Amigo leitor, nos últimos meses, uns probleminhas de saúde alteraram a minha rotina e, por isso, durante esse período, o blog acabou ficando praticamente inativo.  Me desculpe. Agora que já sarei (ou quase rsrs), vou tentar colocar as coisas em dia. A começar pelas postagens sobre o primeiro Mundial de Clubes, que haviam sido interrompidas. Coincidentemente, essa maravilhosa conquista da Sociedade Esportiva Palmeiras completa 68 anos exatamente nesse 22 de Julho de 2019. Um abraço. Tânia Clorofila Dainesi

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IX – CARIMBANDO A VAGA NA FINAL   

“O amor deixa uma memória que ninguém pode roubar” – Khalil Gibran


O Brasil e a Europa acompanhavam avidamente as notícias do Torneio Mundial de Clubes Campeões. Dois times brasileiros em um dos “mata-mata” e dois europeus no outro. Duas escolas diferentes que se enfrentariam depois para decidir o título… e quem será que passaria à tão cobiçada final?

A ferida da Copa do Mundo ainda doía… no entanto, os torcedores brasileiros, sem se darem conta, voltavam a se empolgar, e muito, com o futebol, com uma decisão mundial, e apostavam todas as suas fichas no título para o Brasil. E assim como antes da primeira partida semifinal muitos achavam que o Vasco ganharia do Palmeiras sem problemas, achavam eles agora que o Vasco venceria a segunda semifinal e seria o finalista.

Segundo  o Jornal dos Sports,  de 12/07/51, a  vitória do Palmeiras  sobre o Vasco contribuíra para colorir mais a segunda partida da  semifinal. Todo o favoritismo do bi-campeão carioca desaparecera. Tudo era equilíbrio. E a situação pendia para o campeão paulista. E o ‘match’ ganhava ainda mais importância porque, segundo o  regulamento do torneio, para o Palmeiras, que já tinha uma vitória, bastaria um empate para chegar à final. E, nessas condições,  somente a vitória interessava para o Vasco.

O regulamento previa que, em caso de uma vitória para cada equipe, seria critério de desempate o saldo de gols. No entanto, se, por exemplo, o Vasco ganhasse por  diferença de um gol, igualando a diferença que o Palmeiras obtivera na primeira partida, seria levado em conta, então, o saldo de gols da primeira fase, e o Vasco tinha um saldo melhor.

Antes da decisão entre os dois representantes brasileiros, os que vaticinavam que, dessa vez, o Vasco ia superar o Palmeiras, esqueciam, ou não queriam notar, que o  Vasco da Gama não jogara tudo o que podia na primeira partida porque o Palmeiras não permitira; achavam que bastaria ao Vasco jogar metade do que sabia na semifinal decisiva e a vaga estaria assegurada. Como pensava José Lins do Rego,  por exemplo, que deixou isso claro em sua coluna: (…)Só queremos a vitória, a tal vitória com “V”… Queremos o Vasco jogando metade do que sabe. Porque se entrar com essa disposição, em campo, não há periquito que se aguente”. (Jornal dos Sports, 14/07/51 – REGO, José Lins do – Esporte e Vida – O Vasco). Ele não sabia do que eram capazes os periquitos… e iria ficar com eles atravessados na garganta…

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E não era só ele… Em outra coluna do jornal, dizia-se que o Vasco que perdera para o Palmeiras não era o Vasco mesmo, parecia o Vasco, mas não era o Vasco. (…) “aquele team não era o do Vasco. Numa época em que tudo se falsifica, inclusive o dinheiro, falsificaram o team do Vasco.” Dizia-se também que como o Vasco não esteve no Maracanã, palavras não eram ditas, fechou-se o café da Marocas. O Palmeiras viu-se à vontade… Foi um chuá…”, “os vascaínos deixaram o Maracanã a cantar a ‘Jardineira’…”

“Oh, jardineira, por que estás tão triste? 
O que foi que te aconteceu?
Foi o Vasquinho que caiu do galho,
Deu dois suspiros e depois perdeu.
Vem, Palmeirinhas,
Vem meu amor, 
Não fiques prosa,
Que esse mundo é mesmo assim,
Tu ganhaste quarta-feira
Mas no domingo está pra mim” – (Jornal Dos Sports, 13/07/51, pág.4 – Zé de São Januário – Uma pedrinha na Shooteira)

Isso mesmo. A torcida do Vasco, mesmo vendo o seu time ser derrotado, saíra cantando da primeira semifinal… e provocando o Palmeiras. Tudo isso fazia – e faz – parte do universo futebol, e fazia parte da disputa do primeiro Mundial de Clubes. Aquela semifinal era o maior Rio-São Paulo (o maior campeonato do Brasil, na época) de todos os tempos… e levaria um clube brasileiro à final do primeiro, e maior, campeonato do mundo entre clubes campeões da Europa e América.

Em terras bandeirantes, claro, a torcida toda era pelo Palmeiras. O fato é que Palmeiras e Vasco eram os dois melhores times do país e, dentre os quatro concorrentes à vaga na final, o Palmeiras saíra na frente. A situação do Palmeiras se tornara excelente e, para o Vasco, só havia uma alternativa: vencer o Palmeiras na segunda partida.

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Mas, antes disso, no sábado, Juventus e Áustria, que tinham ficado no 0 x 0 no primeiro jogo, decidiriam no Maracanã a primeira vaga à final, e os torcedores todos, encantados com o bom futebol das duas equipes no torneio, principalmente com o do representante da Itália – dentre os times estrangeiros, o Juventus, pelo futebol apresentado,  era a sensação da Copa Rio (Ottorino Barassi sabia das coisas)  -, certamente iriam em grande número acompanhar a partida entre os dois. Meu pai, muito provavelmente, já planejando com os amigos a viagem para assistir à final, acompanharia atentamente esse jogo para saber quem seria o adversário do Palmeiras – mesmo sem nunca ter perguntado isso a ele, posso garantir (meu sangue me diz isso) que ele tinha certeza que o Palmeiras estaria na final.

Era chegada a hora.. o primeiro finalista sairia da partida entre austríacos e italianos. Os torcedores cariocas estavam bem empolgados com a possibilidade de ver novamente o Juventus, a sensação do mundial entre os participantes estrangeiros.

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No entanto, assim como para Palmeiras e Vasco, as chances de classificação tanto para o Austria como para o Juventus estavam abertas. E a imprensa dizia: “A bola é redonda para os dois… Poderá vencer o Austria como o Juventus”.

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Os austríacos voltavam ao Rio transbordando alegria. Aurednick, satisfeito com o 3 x 3 na primeira partida semifinal, em São Paulo, elogiara bastante o time do Juventus, seu adversário, dizendo, entre outras coisas, que o quadro italiano “era team para as finais, era team, inclusive, para ser campeão”.

Juventus x Austria foi a partida entre quadros estrangeiros que mais interesse despertou nos torcedores. E o Juventus teve uma vitória espetacular no Maracanã – 3 x 1. Depois de um 0 x 0 no primeiro tempo, La Vecchia Signora (como “a” Juve era/é chamada na Itália) em quinze minutos da segunda etapa, com dois gols de Mucinelli e um de Boniperti, decidiu a partida e se classificou à final.

Os jornais diziam que, enquanto o Juventus fizera um jogo mais positivo, o Austria se preocupara mais com o virtuosismo, esquecendo-se de que, para vencer, é preciso marcar gols (e pensar que, hoje em dia, tem jornalista esportivo que acha que posse de bola vale mais do que gols marcados e vitórias). Final de jogo: Juventus 3 x 1.

.Juventus: Viola; Bertuccelli e Manente; Mari, Ferrari e Piccinini, Muccinelli, Karl Hansen (Scaramuchi), Boniperti, Yan Hansen e Karl Praest (Pasquale Vivolo). Técnico: Jesse Carver
Áustria: Schweda; Melchior II e Josck; Fischer, Orcwick e Schleger; Ernst Melchior, Koeller, Hubber, Ernst Stojaspal e Aurednick. Técnico: Heinrich “Wudi” Müller
Estádio Municipal do RJ – Maracanã 
Renda: CR$ 776.140,00
Árbitro: Edward Craigh (Inglaterra)
Gols: Muccinelli 8′, 2ºT, Muccinelli 10′, 2ºT, Boniperti 14′, 2º T , Stojaspal

O Juventus, que tinha agora a companhia, e a torcida, do Comendadore Agnelli – o jovem multimilionário, presidente das fábricas de automóveis FIAT, de Turim, as maiores da Europa, e também presidente e torcedor número 1 do Juventus -,  só esperava pelo seu adversário na final… E qual seria ele? Palmeiras ou Vasco da Gama?

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Ademir tirara o gesso, mas ainda não poderia jogar pelo Vasco… Barbosa era dúvida no gol cruzmaltino… Aquiles, de perna quebrada, levaria meses para voltar aos gramados pelo Palmeiras… Valdemar Fiume talvez pudesse jogar – o técnico palmeirense ia esperar a avaliação médica que seria feita na manhã de domingo… Sarno, a pedido do Palmeiras para a organização do torneio, tinha sido chamado ao Rio de Janeiro e integrado à equipe. O jogo valeria vaga na final… e seria um duelo de campeões.

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E o domingo, ansiosamente aguardado, chegou… corações a mil… Palmeiras e Vasco da Gama iam buscar a vaga na final do Torneio Mundial de Clubes… a alma inquieta, o friozinho na barriga, o coração batendo descompassadamente… eram as sensações que acompanhavam os torcedores.

Será que meu pai dormiu bem naquela noite? Será que, fanático como era, ficou nervoso, ansioso, pensando no jogo antes de dormir? Não preciso nem tentar adivinhar… é claro que ficou! Sabemos bem como é isso. Ficaram insones todos os palmeirenses, os vascaínos, todos os torcedores brasileiros que sonhavam com a conquista de um mundial para o Brasil. Palmeiras a um passo, a um empate, da final do primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões… Santo Dio!

Com a possibilidade de prorrogação, o aviso era feito no jornal: o jogo começaria pontualmente às 15 horas…

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As conversas eram muitas, os prognósticos também. Cada qual com seu palpite, com a sua escalação… Como já foi dito anteriormente, com exceção dos palestrinos, claro, e dos demais torcedores paulistas, boa parte dos brasileiros ainda apostava no Vasco. Isso se devia ao fato de que ele era a base da seleção brasileira, jogava em sua casa, diante da sua torcida, e com a responsabilidade de ter que vencer de qualquer jeito… No entanto, esses mesmos, que apostavam suas fichas no Vasco, temiam a equipe paulista, que já saíra na frente na primeira partida, e com todos os méritos.

Aproximadamente 80 mil torcedores (muitos palmeirenses também) estavam no estádio (63.668 pagantes)… a renda foi espetacular: Cr$ 1.914.325,00, e o jogo entre os dois não foi fácil… foi uma luta. O Vasco, que só poderia ganhar ou ganhar para se classificar à final, foi mais positivo no primeiro tempo, mas sem muita organização e eficiência, digamos assim. “Notava-se grande diferença entre os avantes e o sexteto defensivo carioca. Este, jogava com segurança, enquanto a ofensiva, algo embaralhada, mostrava-se impotente para vencer o cerco palmeirense” – Jornal de Notícias, 17/07/51

O dono da casa, como não poderia deixar de ser pelas circunstâncias, foi pra cima do Verdão no primeiro tempo. O Palmeiras, com a vantagem pela vitória no outro jogo, e sabendo que o adversário vinha “mordido”, querendo descontar o prejuízo de qualquer maneira, tratou de conter o ímpeto do Vasco da Gama na nessa primeira etapa. “Tão logo firmou-se o Palmeiras na defesa, os atacantes prendiam a bola, tocavam, sem grande preocupação de entrar na área. A luta, renhida, era entre o ataque do Vasco e a defesa do Palmeiras, que se favorecia com o empate”.  E, para desespero dos vascaínos, o primeiro tempo tempo terminou sem alteração no marcador.

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Na segundo tempo, a coisa mudou de figura, o Palmeiras, que, inteligentemente, conseguira minar as pretensões do Vasco na primeira etapa –  isso certamente mexera com a confiança e nervos do time adversário -, foi para o ataque também… “Não obstante, e fosse a marcação a sua principal preocupação, a intermediária da equipe visitante achava tempo para lançar os avantes, os quais, em rápidos contra-ataques, ganhavam o campo adversário”.

“Aos 19 minutos, houve o lance mais discutido do prélio. Chico recebendo a bola em posição ilegal, venceu o arqueiro Fábio. Todavia, o impedimento foi acertadamente assinalado pelo juiz, que não validou o tento, a despeito das reclamações dos guanabarinos…”

Nos minutinhos finais, o Palmeiras se postaria na defesa para agarrar e carimbar a vaga na final do mundial

“Aos poucos, a produção do Vasco foi caindo. Não aguentaram aquele ritmo ligeiro que vinham imprimindo desde o início, o que proporcionou aos palmeirenses exigir empenho do arqueiro Ernani, em lances de perigo. Bem armada e decidida, a equipe palmeirense forçou a conquista do tento da vitória. Poucos minutos antes do término, o Palmeiras recuou visando garantir o resultado” – Jornal de Notícias, 17/07/51 – Empatando com o Vasco da Gama classificou-se o Palmeiras para as finais do Torneio Mundial.

E foi assim…  Jogando de maneira inteligente, sabendo quando segurar e quando atacar, esbanjando categoria na defesa, e tendo o maestro Jair lá na frente – seu futebol fazia a diferença e chamava a atenção na competição -, que o Palmeiras, para delírio inenarrável dos seus torcedores, deu o maior passo da sua história até então, classificando-se para a final do primeiro Mundial de Clubes Campeões.

VASCO 0 X 0 PALMEIRAS
Vasco
: Ernani; Augusto e Clarel; Eli, Danilo e Alfredo; Tesourinha, Friaça, Amorim, Maneca e Djair. Técnico: Oto Glória.
Palmeiras: Fabio; Salvador e Juvenal; Túlio, Luiz Villa e Dema; Liminha, Ponce de Leon, Richard, Jair e Rodrigues. Técnico: Ventura Cambon.
Estádio Municipal do Rio de Janeiro – Maracanã
Renda: Cr$ 1.914.325,00

Árbitro: Grill (Áustria)
Assistente 1: Popovic (Iugoslávia)
Assistente 2: Craig (Inglaterra)

Um resultado que muitos não esperavam, e que o coração palestrino já sabia, desde sempre, que aconteceria.

“O Palmeiras, após aqueles desastrosos 4 x 0 que sofreu na peleja contra o Juventus, da Itália, ferido em seu brio, reagiu de forma espetacular e conseguiu eliminar um dos mais sérios concorrentes à conquista da Copa Rio, o Vasco da Gama… Atuaria ele (o Vasco) em seus domínios e, incentivado pela sua enorme torcida, não lhe seria difícil impor-se ao Alviverde. Mas o campeão paulista tinha outros planos… venceu por 2 x 1 e sua vitória não deixou margem à dúvida. Foi líquida e serviu para mostrar que aquele revés contra o Juventus havia sido obra do excesso de confiança… o campeão paulista confirmou a sua exibição. Enfrentou um adversário que não escondia o desejo de ampla desforra. Estavam os cruzmaltinos, na verdade, dispostos a tudo para conseguir a vitória e, por conseguinte, o direito de disputar as finais. A fibra alviverde, porém, mais uma vez venceu. Bateram-se os companheiros de Jair com vontade e denodo, não permitindo a concretização das pretensões cariocas” – Jornal de Notícias, 17/07/51 – Madeira, Jaime – Ponto de Vista – A Quinta Coroa.

A torcida alviverde, que estava no Maracanã também, orgulhosa do feito do Palmeiras, enlouqueceu de alegria,  os paulistas não cabiam em si de felicidade, os jogadores vibravam no gramado, eram aplaudidos – pelos outros torcedores também… Sarno correu abraçar Liminha, que acenava para a torcida, comemorando a façanha de eliminar o forte concorrente e estar com o Palmeiras na final…

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O Palmeiras, que era o melhor “team” do Brasil naquele ano de 1951, que  conquistara quatro torneios na temporada, ia agora, merecidamente, em busca da sua quinta coroa… a mais brilhante delas… a mais desejada… Ia em busca do título de campeão do mundo. Quanta responsabilidade.

A sorte estava lançada… Os brasileiros tinham o seu representante na final. O Palmeiras agora era o Brasil.

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Que viessem os italianos… com o Palmeiras, o Brasil estava pronto para enfrentá-los.

VII – OLHA O MUNDIAL DE CLUBES AÍ, GENTE

A dignidade não consiste em possuir honrarias, mas em merecê-las”- Aristóteles
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O Mundial ia começar… a hora finalmente chegara… a maior disputa entre clubes do mundo, entre campeões de vários países da América do Sul e Europa. Os brasileiros ansiavam por ela, e ansiavam também por ver os craques estrangeiros em campo. E os participantes estavam prontos.

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Na Itália, o Torneio dos Campeões era notícia também… No dia da rodada de abertura do torneio, o jornal “Corriere dello Sport” falava da “grande manifestazione calcistica” del “TORNEIO DEI CAMPIONI”.

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A estreia do Palmeiras, campeão paulista de 1950, campeão do Rio-São Paulo de 1951, seria contra o Olympique Nice (FRA), no Pacaembu, pela rodada de abertura do Torneio Mundial de Clubes Campeões. No Maracanã, jogariam Áustria (AUS) e Nacional (URU). E o jornal falava da “sensacional abertura do Torneio dos Campeões”.

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Era 30 de Junho, um sábado. Maracanã e Pacaembu seriam os palcos por onde desfilariam os artistas da bola do mundial interclubes. Os jogos da primeira rodada seriam às 15h00… e quase 40 mil pessoas (28.700 pagantes – não pagantes sempre eram milhares e, na maioria das vezes, ultrapassavam a casa de dez mil pessoas) foram ao Pacaembu naquela tarde  para assistir Palmeiras (BRA) x Nice (FRA).

O Nice, como o campeão francês era chamado, era apresentado pelo jornalista Tomaz Mazzoni como “[…] um conjunto dos mais harmoniosos, com uma sólida defesa e uma vanguarda bem ajustada, requisitos indispensáveis a uma boa equipe” – MAZZONI, Tomaz. Apresenta-se o Palmeiras na “Copa Rio”. Jornal dos Sports, 30 de junho de 1951, pág. 3.

E, uns dias antes, na chegada do Nice, o presidente da comitiva, Sr. Sattegna, já tinha declarado: “Viemos, acima de tudo, estreitar os laços de amizade que unem brasileiros e franceses. Não temos grandes pretensões. O nosso principal objetivo é competir e fazer aquilo que nos for possível dentro das nossas condições técnicas. Na França, e no mundo inteiro, ninguém tem dúvidas da alta categoria do football brasileiro. E por isso mesmo que, pra mim, o Palmeiras e o Vasco são os favoritos desse desfile de quadros mundiais. […] Não quero dizer que vamos ser facilmente esmagados. Também não há de ser fácil. Mas de qualquer maneira, as nossas possibilidades com Palmeiras e Vasco são reduzidas”. Jornal dos Sports, 26 de Junho, de 1951, p.6 – Desfilam impressões os franceses.

O Nice tinha uma sólida defesa… O presidente da comitiva francesa deixava claro que Palmeiras e Vasco eram por eles considerados favoritos… Deve ter sido por essas duas coisas, e pelo nervosismo também (disputar o primeiro mundial de clubes era uma responsabilidade enorme), que o primeiro tempo ficou no 0 x 0 (para o Palmeiras ainda tinha o adicional de o torneio mundial ser um ano após o “Maracanazzo”). O técnico francês, temendo o bom futebol dos brasileiros, preferiu armar uma retranca daquelas, que o Palmeiras só conseguiu furar na segunda etapa.

E naquela tarde de “Brasil x França”, no Grupo B, chave de São Paulo, tarde de estreia brasileira no Mundial de Clubes, exatamente aos 8 min do segundo tempo, o Palmeiras quebrava o ferrolho francês… Aquiles sofreu pênalti de Firoud, ele mesmo cobrou e colocou o Palmeiras à frente no placar. Três minutinhos depois, aos 11′, o craque Jair da Rosa Pinto fez uma jogada espetacular e tocou para Ponce de Leon completar e aumentar a vantagem do Palmeiras. Os palestrinos faziam o Pacaembu vibrar. E, aos 30′, Richard, dando números finais à partida, marcou o terceiro do Palmeiras. A bola ainda tocou em Gonzales antes de entrar.

Fatura liquidada. Para alegria dos palmeirenses, e dos demais torcedores do país, era a primeira vitória brasileira no Mundial de Clubes Campeões… a primeira vitória do time do Verdão. Très bien, Palmeiras! E o sangue, que um dia correria em minhas veias, já começava a receber as primeiras colorações de uma alegria do tamanho do mundo…

PALMEIRAS 3 x 0 NICE (FRA)
Palmeiras
: Oberdan; Salvador e Juvenal; Waldemar Fiume, Luiz Villa e Dema; Lima, Aquiles (Richard), Ponce de León, Jair Rosa Pinto (Rodrigues) e Canhotinho. Técnico: Ventura Cambon.
Nice-FRA: Robert Germani; Serge Pedin e Mohamed Firoud; Jean Belver, Cesar Gonzalez e Rossi Leon; Bonifaci Antoine,  Bengtsson Per, Yeso Amalfi, Désir Carrè e Hjalmars Ake. Técnico: Numa Andoire
Estádio do Pacaembu – São Paulo-SP
Árbitro: 
Franz Grill (Áustria)
Gols:  Aquiles (8′, 2ºT), Ponce de Leon (11′, 2ºT), Richard (30′, 2ºT)
Nenhuma ocorrência com cartão vermelho (ainda não existiam os cartões amarelos)
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No Maracanã, pelo Grupo A, na chave do Rio de Janeiro, diante de um público de 27.463 (18.429 pagantes – Renda CR$ 552.220,00), o Áustria Viena (AUS), numa partida primorosa goleou o Nacional (URU) por 4 x 0.

ÁUSTRIA VIENA(AUS) 4 X 0 NACIONAL (URU)
Áustria:
 Sweis, Melchior II, e Kowanz, Fischer, Ocwirk e Sukach, Melchior I, Koller, Huber (Higgers), Stojaspal e Aurednik.  Técnico: Heinrich “Wudi” Müller.
Nacional:  Penalva, Santamaría e Duran, Suarez (Cruz), Washington e Cajiga, Sovelio (Rutelli), Javier Ambrois, Tiger, J. Garcia (Julio Perez) e Orlandi. Técnico: Henrique Fernandez
Estádio Municipal do Rio de Janeiro, Maracanã – RJ
Árbitro
: Powers (Inglaterra)
Gols: Lukas Aurednik (22′, 1º T e 27′, 1º T), Ernst Stojaspal (8′, 2º T e 40′, 2º T)

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No domingo, na continuação da primeira rodada, o Vasco, base da seleção brasileira de 50 e um grande favorito ao título, estrearia na competição enfrentando o Sporting (POR) no Maracanã; no Pacaembu, o confronto seria entre Estrela Vermelha (IUG) e Juventus (ITA).

E foi nesse mesmo domingo, 1º de Julho, que o presidente em exercício da CBD, Mario Pollo, enviou uma nota de agradecimento ao jornalista Mario Filho, o idealizador do torneio:

Ilmo Sr. Mario Rodrigues Filho – No momento em que se inicia o Torneio Internacional de Clubes Campeões, a Confederação Brasileira de Desportos presta ao grande jornalista-esportista a homenagem merecida por ter sido o inspirado idealizador do certame, cujas proporções atingirão o prestígio e o renome do football brasileiro, no concerto mundial das nações. Em futura oportunidade esta Confederação se sentirá muito feliz em reafirmar o justo preito que agora lhe leva. Manifestando, pois, os sentimentos da instituição representativa do football brasileiro, agradeço também a colaboração constante, eficiente, ampla e entusiasta que o jornal sob sua direção vem dando ao êxito do Torneio. Com os protestos de minha particular estima e do meu elevado apreço. Dr. Mario Pollo – Presidente em exercício

A C.B.D. agradece a Mario Filho o idealizador do “Torneio dos Campeões”. Jornal dos Sports, 1 de julho de 1951, pág. 3.

À tarde,  o Vasco fez, então, a sua tão esperada estreia no Maracanã… cheio de gente.  Diante de 91.438 pessoas (79.712 pagantes – renda: CR$ 2.964.000,00) o outro representante do Brasil goleou o Sporting (POR),  por 5 x 1. Friaça, aos 9′ do primeiro tempo, abriu o placar para o Vasco, Tesourinha, aos 41′, fez o segundo. Na segunda etapa, no primeiro minuto, Ipojucan marcou o terceiro do Vasco;  Patalino, aos 33′, diminuiu para o Sporting; Ipojucan, aos 38′, e Dejayr, aos 45 deram números finais à partida. Uma grande vitória do Vasco diante dos campeões portugueses. E essa vitória, com goleada, deixou os brasileiros mais confiantes ainda nas possibilidades do time brasileiro.

VASCO DA GAMA 5 X 1 SPORTING (POR)
Vasco da Gama
: Barbosa, Augusto (Laerte), Clarel, Ely, Danilo, Alfredo II, Tesourinha, Ipojucan, Friaça, Maneca e Dejayr. Técnico: Oto Glória.
Sporting: Azevedo, Serafim (Belenenses), Passos, Juvenal, Canário, Juca (Veríssimo), Jesus Correia (Patalino, “o Elvas), Vasques, Ben David (Atlético), Travassos e Albano. Técnico: Randolph Galloway
Estádio Municipal do Rio de Janeiro-RJ
Árbitro
: Gabriel Tordjan (França)
GOLS – Friaça (9′, 1ºT), Tesourinha (41′, 1ºT), Ipojucan (1′,  2ºT), Ipojucan (38′ 2ºT) e Dejayr (45′ 2ºT) marcaram para o Vasco;  Patalino, “O Elvas” (33′, 2º T) marcou para o Sporting.
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Pelo Grupo de São Paulo, nesse mesmo domingo, jogaram Juventus (ITA) e  Estrela Vermelha (IUG) – não há a informação sobre o público, a renda foi de CR$ 874.965,00. Com tantos jogadores da seleção italiana no Juventus e da seleção iugoslava no Estrela Vermelha, a partida foi quase um ITA x IUG,  e o time italiano venceu os iugoslavos por 3 x 2. Tomazevich abriu o placar, aos 17′, para o Estrela Vermelha, Boniperti marcou duas vezes, empatando aos 25′ e virando o jogo aos 42′. Na segunda etapa, Mitic deixou tudo igual, em 2 x 2. Aos 40′, Praest fez o terceiro e deu a vitória ao Juventus.

JUVENTUS (ITA) 3 x 2 ESTRELA VERMELHA (IUG)
Juventus: Viola, Bertucelli, Marente, Mari, Parola, Piccinini, Muccinelli, John Hansen, Bonipert, Karl Hansen e Praest. Técnico: Jesse Craver
Estrela Vermelha: Lovric, Stankovich, Ditich, Palbi, Djurjevich, Djajich, Ogujanov, Mitic, Tomazevich, Ilakovitch (Zlatkovich), Vukosaljevich (Jezervich). Técnico: Lubisa Brocci
Estádio do Pacaembu – São Paulo-SP
Árbitro: Alberto da Gama Malcher (Brasil)
Gols
: Boniperti (25′, 1ºT), Boniperti (42′, 1ºT) e Karl Hansen (40′, 2ºT) marcaram para o Juventus
……….Tomazevich (17′, 1ºT) e   Mitic (15′, 2ºT) marcaram para o Estrela Vermelha

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A segunda rodada teve duas partidas no dia 3 de Julho. Pelo Grupo A, o grupo do Rio de Janeiro, Sporting (POR) e Nacional (URU) jogaram no Maracanã, às 21h00. Aproximadamente 30 mil pessoas (21.642 pagantes – renda de CR$ 387.840,00)  assistiram à vitória do Nacional sobre o Sporting, por 3 x 2. Com essa vitória, conseguida no finalzinho de jogo, os uruguaios entravam na briga pela classificação.

NACIONAL (URU) 3 X 2 SPORTING (POR)
Nacional
: Penalva, Santamaria e Duran (Holley), Suarez, Washington Gomez, Vargin, Rosselo, Julio Perez (Javier Ambrois), Gimenez, Bermudez e Ramires. Técnico: Henrique Fernandez
Sporting: Azevedo, Serafim e Juvenal, Canário, Passos e Juca (Veríssimo), Jesus Correia, Vasquez, Patalino (Bem David), Travassos e Albano. Técnico: Randolph Galloway
Estádio Municipal do Rio de Janeiro – RJ
Árbitro: 
Galvatti (ITA)
Gols: Bermudez (12′,1ºT), Ramirez (30′, 2ºT), Javier Ambrois (43′, 2ºT) marcaram para o Nacional
……….Patalino (10′,1ºT), Jesus Correia (15′, 1ºT) marcaram para o Sporting

Disse a imprensa da época que foi um grande jogo. Jogo nervoso, extremamente viril, com expulsões, mas de muita luta e entusiasmo, e que o Sporting merecia ter empatado (depois da final da Copa, a torcida brasileira, claro, era praticamente toda para os portugueses, e muitos torcedores vaiaram os uruguaios durante a partida). Para se ter uma ideia, Julio Perez, jogador do Nacional, precisou ser substituído por causa do nervosismo excessivo. Nervosismo, que o próprio técnico afirmou ser o retrato do time em campo.

No dia seguinte, no jornal, além das informações sobre a tristeza que se abateu sobre a equipe do Sporting (POR) com a derrota para os uruguaios, no finalzinho de jogo (também, no final da partida, o português Bem David perdeu duas chances, na cara do gol), e sobre a declaração do jogador Azevedo, de que “nunca sentira tanto uma derrota”, havia também um relato emocionante sobre os vestiários uruguaios pós jogo. Relato que mostrava bem a importância do torneio mundial para clubes e jogadores:

“A entrada dos uruguaios no vestiário ofereceu uma nota emocionante. Lá se encontrava Julio Perez, que havia se retirado de campo devido ao seu intenso nervosismo, num momento, aliás, crítico para o seu bando. Isolado entre as paredes do vestiário, Julio Perez, o bravo e incansável artífice dos ataques do Nacional não soube exatamente o instante em que findara o “match”. Súbito, abrem-se bruscamente as portas e entram os companheiros, em tremenda algazarra, anunciando a vitória! Vitória em que Perez, a rigor, já descria… Encontramos o crack uruguaio em tremenda crise de nervos, que a emoção do triunfo e a festa dos companheiros lhe causaram:

– Julito! Julito!

Perez, no auge do entusiasmo, chorava de tanto contentamento. Tinha os olhos congestionados e o rosto umedecido de lágrimas. Os rapazes do Nacional, para evitar a insistência dos fotógrafos, cobriram Julio Perez com uma grande toalha. E lá, coberto e rodeado sempre pelos “players”, ficou sentado no banco, refugiou-se por fim nos chuveiros, até que desaparecessem os derradeiros vestígios, nos olhos vermelhos e na voz rouca,  das suas lágrimas e dos seus soluços… Refeito da violenta crise, Julio Perez, cordialmente, falou aos repórteres. Fôra uma partida duríssima, onde prevalecera mais a fibra. Confessou que jamais experimentara emoção como aquela: a vitória e as circunstâncias em que a conheceu…”
Jornal “Última Hora”, de 04 de Julho, de 1951, p.9. “Sob forte emoção, que o pôs fóra de jogo, Julio Perez chorou com a vitória.

A emoção e a vontade de vencer eram muito grandes no primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões…
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Pelo Grupo B, o grupo de São Paulo, no Pacaembu, também às 21h00, jogaram Juventus (ITA) x Nice (FRA).  Não há registro do número de pessoas que assistiram à partida, só o da renda que foi de CR$ 200.995,00. O Juventus venceu o Nice por 3 x 2. Pasquale Vivolo abriu o placar para os italianos aos 11′ do primeiro tempo. Jean Courteaux empatou para os franceses aos 20′. Karl Praest colocou o Juventus em vantagem aos 35′. Na segunda etapa, Courteaux empatou de novo para o Nice, aos 15′. Aos 32′, Muccinelli marcou o terceiro e deu a vitória ao Juventus. Mas o Nice jogou bem e perdeu duas grandes chances com Ieso e uma com Ben Tifour, que, sozinho diante do gol, chutou por cima e muito alto. O Nice também reclamou da arbitragem. O auxiliar marcara “off-side” na jogada que resultou no primeiro gol do Juventus, mas o árbitro, confiando em sua própria percepção, validou o gol. Com duas vitórias, o time italiano ficava com uma das duas vagas do Grupo de São Paulo para as semifinais.

JUV (ITA) 3 x 2 NICE (FRA)
Juventus
: Viola, Bertucelli, Manente, Mari, Parola, Piccinini, Mucinelli, Karl Hansen, Pasquale Vivole, John Hansen e Karl Aage Praest. Técnico: Jesse Craver
Nice: Robert Germani; Serge Pedin e Mohamed Firoud; Jean Belver, Cesar Gonzalez e Rossi Leon; Jean Courteaux, Bonifaci Antoine (Ieso),  Désir Carre, Hjalmars Ake e Bentifur. Técnico: Numa Andoire
Estádio do Pacaembu – São Paulo-SP
Árbitro: Franz Grill (Áustria)
Gols: Pasquale Vivole (11′, 1ºT), Praest (35 ‘, 1ºT), Muccinelli (32’, 2ºT) marcaram para o Juventus
………Jean Courteaux (20′, 1ºT e aos 15′, 2ºT) marcou para o Nice.

 

Ainda pela segunda rodada, no dia 4 de Julho, o Vasco enfrentaria o Áustria, mas devido ao frio e mau tempo, a partida foi remarcada para o dia seguinte. E se já havia grande interesse no jogo por parte dos torcedores, as 24 horas extras de espera aumentaram esse interesse ainda mais.

As duas equipes vinham de goleadas aplicadas em seus adversários anteriores. Mais de 100 mil pessoas  (93.833 pagantes – renda: CR$ 2.615.000,00) assistiram à partida. E o Vasco, sem Ademir (ele não se recuperaria a tempo de disputar o torneio mundial) venceu o Áustria por 5 x 1. Mas foi o austríaco Melchior I, cobrindo o goleiro Barbosa, quem abriu o placar no Maracanã, aos 10′. Aos 15′, Friaça empatou a partida, aos 21′, o mesmo Friaça virou o jogo, colocando o Vasco à frente no marcador. Ainda no primeiro tempo, Tesourinha fez o terceiro dos brasileiros. Na segunda etapa, Friaça aos 18′ e aos 39′ assinou a goleada brasileira e colocou o Vasco na semifinal.

VASCO 5 X 1 ÁUSTRIA (AUS)
Vasco:
 Barbosa; Laerte e Clarel; Eli, Danilo e Alfredo; Tesoura (Noca), Ipojucan, Friaça, Maneca (Tesoura) e Djair. Técnico: Oto Glória
Áustria: Schweda (Plovs); Melchior II e Kowanz; Fischer, Ocwirck e Jocksen; Melchior I, Koller (Kominac), Huber, Stoyassat e Aurednick. Técnico: Heinrich “Wudi” Müller.
Estádio Municipal do Rio de Janeiro – Maracanã
Árbitro: Mr. Power (ING)
Gols: Melchior I (10′, 1ºT) ; Friaça (15′  e 21′, 1ºT); Tesourinha (1ºT),  Friaça  (18′  e 39′, 2ºT)
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Completando a segunda rodada, com jogo remarcado para o dia 5 também, o Pacaembu recebeu Palmeiras x Estrela Vermelha (IUG). A previsão era a de uma noite muito fria em terras paulistanas. Liminha e Rodrigues estavam escalados.

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O Alviverde Imponente ia em busca da sua segunda vitória e da classificação no grupo. E o Palmeiras venceu os iugoslavos por 2 x 1, mas levou um susto quando Ongjanov abriu o placar para o Estrela Vermelha, aos 8′ do primeiro tempo. Aquiles empatou o jogo aos 30′. Na segunda etapa, aos 35′, Liminha, que tivera problemas de gastrite e se recuperara para a partida, marcou o  segundo e selou a classificação do Palmeiras. A nota preocupante foi Jair, machucado, ter que ser substituído antes do término do jogo. E justo ele, que vinha ganhando destaque no campeonato.

PALMEIRAS 2 X 1 ESTRELA VERMELHA (IUG)
Palmeiras
: Oberdan; Salvador e Juvenal; Waldemar Fiúme, Luiz Villa e Dema; Lima, Aquiles, Liminha, Jair Rosa Pinto e Canhotinho (Rodrigues). Técnico: Ventura Cambon.
Estrela Vermelha: Krivokuca Srboljuc; Tadic e Stankovi Branko; Palfi Bena, Duratinec e M. Disuic; Ognjanov, Mitic Raiko, Tomasevic Kosta, Djajic Predrag e Vukosavljevic Bane. Técnico: Lubisa Brocci.
Estádio do Pacaembu – São Paulo-SP
Árbitro: Gabriel Tordjan (França)
Gols: Ongjanov (8’ do 1ºT), Aquiles (30’ do 1ºT) e Liminha (35’ do 2ºT)

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A terceira e última rodada da fase de grupos seria disputada nos dias 07 e 08 daquele Julho de tantas e imensas emoções…
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No Maracanã, no dia 07, se enfrentaram Sporting (POR) x Áustria (AUS). Não há registro do número de pessoas que assistiram à partida, só o da renda que foi de CR$ 339.895,00. A segunda vaga no grupo ainda estava disponível. Áustria, Nacional e até mesmo o Sporting, dependendo de uma combinação de resultados, tinham chances de ir para a semifinal. Por isso as partidas eram importantes. E o Áustria venceu o Sporting por 2 x 1.

SPORTING (POR) 1 X 2 ÁUSTRIA (AUS)
Áustria
: Paul Schweda; Oto Melchior e Karl Kowanz; Fischer, Ernst Ocwirk e Joksch; Karl Melchior, Koller (Koelin), Adolf Huber, Ernst Stojaspal e Lukas Aurednick. Técnico: Heinrich “Wudi” Müller.
Sporting: Azevedo; Serafim e Juvenal; Canário, Passos e Barros; Jesus Correia, Vasquez (Vieira), Patalino, Travassos e Albano. Técnico: Randolph Galloway
Estádio Municipal do Rio de Janeiro-RJ (Maracanã)
Árbitro: Mika Popovic (Iugoslávia)
Gols: Auredinick abriu o placar para os austríacos no primeiro tempo; na segunda etapa, Albano empatou para o Sporting; Huber fez 2 x 1 e praticamente colocou o Áustria na semifinal.
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Pela chave de São Paulo, no Grupo B, a partida foi Nice x Estrela Vermelha. As duas equipes já não tinham mais chances de classificação. O Nice venceu a partida por 2 x 1. Não há registro do número de pessoas que assistiram à partida, só o da renda do jogo que foi de CR$ 198.800,00

ESTRELA VERMELHA (IUG) 1 X 2 NICE (FRA)
Estrela Vermelha
: Krivokuca; Tadic  e Djakic (Nesovich); Palfi, Djurdjevic e Djajic; Tihomir, Ognjanov, Rajko Mitic, Zlatkovic, Knstic e Jezerka. Técnico: Lubisa Brocci
Nice: Germain; Rossi e Firoud; Bonifaci, Gonzalez e Beiver (Pedine); Corteaux, Ieso, Pär Bengtsson, Carrè (Cartidia) e Abdelaziz Ben Tifour – Técnico: Numa Andoire
Estádio do Pacaembu – São Paulo-SP
Árbitro: Mario Viana (Brasil)
Gols: Rajko Mitic (1′, 2ºT) marcou para os iugoslavos,  Ben Tifour (4′, 2ºT) e Pär Bengtsson, de pênalti (2º T), marcaram para o Nice.

Nesse jogo em que as duas equipes, já eliminadas, se despediam do Torneio Mundial de Clubes Campeões, houve uma ocorrência: O goleiro Krivokuca, do Estrela Vermelha, empurrou o juiz  juiz brasileiro, Mario Viana, e cuspiu em seu rosto, porém, ele não foi expulso de campo.
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Completando a terceira e última rodada da fase de grupos, no dia 08 de Julho, Vasco e Palmeiras, já classificados, enfrentariam os representantes de dois países bicampeões mundiais: Uruguai e Itália. O Uruguai tinha conquistado a Jules Rimet em 1930 e 1950, e a Itália se sagrara campeã em 1934 e 1938. Estaria em disputa também a primeira colocação nos grupos. Era Brasil x Uruguai, no Rio; Brasil x Itália, em São Paulo…

A partida do Grupo do Rio de Janeiro era muito aguardada. O Vasco, a base da seleção vice-campeã do mundo de 50, enfrentaria o Nacional, campeão uruguaio, e representante do país que tomara do Brasil a Taça Jules Rimet, há menos de um ano… O público pagante foi de 61.766, para uma renda de CR$ 1.532.120,00. O Nacional tinha esperanças de vencer o Vasco (dizia-se na época, que seus dirigentes, confiantes em uma vitória, e em uma possível classificação, haviam até reservado um  hotel para o restante do torneio). Mas quem venceu o jogo, por 2 x 1, foi o Vasco, acabando com as pretensões dos uruguaios, consolidando a sua classificação e ficando em primeiro em seu grupo.

VASCO DA GAMA 2 X 1 NACIONAL
Vasco: 
Barbosa; Augusto e Clarel; Eli, Danilo Alvim e Alfredo; Tesourinha, Ipojucan (Amorim), Friaça, Maneca e Dejair. Técnico: Oto Glória.
Nacional: Penalva; Santamaria e Holdoway; Duran, Washington Gomez e Varela; Rosselo (Ramiro), Julio Perez (Ambrois), Gimenez, Bermudez e Orlandi. Técnico: Henrique Fernandez.
Estádio Municipal do Rio de Janeiro – RJ (Maracanã)
Árbitro
: Power (Inglaterra)
Assistente 1: Franz Grill (Áustria)
Assistente 2: Gabriel Tordjan (França)
Gols: Djair (36′, 1ºT), Ipojucan (23′, 2ºT), não há registro sobre o autor do gol do Nacional.
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Da mesma maneira, era grande o interesse na partida do Grupo de São Paulo entre Palmeiras e Juventus (ITA). Muito embora as duas equipes já estivessem classificadas, estava em jogo a liderança do grupo, uma vez que o líder enfrentaria o segundo colocado do Grupo do Rio de Janeiro nas semifinais, e o segundo colocado enfrentaria o Vasco.

O Pacaembu estava lotado. 37.639 eram os pagantes – Renda: Cr$ 1.120.905,00. O Palmeiras foi a campo com uma formação diferente, sem três titulares – Jair, um desfalque e tanto, tinha saído machucado no jogo anterior, foi banco naquela partida e atuou só em parte da segunda etapa, o zagueiro Salvador e o atacante Luiz Villa  não jogaram -,  e deu tudo errado para o Palmeiras. O Juventus, que tinha uma defesa muito boa, sólida, mas também tinha atacantes perigosos, venceu por 4 x 0. Boniperti, aos 10′ e aos 18′ do primeiro tempo, deixou o Juventus com 2 x 0 no placar.  Na segunda etapa, os 3′, Karl Hansen marcou o terceiro, Praest, aos 35′, deu números finais ao placar fazendo o quarto gol. Pra desgosto dos brasileiros, que esperavam que Palmeiras e Vasco pudessem ser os dois finalistas, os representantes do Brasil no mundial de clubes iriam se enfrentar na semifinal e só um seguiria em frente – as glórias palestrinas sempre parecem preferir percorrer os caminhos mais difíceis… Juventus e Áustria decidiriam a outra vaga na final.

PALMEIRAS 0 X 4 JUVENTUS (ITA)
Palmeiras
: Oberdan; Sarno e Juvenal; Waldemar Fiúme, Túlio e Dema; Lima, Aquiles (Ponce de Leon), Liminha, Canhotinho (Jair Rosa Pinto) e Rodrigues. Técnico: Ventura Cambon.
Juventus: Viola; Bertucceli e Manente; Mari, Parola e Piccinini; Muccinelli, Karl Hansen, Boniperti, Johan Hansen (Vivole) e Praest. Técnico: Jesse Carver.
Estádio do Pacaembu. São Paulo-SP
Árbitro: Edward Graigh (Inglaterra)
Assistente 1: Gardeli (Itália)
Assistente 2: Mika Popovic (Iugoslávia)
Gols: Boniperti (10’ do 1ºT), Boniperti (18’ do 1ºT), Karl Hansen (3’ do 2ºT) e Praest (35’ do 2ºT)

Fim da fase de Grupos… Os clubes classificados já estavam definidos… Palmeiras e Juventus, do grupo de São Paulo, enfrentariam Vasco e Áustria,  do grupo do Rio de Janeiro.

A sorte estava lançada, uma equipe brasileira estaria na final… Palmeiras ou Vasco representariam o Brasil na decisão do primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões. Palmeiras ou Vasco iriam em busca do título que faltava ao Brasil… Uma felicidade, inédita, novinha em folha, daquelas de estremecer e emocionar um país inteiro, já espreitava os torcedores brasileiros…

VI – O MUNDIAL ESTÁ ÀS PORTAS

“O tempo dirá tudo à posteridade. É um falador. Fala mesmo quando nada se pergunta” – Eurípedes

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Em poucos dias, o mundial começaria… Oito times de sete países lutariam por uma taça… a mais valiosa taça que qualquer clube de futebol poderia desejar… a de campeão do mundo…

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A tabela do torneio ficou pronta:  Vasco da Gama, Sporting (POR), Nacional (URU) e Áustria Viena (AUS) no grupo A, o Grupo do Rio de Janeiro; Palmeiras, Juventus (ITA), Estrela Vermelha (IUG) e Olympique Nice (FRA) no grupo B, o Grupo de São Paulo.

Na abertura do Mundial de Clubes Campeões, que seria no dia 30 de Junho, um sábado, Áustria Viena x Nacional  jogariam no  Maracanã; Palmeiras x Olympique Nice, no Pacaembu. No domingo, 01 de Julho, no Maracanã, o Vasco enfrentaria o Sporting; pelo outro grupo jogariam Juventus e Estrela Vermelha.

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Os alojamentos das delegações já estavam reservados. O mapa com a lista de hotéis que hospedariam as delegações foi divulgado: RIO – Áustria, Hotel Riviera; Uruguai, Paissandú Hotel; Sporting, Hotel Paineiras. SÃO PAULO – Juventus, Hotel São Paulo; Olympique Nice, City Hotel; Estrela Vermelha, City Hotel.

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Para que o  Sporting, que era a base da seleção de Portugal, pudesse se preparar bem para a “Copa Rio”, seus “scratch men” (os jogadores da seleção) tinham sido dispensados da seleção lusa para que pudessem treinar convenientemente para o torneio.

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O Palmeiras que, nos primeiros meses de 51, também conquistara o Torneio Rio-São Paulo e a Taça Cidade de São Paulo, nesse mês de Junho, ainda iria fazer alguns amistosos antes da estreia no mundial – ele venceria o Arsenal (ING) por 3 x 1, empataria com o Portsmouth (ING) em 1 x 1 e,  seis dias antes de o torneio tão aguardado iniciar, e enquanto o técnico Ventura Cambón afinava a orquestra verde para os “concertos” que viriam, o Palmeiras venceria o Jabaquara por 7 x 1, pelo Campeonato Paulista-51 que se iniciava,  e que seria paralisado em seguida para o início do Mundial.

Os outros concorrentes do Torneio Mundial de Campeões também jogavam lá na Europa. E as notícias diziam que eles estavam em grande forma.

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Irineu Chaves, Superintendente da CBD revelava a previsão dos custos com o Torneio Mundial dos Campeões…  mais de quinze milhões de cruzeiros. Uma iniciativa semelhante à Copa do Mundo, que teria custo semelhante…

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Eram notícias e mais notícias sobre o mundial, sobre os times, os jogadores, a tabela, os prognósticos, a taça que seria ofertada ao campeão, as datas de chegada das delegações… Em 22 de Junho, o jornal destacava o centro médio Parola e o centroavante Boniperti, como as figuras de grande expressão do time do Juventus(ITA), e que seriam vistos no curso do Torneio Mundial de Clubes Campeões.

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Em meio a muita ansiedade e agitação a semana da abertura do torneio finalmente chegara… Sim, o Brasil estava em plena semana do Torneio Mundial. A expectativa era enorme, o clima era de festa… era como se fosse Copa do Mundo outra vez… Maracanã e Pacaembu iriam receber os jogos do primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões. E os brasileiros iriam sentir de novo as emoções do Campeonato do Mundo.

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Na confederação, o clima era de “Copa do Mundo” antes mesmo de o torneio começar…


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Os campeões europeus começavam a chegar… O Austria, trazendo em sua delegação a base da seleção austríaca, foi a primeira delegação a desembarcar no Galeão, e o time treinou no campo do Flamengo depois de os jogadores terem ido assistir à partida entre Fluminense x América… As outras delegações continuavam sendo muito aguardadas.


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E sem que fosse preciso esperar muito as demais delegações chegariam… a do Nacional – dos simpáticos campeões uruguaios, como dizia o jornal, tinha chegado no sábado (mesmo sendo bem recente a final da Copa do Mundo, não era ironia o adjetivo “simpáticos” na notícia); as do Áustria, Juventus e Olympique Nice já tinham chegado também. No domingo, o Estrela Vermelha (com 8 jogadores da seleção iugoslava) chegaria pela manhã, o Sporting chegaria à noite… Juventus, Nice  e Estrela Vermelha, do grupo do Palmeiras, rumariam para São Paulo. O Rio de Janeiro era uma empolgação só a cada desembarque no Galeão.

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As novidades eram muitas, todos os dias. A alegria dos brasileiros também era muita, era contagiante, a sua expectativa era maior ainda… De novo, uma outra “copa do mundo” no Brasil… de novo, a chance de o Brasil conquistar esse título. O título que faltava ao maravilhoso e respeitadíssimo futebol brasileiro. Era uma segunda chance, e dessa vez, tinha que dar certo. Vasco ou Palmeiras haveriam de conseguir o que a seleção deixara escapar na Copa Jules Rimet – era o que, confiantes, pensavam todos os brasileiros, e boa parte dos brasileiros achava que o Vasco, por ser a base da seleção de 50, ficaria com a taça.

Até a “Rainha do Rádio”, a cantora Dalva de Oliveira, profetizava que o Vasco seria o campeão… E a CBD decidia que haveria rodízio apenas para os concorrentes estrangeiros no Torneio Mundial de Campeões. O Vasco jogaria só no Rio de Janeiro, no Estádio Municipal; o Palmeiras jogaria só em São Paulo, no Pacaembu. No entanto, as finais seriam no Rio.

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A realidade do Mundial de Clubes era cada vez mais palpável… Nas notícias do “Correio da Manhã”, de 27/06/51, a informação para os torcedores era a de que no dia seguinte começaria a venda de ingressos para o Torneio Mundial de Clubes Campeões (Copa Rio). A Administração do Estádio Municipal, visando atender melhor a todos os que quisessem assistir à partida inaugural entre Nacional e Áustria, no sábado, resolvera colocar vários postos de venda na cidade e no subúrbio. Doze postos seriam instalados para atender aos torcedores.

Uma outra notícia, na mesma página, dizia que a delegação do Juventus, que tinha permanecido no Galeão até as 15h00, já tinha rumado para São Paulo e esperava poder fazer dois coletivos antes da estreia, na segunda rodada. Os paulistas, só na expectativa para a chegada dos adversários do Palmeiras…

E para os palmeirenses, para os vascaínos, para os brasileiros todos, quando se falava em Torneio Mundial, se falava no sonho de se conquistar a cobiçada taça, a taça que seria levantada por mãos campeãs… O Brasil sonhava com esse momento de levantar uma taça de campeão mundial,  de levantar a “Copa Rio”, o troféu a ser disputado no Torneio Mundial de Clubes Campeões, e que seria ofertado pela Prefeitura do Distrito Federal.

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E a taça, linda, confeccionada toda em prata, ficou pronta finalmente… e os que a viram disseram se tratar de amor à primeira vista… E antes de a “Copa Rio” ser entregue à CBD, um representante do prefeito apresentou-a a Mario Filho, o proprietário do “Jornal dos Sports” e idealizador do Torneio Mundial de Clubes Campeões.

“COPA RIO” AO VENCEDOR DO TORNEIO MUNDIAL DE CLUBES CAMPEÕES

 

João Carlos Vital, o prefeito, fez a entrega solene da “Copa Rio” aos dirigentes da CBD. O jornal dizia que pela expressão dos participantes, pelos expoentes do futebol mundial que participariam do torneio, ele poderia e deveria ser considerado mesmo uma nova Copa do Mundo. Dizia também que era com esse espírito de Copa do Mundo que os austríacos, iugoslavos, franceses e italianos, por exemplo, tinham vindo disputar o Campeonato Mundial de Clubes, idealizado por Mário Filho – os italianos, aliás, chegavam com disposição para reabilitar a própria “Azzurra”. E os uruguaios, do Nacional, já haviam declarado amor à Copa Rio, e achavam que ela faria muito boa companhia ao lado da Taça Jules Rimet –  que fazia pouco tempo o Uruguai conquistara aqui no Brasil.

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A tabela definitiva do Torneio Mundial de Clubes Campeões (Jornal dos Sports, 26/06/51) estava pronta e os torcedores já sabiam de “cor e salteado” quem jogaria contra quem e quais seriam os horários dos jogos em todas as fases da competição. Cada uma das duas rodadas da semifinal teria um jogo no Rio e outro em São Paulo, em mesmo dia e mesmo horário.

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A atmosfera de otimismo – até demais – pairava entre os brasileiros, todos acreditavam piamente na conquista do Mundial de Clubes pelo Brasil, por Vasco ou Palmeiras,  e um membro do Conselho Nacional dos Desportos, o Sr. Sylvio Mello Leitão, vendo esse otimismo exagerado dos torcedores (até hoje, 2018,  brasileiros são assim), e lembrando do recente e imenso desgosto na Copa do Mundo, alertava:

Às vésperas do mundial de clubes e justamente nas vésperas do mundial de clubes o ambiente era o mesmo da Copa do ano anterior, o mesmo que antecedeu aquele fatídico 16 de Julho… só se falava em vitória. O Brasil ansiava por essa conquista. Mas, com a situação tão semelhante, com o país em clima de uma nova “copa do mundo”,  era impossível não lembrar… impossível não sentir algum receio… a derrota da seleção brasileira na final da Copa Jules Rimet era ferida aberta ainda… e sangrava…

O jornal “A Noite”, do dia 29, trazia a informação de que a COMISSÃO DE IMPRENSA do Torneio Mundial de Clubes Campeões (Taça Rio) tornara público que seria exercida severa fiscalização no sentido de se evitar que pessoas estranhas à profissão tivessem acesso à tribuna do Estádio Municipal reservada à imprensa. Informava ainda que o ingresso de senhoras e senhoritas naquele recinto só seria permitido com a apresentação de carteira funcional.

Era o torneio mais importante depois da Copa do Mundo, era o primeiro Torneio Mundial de Clubes da história, e algumas das melhores equipes do mundo estariam participando, equipes de vários países, de países campeões do mundo, inclusive… por tudo isso, pela responsabilidade de o Brasil sediar o primeiro mundial, os brasileiros tentavam antever quaisquer problemas que pudessem ocorrer (na final da Copa do Mundo, estimou-se que aproximadamente  50 mil  “não pagantes” estiveram no Estádio Municipal do Rio de Janeiro).
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Era véspera da abertura do Torneio dos Campeões, e os torcedores do Vasco, que temiam que a sua equipe não pudesse contar com Ademir, o Magnífico, receberam boas notícias nesse dia. O técnico Oto Glória tinha informações de que o atleta, que estava lesionado, acusava animadoras melhoras, e o médico, Dr Giffoni, já admitia a hipótese de se antecipar a sua volta aos gramados. Oto Glória confirmaria ao jornal “A Noite” que continuava contando com a participação de Ademir, ainda na fase de classificação, para o jogo contra o Nacional. Os vascaínos torciam para que pudessem contar com o seu craque.

Para tranquilizar a torcida, até a imagem de uma radiografia do pé de Ademir foi publicada no jornal “Última Hora”, no dia 29/06, véspera da abertura do Mundial de Clubes Campeões.
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O Juventus, que chegara com cinco jogadores da seleção italiana e um da seleção sueca, também trazia a sua força máxima para o campeonato mundial de campeões (não tinha sido à toa que Barassi preferira o Juventus)…

Ieso, o brasileiro, que era craque na França, no Nice, avisava para tomarem cuidado com o time do Juventus (o Juventus acabaria mostrando que ele tinha razão)… Segundo ele, o time italiano era um grande perigo e ia impressionar o público brasileiro. Mais do que isso, ia concorrer com grandes possibilidades à “Copa Rio”. E ele advertia: “Abram os olhos com o futebol italiano; está passando por uma fase brilhantíssima, está se recuperando completamente (da fraca campanha na “Taça do Mundo”) – Jornal “Última Hora”, 29/06/51 – pág.8 – “Todo cuidado é pouco com o Juventus”.

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Aquele dia, que parecia não passar nunca, iria dormir sexta-feira e acordar sábado… do tão aguardado torneio mundial… A “Copa Rio” ia começar… 

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O Palmeiras, por sua vez – que nem imaginava o trabalho que iria ter com o Juventus, que nem imaginava a história, linda, que o Juventus iria ajudá-lo a escrever – estaria completo na estreia. E já estava escalado por Ventura Cambón com Oberdan, Juvenal, Palante, Valdemar Fiume, Luiz Vila, Dema, Aquilles, Ponce de Leon, Jair e Rodrigues – conheci a esposa de Palante, e conversei muito com ela, em alguns dos aniversários de Oberdan.

Era assim que tinha que ser. Pela grandeza do torneio, seria excelente que todos os participantes estivessem completos – tomara Ademir se recuperasse bem e em tempo pra jogar. O Brasil precisava que Palmeiras e Vasco, diante de fortes adversários estrangeiros, fossem a campo com as suas melhores formações porque o futebol brasileiro tinha um título cobiçadíssimo para conquistar…

O Mundial de Clubes ia começar… Nacional e Austria Wien se enfrentariam no Maracanã; Palmeiras e Nice seria a partida do Pacaembu. O Brasil faria a sua estreia na “Copa Rio”… e estava em jogo na “Copa Rio” um título de campeão do mundo (Jornal dos Sports, 22/06/51)…

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E naquela noite de 29 de Junho de 1951, o sono custaria a chegar para os brasileiros, para os palmeirenses, principalmente… Uma noite apenas e seria o dia da estreia. Agora ia ser pra valer. O Palmeiras seria o primeiro dos brasileiros a entrar em campo…

No escuro, de olhos fechados, mas ainda bem acordados, certamente os jogadores do Palmeiras sonhavam com a primeira vitória, imaginavam a hora de entrar em campo diante de seus torcedores, imaginavam o jogo, imaginavam lances, jogadas, gols… Oberdan provavelmente imaginava como  se defenderia dos atacantes franceses… e do brasileiro, ex-jogador de Palmeiras e São Paulo, Yeso Amalfi, que fazia um sucesso enorme na França e era considerado o “deus do estádio” por lá… Ventura Cambon certamente pensava na melhor maneira de fazer seus comandados se imporem diante dos franceses, de impedirem os adversários de chegar até a meta de Oberdan, de driblar o nervosismo e a ansiedade da sua equipe na estreia…. certamente ele sonhava com o Palmeiras jogando o que sabia e podia, indo em busca da sua quarta estrela… Os torcedores palmeirenses sonhavam com gritos de gol, com abraços, aplausos… meu pai (e claro que ele iria ao jogo) certamente sonhava com a vitória do seu time de coração…

No dia seguinte, quando a bola rolasse, o Palmeiras,  cheio de esperanças,  e sem se dar conta do muito que a vida lhe reservava naquele torneio, começaria a escrever uma das páginas mais lindas da sua história, da história do futebol brasileiro e mundial…

 

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