Escrito por Custódio Dias Junior 

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“Os princípios mais importantes podem e devem ser inflexíveis”
Abraham Lincoln

Um pouco sobre os bastidores do Allianz Parque…

Queria falar um pouco do que estou sabendo sobre um dos assuntos mais importantes na história do Palmeiras: o Allianz Parque. Como todos sabem, a relação entre Palmeiras e WTorre não é boa, fato que provoca curiosidade e dúvidas na cabeça do torcedor. A principal delas: por que está tão complicado resolver esse imbróglio? São várias as razões que fizeram a situação chegar nesse ponto, mas, sem dúvida, a pior delas é a postura da construtora em não querer honrar o contrato assinado e aceitar o que foi combinado com o clube. A construtora insiste em comercializar TODOS os lugares do Allianz Parque, enquanto o contrato prevê o direito da “parceira” apenas sobre os camarotes e 10 mil cadeiras especiais.

A renda realmente é do Palmeiras (os ingressos correspondem a um valor ínfimo em relação à venda da cadeira anualmente, pois a WTorre ofereceu 12 reais por ingresso), mas a construtora insiste em querer comercializar TODAS as cadeiras do nosso estádio e com isso, criar o seu próprio Sócio-Torcedor e aniquilar o nosso Avanti. Se a construtora vender TODAS as cadeiras do estádio, ela estará assassinando o nosso programa de Sócio-Torcedor. Se hoje, sem uma arena moderna, e com aproximadamente 37 mil torcedores filiados, o Avanti já fatura seis milhões de reais limpos para o Palmeiras, imaginem quanto arrecadaremos jogando na nossa nova casa, o Allianz Parque. Esse é o ponto crucial que a WTorre percebeu há alguns qual meses, e pelo qual, lamentavelmente, quis mudar a regra do jogo. Para que o torcedor tenha uma ideia, se continuarmos a jogar no Pacaembu vamos ganhar mais dinheiro do que com a “proposta” da WTorre.

Mal acostumados, pensaram que encontrariam uma diretoria fraca, que se intimidaria facilmente, mas, hoje, temos pessoas capazes, que defendem a SEP e brigam para que o clube não seja prejudicado.

A torcida palmeirense precisa saber que essa posição da WTorre pode gerar um prejuízo de mais de 100 milhões de reais anuais para o Palmeiras, e que se ela comercializar TODOS os lugares, como pretende, pelo cálculo de alguns especialistas consultados, o retorno de investimento para a construtora se dará em apenas 3 anos, ao invés dos 7/8 anos planejados desde o início do projeto.

O mais estranho dessa situação toda é que nas reuniões setoriais feitas no COF e no CD, sobre o assunto, ninguém contestou o relatório da Diretoria da Arena, que provava o direito do Palmeiras sobre as cadeiras restantes e que deixava, como em contrato, as 10 mil cadeiras especiais e mais as 3 mil cadeiras dos camarotes para a comercialização pela construtora. Ao contrário do que vem acontecendo, tanto na mídia palestrina como na tradicional, alguns conselheiros, cujos interesses são desconhecidos, vêm defendendo ferrenhamente a posição da WTorre,  contrariando o direito da SEP previsto em contrato.

A situação é constrangedora para alguns, porque, pessoas ligadas à diretorias passadas do Palmeiras, estão ignorando completamente o que foi pactuado e continuam tentando forçar um “acordo” para claramente beneficiar o nosso “parceiro” em prejuízo do Palmeiras. A situação de conflito de interesses é surreal, a ponto de diretores que defendiam os interesses da SEP há algum tempo, estarem agora vestindo a camisa da WTorre e, com a ajuda de um pequeno e inexpressivo grupo dentro do Palmeiras, brigam para que a construtora comercialize todo o nosso estádio.

Por isso palmeirense, é importante analisar calmamente a postura de todos os envolvidos nessa situação. Estamos revivendo um problema muito semelhante ao que tivemos em 1942, e nossos dirigentes na época brigaram com a própria vida para defender o patrimônio da SEP.

Nesse assunto essencial ao nosso futuro, situação e oposição precisam deixar as rusgas de lado e caminhar juntas na defesa do nosso estádio. O antigo Palestra Italia, hoje Allianz Parque, sempre será a casa da Sociedade Esportiva Palmeiras e todos nós precisamos defender o que é nosso direito por direito contratual!

Arena Palestra Allianz Parque (Foto: Divulgação / WTorre)

Nas últimas semanas, enquanto acompanhávamos o Palmeiras voltando à Série A e se encaminhando para a conquista do título (falta só um pouquinho, e vamos comemorar SIM), também passamos a acompanhar mais atentamente o impasse entre o clube e a empresa responsável pela construção do Allianz Parque, a construtora WTorre. O grande problema está na comercialização das cadeiras da arena. A WTorre, através de Walter Torre Junior, alega ter direito a negociar todos os assentos, e se vale de um contrato que diz ter sido assinado nessas condições, enquanto o Palmeiras, através do seu presidente, Paulo Nobre, discorda da construtora e diz que a parceira só pode ter 10 mil (dos cerca de 45 mil), conforme proposta apresentada em várias reuniões e acordada entre as partes.

Eu não sei se pra você é assim também, amigo leitor, mas, embora não tenhamos lido o contrato e nem participado das reuniões, durante esse tempo todo em que a arena vem sendo construída, não me lembro de ter ouvido nada sobre a construtora ter todas as cadeiras. Pra mim, isso é novidade, e só estou ouvindo essa conversa agora. Eu sempre entendi que eles teriam direito a negociar as cadeiras cativas (cadeiras especiais) e os camarotes. Pelo menos, era isso o que o Sr. Walter Torre Jr. afirmava para os torcedores em suas postagens no Twitter:

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Mas aí a gente pensa: “Essa é uma questão entre clube e construtora e quem tiver razão vai provar. Isso é coisa pra ser resolvida entre eles. Simples assim”. Que engano o nosso…

Há duas semanas, o Sr. Walter Torre Jr., desprovido de argumentos que justifiquem e sustentem a sua posição na tal questão das cadeiras e contrariando a polidez e o bom-senso exigidos para quem vai ser parceiro do Palmeiras e dos palmeirenses nos próximos 30 anos  (eles é que vão comprar o que for vendido lá, viu Sr. Walter? A torcida palmeirense é o seu público-alvo; milhões de pessoas que, aborrecidas com a postura da empresa e com o prejuízo ao Palmeiras,  poderão boicotar totalmente tudo o que for comercializado pela empresa dentro do Allianz Parque),  foi à imprensa para, pasmem, atacar a pessoa do presidente Paulo Nobre e até o time de futebol do Palmeiras. Esquecendo-se de sua condição de representante/dono de uma grande empresa do ramo imobiliário, e, principalmente, esquecendo que não tem nada que misturar os assuntos das cadeiras da arena com o futebol do Palmeiras – não são assuntos equivalentes -, ele perdeu a classe e foi grosseiro ao declarar:

“Não tenho culpa se o Paulo (Nobre, presidente) não consegue melhorar o time com novos jogadores. Por isso, ele foca a critica em nós. Como ele não tem dinheiro para o time, busca sucesso batendo em nós.”

Uma coisa a se repudiar e lamentar. Qual será que foi a parte do “a administração do futebol do Palmeiras não lhe diz respeito” que esse senhor não entendeu?

Mas, antes, o discurso dele era outro, e favorável aos interesses dos palmeirenses, interesses que agora ele esquece, e com os quais se aborrece.

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E não bastasse aquela primeira declaração desastrosa, ao rebater o que foi dito pelo presidente Paulo Nobre, de que o acordo sempre foi o de 10 mil cadeiras para a construtora e de que o Palmeiras, em atas, e-mails e documentos tem provas de que a empresa aceitou essas condições, ele saiu com essa:

“É mentira. Eles estão mentindo. Pode escrever isso no jornal. O documento é o mesmo que foi assinado no Conselho (Deliberativo). A arena é inteira nossa.

Deselegante e equivocado. A arena é do Palmeiras, Sr. Walter. Não é sua, nãoO senhor era tão simpático, educado e “palmeirense” antes, o que aconteceu?

Claro que depois dessas declarações tão “amistosas” se fazia necessário que o Palmeiras respondesse, e o presidente o fez:

“Não aceitamos em hipótese alguma ser ferida a soberania do clube. Queremos deixar muito claro que ninguém vai passar o Palmeiras para trás e nós vamos defender até última instância o interesse da nossa sociedade”.

“Me surpreende que uma obra já atrasada, o responsável pela construtora admita publicamente que está desacelerando. Isso me preocupa até juridicamente. Mas o Palmeiras não tem a menor preocupação sobre parar a obra”.

Custei a acreditar que a construtora pudesse, propositalmente, atrasar a obra. Mas o próprio Walter Torre Jr. admitiu que a construtora está, sim, diminuindo o ritmo de trabalho:

“Agora eu não sei mais, porque estamos reduzindo o ritmo dos trabalhos até que tenhamos um acordo com o Palmeiras”.

Esse “… até que tenhamos um acordo…” fica com uma cara de ameaça de paralisação. Depois disso, fico imaginando a confiança que possíveis futuros clientes terão na construtora… quantos deles irão querer se tornar clientes mesmo. E atrasar a obra não combina nem um pouco com o que antes era alardeado pelo empresário para os torcedores:

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Lendo as declarações dos representantes do Palmeiras e da construtora, acho que quem tem razão é o Palmeiras, e que o Sr. Walter Torre Jr. não está convicto do que afirma, pois, por falta de argumentos, ele atacou  presidente do Palmeiras e até o time de futebol. E por quê ele agiria assim, se está seguro de ter razão? Quem tem razão fica tranquilo e não “desce a ladeira” da polidez e da gentileza. Talvez essa grosseria/ofensa se deva exatamente ao fato de que ele não se sinta com tanta razão assim… Talvez ele saiba que as provas que o Palmeiras tem vão bater o martelo sobre a questão. Afinal, ele não agiu dessa maneira rude e deselegante nem mesmo quando a administração anterior se recusava a assinar o contrato, nem quando vivia sendo atacado por alguns ‘palestrinos’ opositores da arena, nem quando o MP e a prefeitura causaram um monte de problemas e fizeram com que a obra atrasasse.

E é difícil de entender como, durante todo esse tempo, as negociações foram tratadas com base nos 10 mil assentos (cadeiras) para a construtora e o contrato, aparentemente (só aparentemente), não trazer essa informação e aparecer um monte de palmeirenses defendendo a construtora. Difícil acreditarmos que no meio desse monte de gente envolvida, e que sabia dos acordos feitos, ninguém perceberia que uma questão tão importante não estava claramente definida ou que estivesse em desacordo com o que fora combinado em mais de uma reunião. Deu até para pensarmos que, deixar uma brecha para a construtora pleitear algo diferente do que foi acordado, poderia ter sido proposital.
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Acontece, que é baseada no próprio contrato assinado pelo Palmeiras, que a diretoria interpreta que a WTorre tem direito às 10 mil cadeiras especiais e às cadeiras dos camarotes e sai em defesa dos interesses do clube. É no contrato mesmo que estão algumas das provas de que o Palmeiras fala a verdade. Provas que passaram “despercebidas” por todos os que defendiam a construtora até agora – palmeirenses têm de defender o Palmeiras. Supondo que isso pudesse ter sido feito, de propósito, concluiríamos que não foram muito inteligentes e esqueceram de que no contrato sobraram provas de que o Palmeiras tem razão.
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Segundo foi publicado pela Folha de São Paulo,  que teve acesso à escritura da Arena, embora o contrato não faça menção ao número de cadeiras a serem exploradas por cada parte (esse ponto é que eu acho que foi “esquecimento” demais), a escritura de direito de superfície obtida pela Folha dá margem à interpretação feita pelo Palmeiras de que cabem apenas 10 mil lugares para a empreiteira.

No capítulo II da concessão da superfície, o texto afirma: “O projeto prevê capacidade mínima para 40.000 torcedores sentados em lugares numerados, com previsão mínima de 200 camarotes e 10.000 cadeiras especiais.”

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O texto separa lugares numerados de cadeiras especiais, você percebe? Lembram o que Walter Torre Jr. disse e que foi printado no começo desse post? “… a principal renda vem das cativas e dos camarotes…”. Fica bem evidente que as tais cadeiras especiais, são mesmo as cadeiras cativas.

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E mais, no capítulo IV, sobre a exploração comercial da arena, o documento diz que, como parte do pagamento, o clube terá participação sobre as receitas pela exploração da arena pela WTorre. Ao detalhar essas receitas, a escritura menciona receitas advindas de locação de cadeiras e camarotes.
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Os documentos comprovam que o Palmeiras está com a razão. E tanto é verdade, que no Conselho NINGUÉM da oposição foi contra a apresentação feita pela diretoria da Arena, que comprovou, mostrando a própria escritura de superfície e demais documentos, que a WTorre tem direito às 10 mil cadeiras e às cadeiras dos camarotes. Os que criticavam antes e defendiam a construtora, mudaram de opinião depois da apresentação, e isso agora está registrado em ata do CD.
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Porém, a construtora continuava insistindo e, segundo li, pretendia comercializar todos os lugares  e dar ao clube a parte que lhe caberia nos ingressos (quer implodir o programa de sócio-torcedor do Palmeiras, Sr. Walter?). Mudou o discurso de novo, porque o seu representante falava outra coisa antes:
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Quantas contradições… quanta coisa que foi dita e depois “desdita”…
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O impasse continua, ainda sem solução. O Palmeiras foi comunicado da decisão da empresa de acionar a mediação, recurso previsto na escritura do estádio para resolver impasses. A construtora indicou como mediador o advogado Braz Martins Neto; o Palmeiras, por sua vez, indicou o mediador  Kazuo Watanabe, professor doutor da Universidade de São Paulo e especialista em mediação. As partes indicarão um terceiro mediador e, então, os três indicados analisarão o contrato e proporão uma solução. A escritura diz que a conclusão sai em até 15 dias após a definição do terceiro nome, mas pode demorar mais caso o clube e a empresa não concordem com a solução encontrada pelos mediadores. Nesse caso, o impasse irá para a arbitragem.
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Vamos acompanhar o desenrolar de mais essa etapa, mas, diante de todas essas informações, vai ser difícil o Palmeiras não levar a melhor, está bastante evidente que ele tem razão.