II – E O TORNEIO MUNDIAL COMEÇA A SER ORGANIZADO

A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las. (Aristóteles)
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Como ainda não existiam naquela época competições que pudessem servir como eliminatórias pra indicar os participantes de um torneio mundial de clubes, algo inédito até então, eles decidiram, a princípio, convidar os campeões nacionais de países da América do Sul e da Europa considerados potências futebolísticas naquele início de década, e que participaram da Copa do Mundo.

No Brasil ainda não havia um campeonato nacional que pudesse indicar os participantes desse torneio – a Taça Brasil, o primeiro campeonato nacional,  só surgiria em 1959 (o Bahia seria o primeiro campeão brasileiro; em 1960, seria o Palmeiras) -, e também não seria possível disponibilizar datas para a inclusão de uma nova competição no calendário nacional. Como os torneios mais importantes do país eram os campeonatos estaduais do RJ e de SP e o Torneio Rio-São Paulo – a disputa entre os dois estados onde havia o melhor futebol e o maior número de craques do Brasil – a CBD e a FIFA  decidiriam que Palmeiras e Vasco (os campeões desses estados em 1950), seriam os representantes brasileiros no torneio mundial de clubes campeões.

Claro que teve alguma reclamação de alguns que ficaram de fora, claro que teve choradeira até mesmo de alguns (poucos) jornalistas por causa dos clubes que não participariam. Mas não teve camaradagem na escolha dos representantes do Brasil não… Palmeiras e Vasco eram os melhores times do país naquele ano, eram os campeões de São Paulo e Rio de Janeiro – os dois estados com o futebol mais forte do país. O time de Parque Antártica entraria na nova década com quatro conquistas de “Campeonatos Paulistas” (1942, 1944, 1947 e 1950 – por ocasião do mundial de clubes, o campeonato estadual de 51 estaria ainda em seu início, e seria paralisado para o torneio mundial) -, dois “Torneios Início do Campeonato Paulista” (1942 e 1946) e três “Taças Cidade de São Paulo” (1945, 1946 e 1950) – o Palmeiras ainda conquistaria o “Torneio Rio-São Paulo”-1951, a “Taça Cidade de São Paulo”-1951 – o Torneio Mundial de Clubes Campeões, se conquistado,  tornaria o Palmeiras  “Campeão das Cinco Coroas”. O Vasco, por sua vez, tinha sido campeão carioca e a base da seleção brasileira na Copa disputada no Brasil  – 8 jogadores, o técnico e também o massagista –  (os palmeirenses Jair da Rosa Pinto, Juvenal e Rodrigues Tatu também haviam defendido a seleção na Copa – Juvenal e Rodrigues Tatu vieram para o Palmeiras depois do mundial de seleções). Sendo assim, Palmeiras e Vasco teriam a honra de serem, merecidamente, os representantes do Brasil no Mundial de Clubes Campeões.

O patrocínio, que Ottorino Barassi desejava para o torneio, logo apareceria… e, pelo que se podia perceber, viria da prefeitura do Rio de Janeiro. [Diário da Noite, edição 05065(1)]

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Barassi, uma das grandes autoridades do futebol mundial, ia voltar para a Europa. Na véspera da viagem, por iniciativa da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), da Federação Metropolitana de Football e dos clubes cariocas, ele foi homenageado com um almoço no restaurante do aeroporto Santos Dumont. Tratava-se de um importante contato para o campeonato mundial de clubes. O campeonato idealizado por Mario Filho caminhava para se tornar realidade (Jornal dos Sports, edição 064362, 1950 – “Realidade para o Campeonato Mundial Dos Clubes”).

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Ottorino Barassi sabia, e não se cansava de repetir: “Só o Rio comportará um acontecimento dessa transcendência. Só mesmo o Rio, com a praça de esportes que tem, com esse entusiasmo incomparável de sua gente, com essa prova de altivez ao revés, poderá lançar-se a tão alto projeto”.

E nesse almoço, Barassi sugeriu um nome para o campeonato mundial de clubes que organizavam e que a Prefeitura do Rio de Janeiro já insinuava que iria patrocinar (mais à frente, ela mandaria confeccionar a taça que seria entregue ao campeão e ao vice). Pediu especial atenção dos que o rodeavam (prestem atenção também os que leem esse texto agora, em 2018), pigarreou, e disse que já tinha um nome para o Campeonato Mundial de Clubes. Fez uma pausa e disse: “Copa Rio de Janeiro”. Outra pausa, e ele fez um adendo: “Copa Rio”. Sorrindo, se justificou: “Mais simples. Mais Popular. Pegará mais depressa”. [Jornal dos Sports – edição 06427(1)] 

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E foi assim, por ideia de Ottorino Barassi – por causa do patrocínio que viria da prefeitura também, claro -, que o Torneio Mundial de Clubes Campeões,  que não deixaria de ser um mundial de clubes em nenhum momento, ganhou o nome de “Copa Rio”, mas só depois de ter sido idealizado como um campeonato mundial de clubes, e não o contrário.

E então, o torneio começava a ser realmente organizado. E era considerado uma conquista do futebol brasileiro. As adesões entusiásticas da FIFA (Jules Rimet se colocara à disposição do futebol brasileiro para que vingasse a ideia do campeonato mundial de clubes), da Inglaterra, Itália e outros países à ideia de Mario Filho de realizar um mundial de clubes, poderiam ser traduzidas como o reconhecimento da liderança que estava sendo pretendida para o futebol do Brasil. Porque só um centro completamente evoluído, completamente amadurecido e completamente aparelhado, como era, futebolisticamente falando, o Rio de Janeiro naquela época – e com um estádio como o Municipal do Rio de Janeiro -, poderia ter a pretensão de realizar um campeonato de tal vulto, apenas um ano depois da Copa do Mundo no Brasil (Jornal dos Sports, 1950 – edição 06419).

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A imprensa atual, a do século XXI, numa injustiça tremenda com um dos maiores jornalistas esportivos da nossa história, pouco lembra de Mario Filho como o idealizador do primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões e, na maioria das matérias a respeito dessa competição, quase nunca lemos algo o ligando à idealização do torneio (Jornal dos Sports, 1950 – edição 06418, O CORAÇÃO DO MUNDO FOOTBALLÍSTICO).

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.Mas naquele meio de século, naquele distante 1950, a imprensa esportiva sabia que esse primeiro campeonato mundial de clubes era uma grande distinção ao Brasil, e ela apelava aos dirigentes de clubes e entidades do país para que não deixassem a ideia morrer, e levassem a sério a organização do torneio. Os benefícios para o Brasil – diziam os jornais – para o esporte brasileiro, para o futebol brasileiro, para os clubes e entidades, seriam ainda maiores do que os que foram prestados pela Copa Jules Rimet. Primeiro, porque  seria um prêmio que o futebol mundial reconhecia que o Brasil merecia; segundo, porque beneficiaria diretamente os clubes e as entidades no Brasil. Os campeonatos do Rio e de São Paulo ganhariam em interesse, em atenção, uma vez que iam designar os representantes do Brasil no campeonato mundial de clubes, assim como o Torneio Rio-São Paulo seria igualmente beneficiado. E isso iria além do interesse clubístico. O interesse era do Brasil, que seria mais uma vez palco de um campeonato mundial [Jornal dos Sports, 1950 – edição 06419(2) – O CAMPEONATO MUNDIAL DE CLUBES].

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Os periódicos temendo que, por falta de organização, o Brasil perdesse a chance de realizar o mundial de clubes, cobravam da CBD que ela corresse mais na direção desse grande projeto, e não perdesse a chance, porque a ideia do mundial já existia e outros países poderiam se antecipar ao Brasil (a ideia do mundial de clubes agradava à muitas federações estrangeiras. Estava cheio de gente de olho nele). Todavia, alguns jornalistas –  e alguns dirigentes europeus também – temiam que o tempo fosse escasso para se realizar mais um campeonato mundial no Brasil – era mesmo.  Diziam que um campeonato desse vulto, um torneio mundial de clubes, só poderia ser realizado em 1952,  porque não daria tempo de organizá-lo para 1951 [Jornal dos Sports – edição 06417(1) -Olimpicus – O campeonato Mundial de Clubes É UM GRANDE PROJETO].

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Mas, por outro lado, depois da realização da Copa Jules Rimet, e do estádio municipal do Rio de Janeiro construído a tempo, com tanto sucesso,  e quando muitas pessoas achavam que ele não ficaria pronto (a obra terminou em 12 de Junho, doze dias antes do início da Copa do Mundo), os dirigentes da Fifa costumavam dizer que “para os brasileiros nada seria impossível” . Na verdade, antes da conclusão da obra, a Fifa temera sim que o estádio não ficasse pronto para a Copa, e Barassi, que muito fez para que os prazos fossem cumpridos, que cobrou as pessoas responsáveis, que insistiu, ficou ‘em cima’ para que o aprontassem em tempo, foi de uma ajuda inestimável na ocasião.

Será que o Brasil, com a ajuda de Barassi na organização, conseguiria vencer o tempo mais uma vez e promover um mundial de clubes? Conseguiria, no prazo de um ano, e mesmo com todos os problemas que a guerra causara à Europa, trazer grandes times europeus ao torneio em 1951?

(Continua na próxima quinta-feira, 30/08)

“… Doera mais aquele 16 de Julho porque os uruguaios revelaram possuir uma qualidade que faltava aos brasileiros. Com menos football os uruguaios conseguiram a “Copa do Mundo”. Mereceram o título porque lutaram como campeões.O football brasileiro era o melhor do mundo, mas não era o campeão do mundo. Faltava-lhe alguma coisa para ser campeão do mundo. O principal, já que não bastava jogar melhor. Olhou-se para a derrota com um sentido de culpa. A culpa do brasileiro. Que falhara quando não podia falhar. Daí a expressão da conquista do Palmeiras. O Palmeiras só falhou quando podia falhar. Na hora da decisão cresceu. Superando, inclusive, o que depois de 16 de Julho, ficou sendo como o limite das exigências de cada um de nós àquele scratch brasileiro…

… o match final do mundial de clubes exigiu muito mais do Palmeiras do que aquele de 16 de julho do scratch brasileiro…

… foi o que tornou o 2 x 2 da finalíssima uma grande vitória. O QUE FOI PRECISO PARA CONQUISTAR O MAIOR TÍTULO JÁ CONQUISTADO POR UM CLUBE NO MUNDO, O QUE FOI PRECISO PARA DAR UM CAMPEONATO DO MUNDO AO BRASIL, O PALMEIRAS FEZ

… o Juventus foi uma equipe quase que perfeita. E se não chegou a mais, se não atingiu em cheio seus propósitos foi porque teve pela frente uma equipe como a do Palmeiras. A EQUIPE QUE DESPIU A SUA CAMISA PARA VESTIR A DO BRASIL“. – Jornal dos Sports, 1951.

PARABÉNS, PALMEIRAS! HÁ EXATOS 67 ANOS, O PRIMEIRO CAMPEÃO MUNDIAL DE CLUBES! #OrgulhoImenso

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Certa vez – faz tempo -, li algo em  uma revista…

“Existe um lugar mágico, onde o tempo não passa no mesmo ritmo pra todo mundo. Nesse lugar mágico, nenhum relógio marca a mesma hora. E o futebol é um caos. Enquanto um torcedor vê o seu craque partindo para a grande área com a bola dominada, diante do goleiro adversário, outro já viu o drible, o chute, já viu o gol acontecer, já o comemorou, ao mesmo tempo que um terceiro torcedor está vendo ainda o time entrar em campo… Para alguns, o jogo ainda nem começou; para outros,  já aconteceu… há mais de 60 anos”.

A pessoa que escreveu isso se baseou nas teorias de Einstein, e claro que a concepção desse mundo mágico, desse tempo onde não se distingue passado, presente e futuro,  a ideia de que tempo e espaço são a mesma coisa, era dele. E isso nos leva a pensar que, talvez, nada possamos mudar… nem eu, nem você, nem o gatinho no telhado, nem a pedra na montanha, nem a concha na areia da praia… o que para uns é futuro, para outros já está gravado na memória, já aconteceu…

Aconteceu pra gente primeiro… e o que aconteceu está lá… no tempo… e nada pode mudar. E podemos sempre viajar no tempo, cada um de nós à sua maneira, e (re)viver fragmentos da nossa história, do nosso universo, da nossa vida…

Meu pai viveu isso, em 1951, e eu, viajante de um outro tempo, ‘vivi’ isso depois, através dele… Meu pai viveu a tristeza enorme da perna quebrada de Aquiles, antes do jogo da semifinal… e eu já conhecia o final da história… Meu pai viu a injustiça que fizeram com o seu ídolo, Oberdan Cattani, pela derrota diante da Juventus-Turim, na fase classificatória da competição (como alguns fazem agora com Prass)…  eu vi a continuação da história, que fez justiça a um dos maiores – senão o maior –  goleiros da história do Palmeiras…  Meu pai fez parte dos 100.093 torcedores brasileiros que estavam no Maracanã (o Brasil era Palmeiras, o  Palmeiras era Brasil – em nenhuma outra ocasião, um clube paulista desfilaria em carro aberto no Rio de Janeiro, e sob aplausos e lágrimas de alegria e orgulho das pessoas na rua)… eu faço parte dos milhões de viajantes de outro vagão desse trem do tempo, que já deram de cara com essa conquista…

Talvez, hoje, nesse tempo que não distingue passado, presente e futuro, meu pai esteja lá no Rio de Janeiro, em pleno 22 de Julho de 1951, vivendo a alegria dessa conquista, vivendo a maravilha de ver o seu time, com os seus ídolos amados, fazer o Palmeiras Campeão do Mundo… talvez ele esteja lá agora, sorrindo de alegria, com lágrimas nos olhos e de peito cheio de orgulho por saber que Brasil inteiro  comemora com ele…

Talvez, hoje, nos fios do tempo que se embaraçam nesta data, 1951  se  encontre com 2017, e meu pai e eu (e todos os palmeirenses de  todos os tempos) estejamos juntos… comemorando o Mundial do Palmeiras.

Auguri meu pai… Auguri Fábio Crippa, Oberdan, Sarno, Salvador , Juvenal, Waldemar Fiume, Túlio, Luiz Villa, Dema, Lima, Aquiles, Ponce de León Canhotinho, Liminha, Jair Rosa Pinto, Rodrigues, Richard e Ventura Cambon.

Tanti auguri Palmeiras.

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“A ignorância é a mãe de todos os males” – François Rabelais

O Palmeiras, o clube Campeão do Século, o maior campeão nacional, merecia ter rivais mais gabaritados. É desconcertante ter rivais tão ignorantes.

Todo mundo sabe que o Palmeiras tem um campeonato mundial, menos aqueles… que não sabem ler (ou será que esse fazer de conta que não sabem é só bronca por terem tido que apagar o “Primeiro Campeão Mundial de Clubes que tinham escrito em letras garrafais lá na beira do rio Tietê?). E o Palmeiras não só tem mundial, como foi o primeiro clube a conquistar um.

A Fifa já tinha homologado o título em 2007, e o oficializou em 2014. Os que não tiveram condições de ler as matérias a respeito do assunto em 2007 e 2014,  por pura ignorância ainda desconhecem essa conquista palestrina (ensino fundamental faz maravilhas, viu gente?).

Hoje, 18 de Dezembro de 2015, a FIFA, atendendo solicitação do “Estadão”, confirmou a oficialização (se a FIFA oficializou o título em 2014, por que será que um veículo de comunicação foi pedir confirmação? Qual a resposta que ele esperava receber?).

Mas vamos lá… Quem não souber ler, pede ajuda, tá? Não é tão difícil assim…

Mundial51-confirmação

A resposta da FIFA, que está em inglês, poderia ser traduzida no Google, mas, vou quebrar o galho dos que se mantêm na ignorância e publicar a tradução também.

“At its meeting in Sao Paulo on 7 june 2014 the FIFA Executive Committee agreed to the request presented by CBF to acknowledge to the 1951 tournament between European and South American clubs at the first worldwide club competition and Palmeiras as its winner.”

“Na sua reunião em São Paulo, em 7 de Junho de 2014, o Comitê Executivo da FIFA concordou com o pedido apresentado pela CBF para reconhecer o torneio de 1951, entre clubes europeus e sul-americanos, como a primeira competição mundial de clubes e o Palmeiras como o seu vencedor.

Então, né? O Palmeiras foi o primeiro campeão mundial de clubes. Não há o que discutir a esse respeito, não é mesmo?

 

Não fomos nós, torcedores palestrinos, que escrevemos os jornais da época e aclamamos o Palmeiras como Campeão do Mundo…

Também não fomos nós que consideramos essa conquista – que resgatou o orgulho e o futebol de um país inteiro -, como o maior título do futebol brasileiro…

Além do Palmeiras, qual outro clube brasileiro, entre todos os que você conhece, já foi acolhido por um milhão de pessoas nas ruas após uma conquista?

É fato, é história, é imutável… e nem precisava de reconhecimento algum. Foi o primeiro campeonato mundial de clubes, sim. E o Palmeiras, brilhantemente, o conquistou.

Convivam com isso, rivais.

E agora basta.  Assunto encerrado.