Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir
Esteja certo que estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção
E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força pra cantar
Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver O que é amar (Gonzaguinha)
A lógica às vezes nos impede de vivenciar milagres em nossas vidas… A razão às vezes nos impede de ser feliz…
Fomos para o estádio ansiosos. De um lado, nossa parte racional, envenenada por todos os achismos dos ‘doutores’ do jornalismo esportivo, e dos pseudo comentaristas dos programinhas vagabundos de TV, nos dizendo que era muito difícil, que o Palmeiras não tem time, que era o clube paulista que ia dar vexame na competição; que o Libertad, invicto, já participou de 654.789.039 Libertadores… Nossa razão confundida por alguns torcedores, que acham que é politicamente correto diminuir o próprio time, e que afirmavam que o Palmeiras seria rebaixado no Paulistão e não passaria da primeira fase na Libertadores (onde estão vocês agora?), que o Palmeiras tinha vendido a competição sul-americana quando negociou um jogador que não queria mais vestir a nossa camisa…
Do outro lado, o coração, ah, o coração… muito mais sábio do que a razão, pois já vivenciou e sentiu em cada uma de suas fibras que ninguém ganha ou perde um jogo de futebol antes que o juiz apite o final da partida; esse coração ia pulando pelo caminho, feito criança cheia de esperança, sem se deixar atingir pelo veneno despejado sobre ele dia após dia.
Quando o metrô chegou na estação, tive a impressão que tínhamos descido dentro do estádio. Ela estava entupida de palmeirenses. E, como se estivessem na arquibancada, eles cantavam a plenos pulmões na estação, e a gente, sentindo aquele arrepio gostoso, ia respirando Palmeiras enquanto subia as escadas.
Tava uma chuva danada lá fora, mas ninguém aguentava esperar. Inúmeros vendedores subiam e desciam as escadas, vendendo capas de chuva no meio daquelas centenas de palmeirenses. Já na calçada, eu observava que a alegria dos torcedores era contagiante! Tão contagiante que até a chuva perdeu o rebolado e, bastante sem graça, foi saindo de fininho e desapareceu. E eu pensei com meus botões: Hoje, não tem pra ninguém…
Quando chegamos, a praça em frente aos portões principais estava cheia de gente. E diferente de muitas outras vezes, as pessoas pareciam confiantes, ansiando pelo que ocorreria lá dentro. Era como se todo mundo tivesse olhado os seus medos de frente e dito: HOJE, NÃO! Agora é a minha vez de ser feliz (fiz isso na Copa do Brasil).
O Pacaembu estava lotado, mas naquele horário sem noção, ainda havia muita gente pelo caminho – quem é o “inteligente” que marca uma partida, num dia de semana, às 19h15? E por que só o Palmeiras joga nesses horários estapafúrdios?! Mas o fato é que o time, que está TEMPORARIAMENTE na segunda divisão, e que a TV Globo jura que teve a sua torcida diminuída, colocava mais de 35.500 pessoas no estádio, batendo o recorde de público do Pacaembu na Libertadores, para ver jogar um Palmeiras cheio de desfalques, no time já desfalcado de sempre. Que coisa, né?
Quando esse Palmeiras, tão amado, entrou em campo, recebeu um aconchegante “abraço” da sua gente. Era como se ela lhe dissesse: Olha, estamos aqui, vamos jogar com você e, juntos, seremos imbatíveis.
Kleina tinha armado uma defesa forte, mas o time não jogou atrás, não. As chances iam surgindo… com Ayrton, Henrique, Vinícius (fazendo fila num monte de paraguaios), Charles… A torcida queria o gol e não parava de cantar. O Libertad, que achava o Palmeiras tão fraquinho, metia os 11 dentro da área a cada vez que o “fraquinho” ia pro ataque.
A partida era pegada pra caramba, tinha a tônica da Libertadores. A inexperiência da maioria de nossos jogadores nessa competição, era compensada por valentia e garra, diante dos tão catimbeiros adversários. Guiñazu batia o tempo todo e o juiz deixava passar. No entanto, qualquer esbarrão que um palmeirense desse num paraguaio era falta, passível de cartão (o Libertad é o time do presidente da Conmebol, né?). A torcida, que aplaudia cada lance do Verdão, marcava forte os paraguaios e o juiz. EI, JUIZ, VAI ….. .. ..!!!
O primeiro tempo acabou e o gol não saiu.
Na volta do intervalo, a faísca elétrica que liga time e torcida, incendiou o jogo e o Pacaembu de vez! ♫ Ê PALMEIRAS MINHA VIDA É VOCÊ!! ♫♪ O Palmeiras veio disposto a pagar o preço que aquela vitória exigia. Paulo Nobre tem razão quando diz que é sangue na veia. A gente sentia o sangue correr mais quente, mais forte.
No primeiro minuto, Juninho quase fez de cabeça; depois, foi a vez de Vinícius fazer uma jogada linda e acionar Marcelo Oliveira, que tocou de calcanhar pro gol e quase pegou o goleiro de surpresa.
E o torcedor palestrino, numa sintonia surreal com o time, abriu o peito, colocou seu coração e o seu amor no gramado, e o time defendeu esse coração e esse amor com uma grandeza que há muito não se via…
O Pacaembu tinha alma, tinha voz! O Pacaembu tinha o perfume do Palmeiras gigante… Arquibancadas, numeradas e tobogã fundiam-se num espaço só; todas as vozes soavam como se fossem uma só; 35.511 torcedores tornavam-se um só: o poderoso 12º jogador do Palmeiras, que renascia com o time para buscar a vitória a todo custo.
A gente sabia que não ia demorar muito… Tratei de vestir a minha invicta camisa da sorte (limão, Valdivia 10), que eu usava sobre as costas. No mesmo instante (acredite), Wesley chutou meio esquisito de fora da área, a bola encontrou Charles que só teve trabalho de dominar e mandar por entre as pernas do goleiro. E o Pacaembu explodiu na alegria do gol tão desejado, tão esperado! Explodiu em gritos, lágrimas, sorrisos, abraços e um orgulho do tamanho do mundo. Explodiu com o tapa na cara que time e torcida deram nos profetas do apocalipse, dos que rotularam o Palmeiras como time limitado… dos que subestimaram a nossa mítica camisa… Ainda consigo ouvir o grito de gol do 12º jogador do Palmeiras…
O juiz, que deixou Guiñazu bater o jogo inteiro, expulsou Wesley, injustamente, aos 16′. E o Libertad veio pra cima. Vinícius saiu com câimbras. Tudo ficava mais difícil… Mas a superação entrou em campo! A torcida enfrentava a cara feia do adversário cantando o hino do time. Mágico! E o que se viu foi a fibra de um gigante, de um time que se doou e ultrapassou os próprios limites. Os espaços se confundiram e estávamos todos dentro de campo. Éramos todos jogadores num espetáculo maravilhoso, numa apresentação épica! Com um a menos, o jeito era dar de bico para qualquer lado, era segurar a bola, cair para esfriar o jogo e irritar o adversário, fazer cera, catimbar. Os jovens jogadores do Palmeiras pareciam veteranos. Prass operou um milagre, defendendo uma cabeçada com pé, ou melhor, com mais 35.511 pés. Ali, ao lado dele, quase morremos de susto. Mas já tínhamos dito ao nosso medo: Hoje, não!
O meu Palmeiras parecia que jogava Libertadores três vezes por semana. O tão tarimbado Guiñazu, e o seu invicto time, foram engolidos pelo gigante com o qual se defrontaram. E a torcida “em campo” ajudava a tirar de cabeça, a dar bicão, carrinho, torcia e jogava com o time, fazia falta, cobrava o final de jogo com o juiz, discutia com o adversário… e cantava!!! Nada e ninguém poderia segurar o Palmeiras nessa noite! Nada poderia deter o Gigante que ressurgia diante de nossos olhos. Encantada, orgulhosa, eu me dava conta de que jamais havia visto algo parecido.
O estádio respirava forte esperando o final de jogo. E quando o juiz apitou, e a alegria dos palmeirenses inundou o Pacaembu, time e torcida sabiam que dali por diante, ficaria cada vez mais difícil vencer o Palmeiras, que esse time estava crescendo na hora certa, da maneira certa… Sabiam que as portas de todas as chances estão abertas… Sabiam que o Gigante estava de volta…
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E deve ter sido por isso, pela luta de todos, pela alegria conquistada com tanta bravura, pela felicidade de ver que o Palmeiras renasceu, que mesmo depois do apito final, a torcida continuou cantando o hino do time, aplaudindo seus extenuados guerreiros, de pé… Foi tão lindo, fez com que nos sentíssemos tão plenos, tão vivos, que o tempo poderia ter parado ali…
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Não temos e nunca tivemos muletas, nem padrinhos ou favores… SÓ TEMOS A NOSSA GRANDEZA! E, por isso mesmo, só os palmeirenses sabem o que veio de brinde com essa vitória, nessa noite… só eles entendem porque se comemorou tanto… porque ao invés de ir para os portões de saída, a torcida correu para o alambrado… porque, minutos depois, todo mundo continuava dentro do estádio pulando e cantando… Foi mais que uma vitória e uma classificação. Nessa noite ganhamos mais que um título…
O Pacaembu nunca mais será o mesmo, ele viu ressurgir o seu maior campeão!
TANTI AUGURI, PALESTRA!