Eu tinha dito que tudo correu bem no Canindé, que todos ficamos muito felizes… Esqueçam a parte do “tudo correu bem” e “todos” felizes! Para algumas pessoas não foi assim.
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Enquanto o Brasil se prepara (?!?!) para sediar uma Copa do Mundo, para receber torcedores de todas as partes do planeta, os torcedores brasileiros continuam a ser desrespeitados e tratados com descaso, se não em todos, em quase todos os estádios do país.
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E não foi diferente no Canindé, naquela tarde de Palmeiras x Bragantino…
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O meu amigo palestrino e futuro jornalista, Renan Barreiros, também ia ao estádio assistir à partida. Renan é cadeirante e, por isso, Fábio Cerdeira, o amigo que ia acompanhá-lo, foi um dia antes comprar o seu ingresso e perguntou como teria que proceder para levar um amigo cadeirante ao estádio. Foi informado que ele teria de comprar o ingresso dele normalmente, e que poderia subir e deixar o Renan no setor destinado aos cadeirantes.
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O setor reservado para os cadeirantes é ao lado da arquibancada. O Fábio teria que levar o Renan até lá e voltar prá bancada. O acompanhante não poderia ficar com o acompanhado. Só poderia deixá-lo lá. Meio estranho mas, até aí, tudo bem.
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No dia do jogo, devidamente informados sobre como deveriam proceder, o Fábio e o Renan se dirigiram ao Canindé. Mas não é que, ao informarem os torcedores, o funcionário se esqueceu de um “detalhe”???
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Vejam só o absurdo! Ao chegarem ao estádio e se dirigirem ao setor destinado aos cadeirantes, onde o Fábio iria apenas deixar o Renan, eles foram impedidos! E sabem por quê? PORQUE O FÁBIO (o acompanhante) ESTAVA TRAJANDO BERMUDA!! E, de bermuda, ele não poderia entrar no local, nem mesmo para deixar o torcedor cadeirante (no setor onde ele teria mais segurança e tranquilidade), e sair!
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Só até aqui, já teríamos absurdos demais! Mas eles se superaram! Diante do absurdo da proibição, o Fábio, e mais alguns amigos, começaram a insistir. Qual seria o problema se ele ia apenas deixá-lo lá e sair? Depois de muita insistência, os meus amigos ouviram:
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– Você é parente de algum diretor?
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O Fábio respondeu que não, e ouviu a sentença:
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– ENTÃO NÃO PODE!!
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É possível uma coisa dessa? Mas não parou por aí…
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Como não poderiam impedi-los de assistir à partida, o segurança (sei lá o que ele era) do setor destinado aos cadeirantes, mandou que o meu amigo fosse levado à arquibancada, com cadeira de rodas e tudo, uma vez que ele não poderia se responsabilizar e autorizar o acompanhante a entrar no setor dos cadeirantes trajando bermuda. Disse que era norma da Portuguesa. Num país como o Brasil, com o calor que fazia no sábado, queriam que o torcedor fosse ao estádio como? De fraque e cartola? Se a gente chama de burro um sujeito desse e quem aprovou a tal norma, o pessoal fica bravo. Além disso, já que seria tão aviltante (sabe-se lá porquê) o rapaz entrar de bermuda no tal setor, por que o próprio funcionário não levou o cadeirante até lá? Era só para levar e deixá-lo no local apropriado. Eu juro que teria chamado a polícia, caso estivesse com eles nesse momento. Mas só soube na saída. E tenho quase 90% de convicção que não havia um Ouvidor no estádio. MAS TEM QUE TER UM OUVIDOR, NÃO É MESMO?
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Pois bem, eles foram para a arquibancada. Chegando lá não queriam deixá-lo entrar porque não tem rampas no local. E essa atitude estava correta! O Fábio então, explicou o que ocorrera lá no Setor dos cadeirantes e o funcionário acabou ligando para o responsável pelo tal setor, recebendo a mesma negativa. Como a única opção que sobraria aos meus amigos era a de voltar prá casa, acabaram permitindo que eles fossem para a arquibancada mesmo. Alguém pode imaginar como é fácil chegar lá numa cadeira de rodas, né? E que facilidade deve ter tido o Fábio para ajudar o Renan a se locomover até lá, não é mesmo?
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E a falta de bom senso, de boa vontade, de organização e de respeito ao torcedor e ao semelhante, fez com que meu amigo assistisse à partida da maneira mais insegura possível para um cadeirante… na arquibancada.
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E os governantes (que vão bancar uma Copa do Mundo aqui, e que gastam fortunas em propagandas sobre inclusão social e igualdade, levadas ao ar antes das novelas), e os dirigentes de clubes, não fazem absolutamente nada para que o cidadão/torcedor tenha o direito de ir e vir, com dignidade e respeito…
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E este é o chamado “País do Futebol”…
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