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Esse país está mesmo do avesso…

Enquanto tem gente que reclama de racismo se alguém diz que a “coisa está preta”, se uma marca de batata frita lança um novo produto, sabor feijoada, e a embalagem (idealizada por um consumidor negro) é preta… que reclama de apropriação cultural se um branco usar uma peruca black power e, com um vitimismo ridículo, esvazia a real luta contra o racismo, o nivela com essas bobagens… tem outras pessoas que fazem declarações racistas, rindo, com a maior cara de pau, como se fosse piada…

Lembra do ex-jogador Edílson? Que ganhou fama no Brasil inteiro depois de ser contratado pelo Palmeiras em 1993 e ter sido Bicampeão Paulista e Brasileiro?

O mesmo, que em 99, defendendo o Corinthians, numa final de campeonato contra o Palmeiras, resolveu parar na lateral de campo e fazer embaixadinhas, colocar a bola no pescoço e fazer gracinhas, como se fosse um bichinho amestrado de circo (ser como um Cafu, um Antonio Carlos, Evair, Dracena, Zé Roberto… que pode jogar em um clube, se transferir para um grande rival, sem precisar desrespeitar nenhum deles, não é para qualquer um)?

Edílson, que na despedida de São Marcos cometeu o sacrilégio de tentar dar uma caneta no Divino. Um jogador tentar dar uma caneta em outro, num amistoso, embora seja deselegante, não teria nada demais se esse outro jogador não tivesse 70 anos (quase o dobro da idade dele) e se ele não fosse um dos maiores ídolos do clube onde esse “ser” jogou um dia e da torcida que lotava o estádio. Algumas coisas, relacionadas à educação, elegância, grandeza de espírito, não se pode ensinar a ninguém, não se pode comprar e nem emprestar…

E Edílson nos comprovou isso agora com uma declaração racista (a mim, parece racista) sobre o goleiro Jaílson, do Palmeiras, o nosso Jailsão da Massa.

Convidado da FoxSports, Edílson fez algumas declarações depreciativas sobre o Palmeiras e, entre elas, falou sobre o goleiro Jaílson. E na sua falta de bom senso costumeira, aliada à sua habitual vontade de ser engraçado (parece não querer perder a piada nunca), e lembrando de uma suposta declaração de Zinho nos anos 90, Edílson, que é negro, saiu com essa: “Goleiro negão sempre toma um gol”, “goleiro negão falha sempre” (Era negão o goleiro brasileiro do vexame do 7 x 1 na Copa, Edílson?). Lamentável. Falta de respeito com o Jaílson.

Edílson deve achar que, por ser negro, tem alvará para fazer piada escrota com outros negros, acha que é de boa falar assim sobre o Jaílson, que é engraçado. Mas não é. E os profissionais de imprensa do programa morreram de rir da “piada”, Edílson também riu. Ignorância generalizada no programa da Fox – justiça seja feita ao Mano, que defendeu Jaílson, não riu – mas não fez objeção nenhuma ao comentário sobre a cor ter alguma influência no rendimento de um jogador.

E como é possível  imputar à cor da pele de um goleiro ele tomar ou não tomar gols, não é mesmo? Ser melhor ou pior goleiro depende da cor da pele? Imagina se fosse um branco dizendo isso? Se fosse um certo deputado?  Se essa declaração de Edílson, que generaliza uma raça,  não for racista, eu sou japonesa. E ele disse também que os participantes do programa ‘não jogaram bola, não sabem, mas pele escura não dá certo no gol’. Dois absurdos numa mesma frase. …   “Pele escura”, Edílson,  tem nome, é pele negra.

Precisam avisar ao Edílson que Jailsão da Massa, lindo, amado, o ‘negão que não dá certo no gol’,  está há mais de 500 dias, há 27 jogos sem perder. Foi campeão Brasileiro-2016, jogando meio campeonato, sem perder nenhuma partida. Se isso é “não dar certo no gol”…

Precisam contar ao Edílson e ao pessoal da Fox, que os clubes do Brasil nunca deram muito espaço para goleiros negros, que sempre houve preconceito contra goleiros negros – preconceito, que Edílson parece querer ajudar a fortalecer com essa declaração imbecil, que os participantes do programa não quiseram coibir. Edílson, como um homem negro, e jogador que foi, deveria estar melhor informado e saber que esse clichê que ele repete vem desde Barbosa, o goleiro da seleção brasileira, que perdeu a final da Copa de 1950 para o Uruguai – o time deu uma amarelada, os uruguaios tiveram mais fibra, raça e determinação em campo, mas a culpa da derrota ficou só para o goleiro… negro.

A porcentagem de goleiros negros nos clubes do Brasil, que sempre foi pequena, só passou a aumentar depois que Dida, um goleiro negro, vestiu a camisa da seleção em 2006. Depois disso, os clubes passaram a dar mais oportunidades para goleiros pardos e negros. A estatística do crescimento dos goleiros negros passou de 18%, em 2005, para 20,5% em 2006, saltou para 25% em 2010, atingiu 31% em 2012, voltou para 25% em 2013 (estatísticas retiradas do livro “Goleiros: Heróis e Anti-heróis da camisa 1”, de Paulo Guilherme) … e hoje não deve ter mudado muito.

E eu não me lembro de ter ouvido o Edílson, ou qualquer outro, falar o mesmo sobre Dida – que Edílson jura que é “pardozinho” – na época em que os dois jogavam no Vitória, ou quando  Dida e Edílson jogavam no Corinthians… E Edílson, do mesmo jeito que ‘esquece’ de pagar a pensão alimentícia (já foi preso três vezes por isso) parece ter esquecido dos goleiros Felipe, Jefferson (pega muito), Aranha, Edson Bastos, Hélton (revelado pelo Vasco), Gomes, Sidão…

Perdeu uma boa chance de ficar calado… Era preferível ter perdido a piada, Edílson.

Quanto à Fox Sports, se lá estão tão sem assunto, que precisam até levar  um sujeito denunciado por fraude na Máfia das Loterias  para falar asneiras no programa, para depreciar um profissional por causa da sua cor, aqui vai uma sugestão: Que tal falarem sobre o depoimento do J. Hawilla, lá nos “isteitis”? O depoimento que cita o Andrés como responsável por subornar todo mundo (até presidentes e ex-presidentes de clubes) no esquemão com o Ricardo Teixeira. Contem os detalhes para os torcedores brasileiros, está todo mundo querendo saber.