre a maneira como viviam, em que acreditavam, como se organizavam socialmente…
No século 15, a invenção da imprensa tornou tudo isso mais fácil, mais ágil e à disposição de um número muito maior de pessoas. A reprodução de livros, jornais, o acesso à leitura e à divulgação de fatos, de informações, passaram a ser acessíveis a um número muito grande, e cada vez maior, de indivíduos… e, assim, a humanidade passou a preservar e divulgar fatos históricos, transmitindo-os às novas gerações…
E, nos dias de hoje, sempre que queremos nos informar a respeito de algo corremos buscar nos livros, nos jornais, nos sites, no Google – que reúne tudo isso – ou seja, onde quer que alguém possa ter escrito a respeito do que queremos saber, a respeito da informação que desejamos obter… não é mesmo? Porque é através do que foi e é escrito que a história foi e é contada. Os contemporâneos de cada época é que podem nos contar, com riqueza de detalhes os fatos do período em que viveram… Está tudo lá… guerras, invenções, costumes, cultura, comidas, vestimentas, lazer, personalidades, idiomas, conquistas… tem sempre alguém escrevendo para contar algo que vivenciou, testemunhou…
É fato que as pessoas podem mentir sobre o que escrevem… é fato que podem focar só um ângulo de um acontecimento, podem escrever de maneira defeituosa/distorcida a respeito de um assunto ou de alguém, dar-lhes as cores que elas quiserem… mas também é verdade que fatos concretos, coisas que aconteceram, que fazem parte da história, são imutáveis, por mais vontade tenham alguns de mudar os acontecimentos…
Uma pessoa pode, por exemplo, escrever de uma maneira sobre Luís XV, atribuir qualidades a ele (mesmo que ele não as tivesse possuído) e mostrá-lo como o ‘bem-amado’; outra pessoa pode fazer exatamente o contrário… podem escrever sobre suas amantes, ou omiti-las… mas se tem algo que nenhuma pessoa, ao escrever sobre ele, pode mentir, falsear, ou escrever de outra maneira é que ele foi Rei de França e Navarra, de 1715 – quando ele tinha cinco anos – até 1774, quando ele morreu. Isso é fato, aconteceu, e é imutável. Não tem como escrever de maneira diferente, distorcida, não tem como escrever que nesse período o rei da França foi um Luís de Camões, por exemplo.
E baseada nisso, nessa imutabilidade dos fatos concretos – que ficam a salvo da subjetividade, ou levianidade de alguns -, é que fui pesquisar nos escritos antigos – mas não tão antigos assim. Nos escritos de pessoas que viveram num tempo em que não vivi, não conheci, a não ser pelo que me foi transmitido por quem o viveu… um tempo pra se guardar no coração…
E é sobre isso que falo na próxima postagem. Ela será o primeiro “episódio” de uma “série” que vou publicar aqui no blog. Acompanhe, acho que você vai gostar…
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