Esse texto foi originalmente escrito em 2013, e repaginado em 2020.

“Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões” – Mario Minervino

20 de Setembro de 2020… 78 anos de um momento histórico… a Arrancada Heroica.

78 anos distante daquele Setembro, quando o nome Palestra Italia teve que deixar de existir para que seu estádio não fosse tomado, não fosse apropriado pelo São Paulo  – eles, que não tinham estádio, com a desculpa da guerra, dos italianos “inimigos” do Brasil, e com a ajuda da imprensa, que fez de tudo para pintar o Palmeiras como inimigo da pátria (você conhece bem a versão moderna desse tipo de jornalismo) queriam nos tomar o Palestra. É mole?

78 anos que se seguiram àquela semana em que Oberdan me seus companheiros, concentrados em uma chácara à espera do grande jogo de de 20 de Setembro de 1942, choraram ao serem informados que o nome Palestra Italia não mais existia… imagino a dor que calou no peito dos palmeirenses todos da época  (a vi estampada nos olhos de Oberdan, mais de 40 anos depois, quando ele me falou a respeito) e, de alguma maneira, posso senti-la hoje.

78 anos daquela promessa de vingança, feita por Oberdan e seus companheiros, do juramento de vencer o grande perseguidor do Palestra, na final  do campeonato que se daria na semana seguinte (faltavam dois jogos, mas, pela campanha feita, se o Palmeiras vencesse o São Paulo,  já seria campeão antes mesmo de enfrentar o Corinthians na última rodada)… e eles juraram honrar o Palestra, que morria, e a Sociedade Esportiva Palmeiras, que acabava de nascer…

Aqueles homens todos, que lutaram pela honra do Palestra, que salvaram nosso estádio de ser tomado pelo São Paulo; os que cercaram o Palestra com barris de gasolina para defendê-lo (imagine a cena, imagine o tamanho do amor): os que temeram, os que perderam o sono, os que choraram, que se revoltaram e jamais pensaram em desistir, em se entregar (isso ficou marcado em nosso DNA); os que entraram em campo pelo Palmeiras, pela primeira vez, carregando a bandeira do Brasil, e que foram aplaudidos, durante minutos, pelos mesmos que o esperavam para hostilizá-lo; os que amavam o Palestra e passariam a amar o Palmeiras… todos aqueles palmeirenses de então, não podiam imaginar que, passados 78 anos, o dia 20 de Setembro fosse, oficialmente, o Dia do Palmeiras (Lei nº 14.060 do calendário Oficial do Município de São Paulo)…

Não podiam imaginar que aquela família se tornaria nação e tivesse tantos filhos espalhados por todo o país e pelo mundo… E que esses filhos sentissem tanto orgulho do que eles fizeram, da sua luta… que os lembrassem com alegria e respeito, que lhes fossem tão gratos… que esses filhos comemorassem tanto o dia em que o Palmeiras nasceu campeão, quando o nosso patrimônio foi salvo, quando Oberdan e Cia, liderados pelo Capitão Adalberto, conquistaram o respeito de todos, quando fizeram o São Paulo fugir de campo (sim, eles correram), com medo de apanhar de mais do que 3 x 0… quando o Brasil conheceu a imponência de um gigante, e a honra e a força de sua gente.

O tempo passou, amigo, e nós estamos aqui, hoje, fazendo jus à nossa herança de um Palmeiras digno, honrado, imponente e gigante, com uma “tonelada” de títulos, legítimos, conquistados apenas com o seu suor e esforço dentro de campo… que encara os seus inimigos – e eles são tantos agora – de frente e não se vale de trambiques e armações, que prefere não fazer parte da “Tchurma”… estamos aqui para fazer jus à nossa essência de defender o Palmeiras com a mesma bravura e o mesmo amor dos nossos antepassados.

A história se repetiu, e foi com muita luta (imagina se seria diferente) que o Palmeiras, e todos nós, mais de 70 anos depois, defendemos o direito de transformar a nossa casa no Allianz Parque, a versão moderna e maravilhosa do antigo Palestra Italia, o estádio mais bonito e moderno do país, que não tem um único centímetro de concreto sequer que tenha sido comprado com dinheiro público. Tentaram nos atrapalhar, nos impedir, de todas as maneiras… mas nós vencemos, mais uma vez, e o Allianz Parque virou realidade, virou a nova casa dos palmeirenses… e, como não poderia deixar de ser, novos títulos, legítimos, limpinhos, foram conquistados… a Copa do Brasil 2015, os Brasileiros de 2016 e 2018, o Campeonato Paulista de 2020…

Assim é o Palmeiras! Assim somos nós, palmeirenses, palestrinos… está em nossa essência lutar e honrar nosso clube, a nossa casa, a nossa família; fazer as coisas da maneira certa e amar o Palmeiras acima de tudo… reverenciar a nossa história e os que a escreveram até aqui, deixando o caminho limpo para os que vierem depois de nós.

E é a nossa história, linda, com capítulos emocionantes, que nos faz permanecer altivos, nos faz levantar ainda mais a cabeça, olhar o céu e enxergar o sol, até mesmo quando os tempos ficam difíceis e as nuvens escuras teimam em aparecer… é a nossa história – e ter história é para poucos e bons – que nos faz cantar ainda mais alto, bater no peito e dizer: “Aqui é Palmeiras, p#rra!

Eu tenho muito orgulho da história desse gigante! Orgulho imenso de ter o sangue esmeralda correndo em minhas veias, de tê-lo herdado do meu pai…

Não sou eterna, mas o meu amor pelo Palmeiras é!

AUGURI, PALESTRA/PALMEIRAS!

 

Quem tem história, tem que contá-la, tem que transmiti-la às gerações futuras…

E se tem um clube que tem história, e uma história linda, pra ser contada, esse clube é a Sociedade Esportiva Palmeiras.

1942… A Segunda Guerra Mundial acontecia… o Brasil declarara guerra aos países do Eixo (a Itália era um deles) e, por causa disso, as colônias desses países no Brasil passaram a ser perseguidas…

Palestra Italia, de origens italianas… e italianos (japoneses e alemães também) passaram a ser mal vistos e perseguidos por brasileiros, passaram a ser vítimas do preconceito.

Pra se ter uma ideia, o presidente Getúlio Vargas decretara que os bens de italianos, japoneses e alemães, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas (que moravam e trabalhavam no Brasil e nada tinham a ver com o que se fazia na guerra) poderiam ser confiscados para compensar os prejuízos causados ao Brasil pelos países do Eixo – Decreto 4.166, de 11/Março/1942.

E mais, italianos, japoneses e alemães eram proibidos de falar os seus idiomas em público. Cartazes como esse, eram obrigatoriamente colocados em repartições públicas, comércios, clubes… e todo o rigor da lei estava destinado a quem desobedecesse.

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Nem as criancinhas, pobrezinhas, escapavam… No sul do país, as crianças de origem alemã, por exemplo (a maioria delas nascidas no Brasil), eram proibidas de se expressar em alemão, sob pena de serem colocadas de castigo.

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Tempos difíceis, de perseguição,  xenofobia, de ódio insuflado… imagina a vida dos imigrantes aqui? Imagina se no futebol, onde já existe/existia grande rivalidade normalmente, a loucura da guerra não encontraria solo fértil?

Palestra Italia perseguido, caluniado (algumas coisas não mudaram, não é mesmo?) sofrendo todo o tipo de preconceito… E, em meio à perseguição que a guerra ocasionava, havia o “extra” de alguns que queriam se aproveitar da situação. Era o que queriam fazer com o Palestra, e com o seu estádio. Sim, queriam se apropriar do seu patrimônio.

O campeonato Paulista de 1942 estava em curso, em meio à gigantesca tensão que a guerra ocasionava… O Palestra era líder, mas, em Março de 1942, temendo as consequências da perseguição sofrida, resolveu alterar o seu nome para Palestra de São Paulo (muitas outras instituições fizeram o mesmo, como, por exemplo, o Palestra Italia de Minas Gerais, que virou Cruzeiro), seu escudo, naquela ocasião, perdeu a cor vermelha e passou basicamente a ser verde e amarelo.

O Palestra de São Paulo disputou seis partidas com essa denominação, venceu as seis, mas as autoridades que o perseguiam, alguns jornais que também o perseguiam (ainda existe isso nos dias de hoje, não é mesmo?) não se deram por satisfeitos.

Embora a palavra “Palestra” seja de origem grega, as autoridades do governo alegando que ela fazia alusão à Itália, determinaram que o nome do clube fosse novamente alterado.

Uma questão era observada atentamente pelos dirigentes palestrinos… Na troca de nome, o clube já havia cumprido com as suas obrigações perante a lei. E mesmo assim o obrigavam a mudar de nome mais uma vez. Isso deixava claro que havia realmente uma perseguição ao clube.

Imagina a situação? Faltavam duas partidas para o final do campeonato e bastava uma vitória ao Palmeiras para que ele fosse o campeão (seria o seu nono título paulista). No entanto, o clube corria um sério risco de perder seu patrimônio, e até mesmo, de ser fechado.

Graças a Deus nossos dirigentes eram iluminados… sabiam que poderiam perder seu patrimônio, seu estádio, para outros clubes; sabiam que havia um clube, o São Paulo, que estava de olho no Parque Antarctica, e poderia se aproveitar dessa hostilidade e perseguição ao clube de origens italianas,  – alguns jornais tentavam contaminar os brasileiros pintando o Palestra como traidor da pátria. Os dirigentes, sagazes, imbuídos da necessidade de defender e proteger o clube, perceberam que algo mais precisava ser feito…

Graças a Deus também, que o Capitão Adalberto Mendes fora designado pelo Exército para servir em São Paulo e, nas coincidências da vida e do “acaso” (a ajuda sempre vem de algum lugar) acabou conhecendo e se identificando com o Palestra, criando laços de amizade com dirigentes, e acabou sendo nomeado 2º vice-presidente por Ítalo Adami, o presidente palestrino na época. O Capitão Adalberto poderia vir a ser também a figura patriota que amenizaria a hostilidade da qual o Palestra era vítima.

Uma importante reunião aconteceria em 14 de Setembro de 1942 (ela não deve ter sido nada fácil)… e nela, Mario Minervino, que era da diretoria, diria as palavras que não cansamos de orgulhosamente repetir até hoje… “Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões”.  E assim nascia a Sociedade Esportiva Palmeiras…

Décadas depois, Oberdan Cattani me contaria o que foi pra eles, jogadores, essa mudança. Diria que o time estava concentrado na chácara de um diretor quando eles receberam a notícia da mudança de nome… Diria que ele e os companheiros ficaram muito tristes… Me contaria que ele e alguns jogadores choraram, que não conseguiram nem dormir direito à noite… diria também que todos sabiam que era o São Paulo por trás daquela situação. Que o clube rival tinha um diretor que era do Exército… Já estávamos na primeira década do novo século, depois de tantos anos passados, e os olhos de Oberdan, ao falar do assunto, mostravam ainda a profunda tristeza que ele sentira… Foi impossível não sentir o mesmo também.

Por isso, imaginei com que  espírito e motivação foram eles para o jogo decisivo…

O Palestra vinha de 18 partidas, com 16 vitórias, 8 empates, 61 gols marcados e apenas 15 sofridos… e agora, como Palmeiras, teria o adversário/inimigo pela frente…  Boa parte da imprensa caprichava na “arte” de macular a imagem do Palmeiras na semana que antecedia o jogo, lhe “presenteando” com os piores adjetivos possíveis na tentativa de jogar a opinião pública contra ele (por outros motivos e intenções, boa parte dela continua agindo do mesmo jeito nos dias atuais). A pressão era muito grande em cima dos palestrinos/palmeirenses.

Mas não se faz o aço sem fogo, não é mesmo?

Milhares de pessoas lotavam o Pacaembu… A torcida palestrina, que já era uma das maiores da capital, era muito numerosa no estádio; no entanto, era grande o número de antipalmeirenses  também…

O cenário estava pronto para que o Palmeiras entrasse em campo intimidado… Certamente ele seria muito vaiado e teria que entrar cabisbaixo, ferido na alma, no orgulho… Um cenário muito favorável ao seu adversário. Havia muita tensão antes do jogo, antes da entrada do Palmeiras em campo.

Mas era o Palmeiras… e ele nascia pra superar as adversidades que encontrasse em seu caminho…  nascia pra mostrar que era brasileiro sim senhor… nascia, sim, pra ser campeão…

O Capitão Adalberto teve a ideia de o time entrar com a bandeira do Brasil; ele entraria, fardado, com o time também (Oberdan me diria, anos depois, que eles gostaram muito da ideia porque a bandeira significava que eles lutariam pelo Brasil se fosse preciso, e era assim que se sentiam)…

E, então, o Palmeiras entrou em campo… “Após alguns segundos de surpresa por parte de todos, fomos muito aplaudidos e nenhum ato hostil nos foi desferido” –  Capitão Adalberto em depoimento a Luiz Granieri em 1982.

Sim, ao contrário do que imaginara muita gente – seu adversário, inclusive –  o Palmeiras nascia aplaudido, altivo… brasileiro, respeitado. E tinha pela frente a missão de vencer o jogo cuja vitória simbolizava toda a luta que o Palestra teve que enfrentar pra defender seu patrimônio, para defender o direito de existir como clube de futebol.

Oberdan, inspiradíssimo (imagina se não?),  e usando o azul no uniforme pela primeira vez (a partir dali os uniformes dos goleiros palmeirenses seriam azuis), fazia boas defesas e colocava por terra algumas tentativas iniciais do adversário. E, aos 20 minutos, o ponta Claudio Pinho abriu o placar no Pacaembu, marcando o primeiro gol da Sociedade Esportiva Palmeiras.

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Poucos minutos depois, aos 23′, Waldemar de Brito empatou o jogo. Aos 43′, Del Nero fez o segundo para o Palmeiras. A partida era nervosa, muito disputada… havia muito mais do que um campeonato em jogo…

Jogo nervoso, equilibrado… Para os adversários só a vitória interessava…  eles bem que tentaram, mas o time do Palmeiras, que parecia estar mais bem preparado, ter mais disposição, força em campo (por que será, né?) defendia tudo.

Aos 14 minutos, Echevarrieta ampliou a vantagem do Palmeiras… 3 x 1.  Três minutos depois, Og Moreira invadiu a área e sofreu uma entrada violenta do zagueiro são-paulino, Virgílio. O árbitro marcou o pênalti.

Os adversários, que não queriam perder o jogo de jeito nenhum, ficaram revoltados e não deixavam o Palmeiras cobrar a penalidade. E, então, aos 21 minutos, os são-paulinos abandonaram a partida. Sim, meu amigo,  muito provavelmente para não ter que ver o Palmeiras se sagrar campeão ali no Pacaembu, o São Paulo correu do jogo… Ter visto o Palmeiras ser aplaudido ao entrar em campo – quando esperavam que ele fosse humilhado -, já deve ter sido demais pra eles.

O árbitro aguardou o término do tempo regulamentar e apitou o final da partida… Palmeiras Campeão Paulista de 1942.

Não foi só mais um título, não é mesmo? Contra tudo (de ruim que quiseram lhe imputar), contra todos (os que quiseram lhe prejudicar), o Palmeiras escreveu uma página linda de sua história… a da Arrancada Heroica…

É por isso que 20 de Setembro está no calendário oficial do Município de São Paulo como o DIA DO PALMEIRAS (lei nº 14060)… e nós o comemoramos como o dia em que o Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu campeão!

Auguri, Palestra…Parabéns, Palmeiras!! 

“Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras” – Mario Minervino

Hoje, 20 de Setembro, é Dia do Palmeiras (Lei Nº 14.060 do Calendário Oficial do Município de São Paulo)… dia em que comemoramos a ARRANCADA HEROICA.

Há 76 anos,  durante a guerra, e por causa dela, o Palestra Itália, por suas origens italianas, foi maldosamente “pintado” por alguns jornais como um inimigo da nação… e, por isso, corria o risco de perder o seu patrimônio, e de ver a sua “casa” tomada por aproveitadores (o São Paulo queria ficar com o Parque Antártica)…

Há 76 anos, o Palestra Italia, pra defender a sua honra e o seu patrimônio, se tornava Palmeiras…

Há 76 anos, no Pacaembu lotado, na final do Campeonato Paulista de 1942, no primeiro jogo da história do Palmeiras que acabara de nascer, o “time dos italianinhos”, carregando a bandeira do Brasil, e sob uma chuva de aplausos de todo o público presente ao estádio, passava a ser o “time dos brasileiros”… e era definitivamente “adotado” no coração do Brasil…

A coragem, a fibra e a grandeza da gente palestrina sobrepujaram e humilharam o inimigo em campo (ele fugiu do jogo) e fizeram o Palmeiras campeão…

Bravíssimo, Palestra/Palmeiras!! Tanti auguri #orgulhoimenso

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“Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões” – Mario Minervino

Arrancada Heroica… 20 de Setembro de 1942…

Dia do Palmeiras  em 2017 (lei 14.060)… Dia de Palmeiras em campo e campeão, pela primeira vez,  em 1942…

Dia em que, há 75 anos, maldosamente pintado como “inimigo da pátria  pelos que queriam se apossar de seu patrimônio e o queriam hostilizado pelos brasileiros, o Palmeiras, com origens italianas e coração brasileiro, e que por causa da perseguição aos italianos durante a Segunda Guerra teve que mudar de nome (o Brasil se alinhara aos EUA na Segunda Guerra contra os países do Eixo, portanto, contra a Itália), entrou em campo com Oberdan, Junqueira, Begliomini, Zezé Procópio, Og Moreira, Del Nero, Cláudio Pinho, Waldemar Fiume, Lima, Villadoniga, Echevarrietta e Del Debbio (técnico), ao lado do capitão do exército Adalberto Mendes, e por ideia dele, carregando uma bandeira do Brasil.

O jogo era contra o São Paulo (o clube que queria tomar o patrimônio do Palmeiras – o estádio, principalmente). Penúltima partida do Campeonato Paulista de 1942… e valendo o título. O título de um campeonato disputado quase todo pelo Palestra, líder da competição (18 jogos,16 vitórias, 2 empates, 61 gols marcados e 15 sofridos),  e que faria a partida decisiva como Palmeiras, o seu novo nome…

O Palmeiras, que como a maioria imaginava, seria vaiado, seria hostilizado pelos anti palmeirenses, anti “inimigos da pátria” que estavam no Pacaembu, que seria muito pressionado – o que facilitaria a vida do adversário –  tão logo entrou em campo, carregando a bandeira do Brasil, e depois de apenas alguns segundos de surpresa por parte do público no estádio, foi muito aplaudido por todos que lá estavam…

E em seu “batismo”, o Palmeiras sairia de campo imponente, honrado, admirado e campeão. Venceria o inimigo – e os seus ardis. Defenderia o seu patrimônio, o seu gol e cada centímetro de campo com o mesmo empenho, com a mesma fibra. E mostraria a todos que era tão brasileiro quanto qualquer um dos outros times brasileiros, mostraria que era digno, honrado… raça, fibra, sangue nas veias e um amor do tamanho do mundo pelo clube era(é) a receita do “ser Palestra/Palmeiras”…

Mas não foi um jogo qualquer, foi difícil, aguerrido (ao São Paulo só a vitória interessava),  representava muito mais do que uma conquista de campeonato, e o Palmeiras foi melhor. E porque aquele Palmeiras, que acabava de nascer, era melhor, era maior em campo,  o adversário abandonou a partida no começo da segunda etapa. Sim, o São Paulo saiu/fugiu de campo. Não teve competência e nem coragem para disputar a partida até o fim, não quis que o Palmeiras cobrasse um pênalti quando ele já vencia por 3 x 1 (Cláudio Pinho, Del Nero e Echevarrieta marcaram para o Palmeiras); não teve brio para suportar ser vencido e, quem sabe, goleado… não teve grandeza para ver o Palmeiras ser campeão ali no Pacaembu. Mas isso é história. Está nos livros e todo mundo sabe.

Eu tive o prazer e o privilégio imenso de colocar  no peito a faixa de campeão de 1942 quando estive na casa de Oberdan Cattani, por ocasião de um aniversário dele, há muitos anos. Tive também a oportunidade de “viver” essa história, contada por ele, um dos personagens da Arrancada Heroica – quando entrávamos na década em que iríamos comemorar o centenário do clube…

E foi através do relato de Oberdan que eu conheci e senti o que a história não tinha me contado… Conheci as lembranças que só ele tinha… conheci o período, tão conturbado, que os palmeirenses viveram em 1942, as dúvidas, o receio… senti a mesma e imensa tristeza que eles sentiram quando o Palestra teve que mudar o seu nome … senti o nó na garganta e as lágrimas dos jogadores que choraram por causa disso… a insônia dos que não dormiram na véspera desse acontecimento… senti o amor que eles tinham pelo Palestra, e que os fizera aceitar até mesmo a mudança de nome que não queriam… senti a raiva, a revolta que eles sentiram pela injustiça que faziam com eles, cidadãos brasileiros, e faziam com o seu clube, os fazendo parecer inimigos da pátria, apenas para lhes tomarem o patrimônio, para tomar o Palestra Italia… senti a apreensão e também a coragem que eles sentiram antes de entrar em campo naquele dia 20 de Setembro de 1942, fiquei também com o coração suspenso aguardando as vaias, que nunca vieram…

Enquanto os olhos de Oberdan, ora tristes, pesarosos, ora inundados de júbilo e orgulho – algumas vezes, furiosos também – brilhavam revendo imagens que só ele podia ver, enquanto em sua cabeça rodava o filme que só ele poderia assistir, enquanto ele me contava sobre aquele período de 1942 (as lembranças vivas, frescas, em sua memória)… eu imaginava… e era tocada pela energia do “contador de história”, era tocada pela aura da Arrancada Heroica… Me sentia arrebatada pela mesma bravura com que o Palestra foi defendido pelos seus, pela energia dos que encontraram as saídas (a mudança de nome duas vezes) para não ter que entregar o que era seu… senti a força e a coragem com que eles foram para aquele jogo, senti como foi importante o apoio do Capitão Adalberto Mendes…

E ele me contou dos aplausos, do tempo que as pessoas levaram os aplaudindo… me contou dos seus corações , surpreendidos, que se encheram alegria, da troca de olhares entre os atletas do Palmeiras…  os olhos do ídolo, protagonistas da nossa conversa, me davam a medida exata das emoções que ele experimentava, outra vez, ao lembrar…

E ele, naquele seu jeito franco, simples, verdadeiro, me contou alguns lances da partida, e eu, ‘assistia ao filme’ com ele … e, imaginando, ouvindo, prestando atenção às expressões de um dos heróis da Arrancada Heroica, podia quase sentir a energia com que tocavam a bola, com que driblavam e desarmavam naquela jogo… imaginava as defesas de Oberdan (ele fez uma grande partida)… e podia ‘ver’ os primeiros gols da história do Palmeiras que acabara de nascer, a comemoração… pude ‘ver’ o adversário se apequenando, discutindo e fugindo do jogo… pude me encher de orgulho com o Palmeiras, campeão pela primeira vez… senti a emoção dessa conquista tão especial…

Sim, o Palestra, de tantas conquistas e glórias, morreu líder e renasceu Palmeiras… renasceu campeão.

Foi mais do que um jogo, foi mais do que história, foi mais que superar o adversário e a tramóia que ele preparara ao Palmeiras… foi alma, raça, fibra, muita luta e sangue nas veias dessa gente que se veste de verde com um ‘P’ no coração…

E  aquele time de “italianinhos”, para o qual alguns quiseram negar o direito de ser Brasil, conquistou o respeito de todos, conquistou uma legião de corações brasileiros e de todas as nacionalidades, corações apaixonados,  conquistou uma infinidade de amor, de títulos, glórias, e se tornou o maior campeão do Brasil!

PARABÉNS, PALMEIRAS!! Que o amor, o respeito e o espírito de luta da sua gente sejam sempre as suas maiores riquezas. E que todas as pedras em seu caminho sejam, assim, transformadas em novas e maravilhosas páginas da sua história!

 

 

 

 

 

“Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões”

Qual é o palmeirense que não conhece a história desta foto, que não sabe o nome de pelo menos um herói daquela partida?

Qual é o palmeirense que não sabe o que significa “Arrancada Heroica”, que é como foi chamado o episódio, a final do Campeonato Paulista de 1942 que entrou para a história? “Arrancada Heroica”, que acabou sendo a resposta que o Palestra/Palmeiras deu à toda a situação, tão difícil, vivida naquela época – tentaram fazer o Palmeiras ser visto como se fosse um inimigo da pátria

Sim, todos conhecemos… Mas haveremos de nos lembrar pra todo o sempre, porque a grandiosa história do Palmeiras, que nossos pais nos transmitiram, e que transmitimos aos nossos filhos, continuará a ser passada aos filhos dos nossos filhos, aos filhos que eles tiverem e assim por diante…

Foi por isso,  por causa da Segunda Guerra Mundial e da perfídia de alguns, e para que o clube não fosse perseguido, que o Palestra Italia, ao final do campeonato de 1942, do qual era líder, mudou de nome. Ele já tinha passado a ser Palestra de São Paulo (fez 18 partidas – 17 V e 1 E), e depois se tornou Sociedade Esportiva Palmeiras, o nosso amado Palmeiras, Verdão, Alviverde Imponente, o meu “Parmera”.

A mudança de nome se deu também, porque o São Paulo – clube rival, que viraria inimigo a partir disso – se aproveitando do fator “inimigo da pátria”, inventado para o Palestra por alguns, tentou lhe tomar o patrimônio, tentou nos tomar o nosso estádio. Sim, por causa da guerra, e da estupidez de se achar que a cidadania italiana fazia qualquer cidadão tornar-se inimigo do Brasil  – o Brasil era inimigo da Itália na guerra -, era considerado lícito  se aproveitar disso para tomar os bens dos italianos que aqui viviam. Fizeram essa crueldade com muitas pessoas, com muitos italianos trabalhadores…

E em relação às instituições ligadas a outros países que não cumprissem a determinação governamental de mudar seus respectivos nomes, elas poderiam ter os bens confiscados e, na sequência, leiloados pelo governo. E o São Paulo, pressionando as autoridades, bem que tentou se aproveitar do momento para tomar o patrimônio do Palestra.

E o Palmeiras, que não só mostrou ao país que não era inimigo nenhum, que era um clube brasileiríssimo fundado por italianos, que defendeu seu patrimônio com a raça e a fibra da sua gente, foi também defender o título que estava em jogo no campeonato, cuja liderança o Palestra lhe deixava por herança.

Na véspera do clássico, o clima de hostilidade entre São Paulo e Palmeiras, visto por alguns como “inimigo da pátria”, foi alimentado. “Criaram uma situação deplorável, como se no dia 20 houvesse um choque de honra entre duas famílias” (jornal A Gazeta, na semana da final).

Temendo um confronto entre tricolores e palestrinos, que já era dado quase como certo, a polícia impediu que os torcedores entrassem no estádio com bengalas (muito usadas pelos homens elegantes da época) e guardas-chuvas. Até mesmo laranjas e outras frutas foram proibidas, para que não fossem arremessadas ao campo.

Daí a importância gigante dessa partida disputada com o São Paulo.

 

20 de Setembro de 1942…

O clima era bastante tenso e temia-se que o time do Palmeiras fosse apedrejado tão logo entrasse em campo, naquele estádio de quase 70 mil pessoas.

Só que Palmeiras foi aplaudido de pé quando entrou em campo carregando a bandeira do Brasil (ideia de Adalberto Campos, um capitão do exército ligado ao clube). O Palmeiras, com a alma do Palestra, desfazia o clima extremamente hostil e impunha mais uma derrota ao seu adversário, agora dentro das quatro linhas… E quando o Palmeiras já vencia por 3 x 1, e teve uma penalidade marcada a seu favor, o São Paulo aproveitou e fugiu da partida…

O clube, que não conseguira tomar do Palmeiras o seu estádio, que o vira ser aplaudido por todos, ia vê-lo também  conquistar o campeonato, e com uma goleada… Acho que foi demais pra eles, e o São Paulo desistiu de jogar. O Palmeiras ganhou o campeonato e o São Paulos ganhou uma suspensão de 30 dias da FPF.

Claro, que da mesma forma como tentaram nos pintar de “inimigos da pátria”, alguns tentariam macular a nossa conquista depois, mas, assim como ocorreu em todas as conquistas do Palmeiras até hoje, essa também era legítima e irrefutável.

 

A história guarda os fatos, os nomes, os gols (65 marcados e 19 tomados), as jogadas, os dribles,  as lágrimas de alegria, os abraços, os sorrisos, os aplausos… tem ela todas as memórias…

Nós guardamos no sangue, que corre em nossas veias, a fibra, a força de nossos antepassados e o orgulho de ser Palestra/Palmeiras…

O céu guarda os nossos heróis…

 

Muitas glórias ao Palmeiras! E que o espírito de 42 nos acompanhe por todo o sempre.

 

 

‘Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões.” – Mario Minervino 

20 de Setembro de 2013, 71 anos  da Arrancada Histórica…

71 anos distante daquele 1942, em que os palestrinos tiveram que arrancar do fundo da alma as forças para defender o clube que amavam…

71 anos passados desde aquele Setembro, quando o nome Palestra Italia teve que deixar de existir, para que seu estádio não fosse tomado pelo São Paulo (eles, que não tinham estádio, com a desculpa da guerra, dos italianos “inimigos” do Brasil, e com a ajuda da imprensa, que pintou o Palmeiras de inimigo da pátria – você conhece a versão moderna disso -,  queriam nos tomar o Palestra, é mole?)…

71 anos que se seguiram àquela semana em que Oberdan e seus companheiros, concentrados em uma chácara à espera do grande jogo de 20 de Setembro, choraram ao serem informados que o nome Palestra Itália não mais existia… imagino a dor que calou no peito dos palmeirenses todos da época – de alguma maneira, posso senti-la hoje.

71 anos  daquela promessa de vingança, feita por Oberdan e seus companheiros, do juramento de vencer o grande perseguidor do Palestra, na final do campeonato que se daria na semana seguinte… juraram honrar o Palestra, que morria, e a Sociedade Esportiva Palmeiras, que acabava de nascer…

Aqueles homens todos, que lutaram pela honra do Palestra, que salvaram o nosso estádio de ser tomado pelo São Paulo; os que cercaram o Palestra com barris de gasolina para defendê-lo (imagine a cena); os que temeram, os que perderam o sono, os que choraram, que se revoltaram e jamais pensaram em desistir, em se entregar (isso ficou marcado em nosso DNA); os que entraram em campo pelo Palmeiras, pela primeira vez, carregando a bandeira do Brasil, e foram aplaudidos, durante minutos, pelos mesmos que os esperavam para hostilizá-los; os que amavam o Palestra e passariam a amar o Palmeiras… todos aqueles palmeirenses de então, não podiam imaginar que, passados 71 anos, o dia 20 de Setembro, passasse a ser, oficialmente, o Dia Do Palmeiras; que aquela família se tornaria Nação e  tivesse tantos filhos espalhados por todo o país e pelo mundo… E que esses filhos sentissem tanto orgulho do que eles fizeram, da sua luta… que os lembrassem com alegria e respeito, que lhe fossem tão gratos… que esses filhos comemorassem tanto o dia em que o Palmeiras nasceu campeão, quando o nosso patrimônio foi salvo, quando Oberdan e Cia conquistaram o respeito de todos, quando fizeram o São Paulo fugir de campo (sim, eles correram), com medo de apanhar de mais do que 3 x 0; quando o Brasil conheceu a imponência de um gigante e a força da sua gente.

O tempo passou, amigo, e nós estamos aqui, hoje, fazendo jus à nossa herança de um Palmeiras digno, honrado, imponente e gigante, com uma “tonelada” de títulos, legítimos, conquistados apenas com o seu suor e esforço dentro de campo… que  encara os seus inimigos (e eles são tantos agora) de frente e não se vale de trambiques e armações, que prefere não fazer parte da “tchurma”; estamos aqui,  para fazer jus à nossa essência de defender o Palmeiras com a mesma bravura e o mesmo amor dos nossos antepassados.

A história se repetiu, e foi com muita luta (imagina se seria diferente), que o Palmeiras e todos nós, setenta e um anos depois,  defendemos o direito de transformar a nossa casa no Allianz Parque, a versão moderna e maravilhosa do antigo Palestra Itália, o estádio mais bonito e moderno do país, que não tem um único centímetro de concreto sequer, que tenha sido comprado com dinheiro público. Tentaram nos atrapalhar, nos impedir, de todas as maneiras… mas nós vencemos, mais uma vez, e o Allianz Parque está de pé, quase pronto para que possamos assistir em nossa casa as novas conquistas que virão.

Assim somos nós, palmeirenses, palestrinos, está em nossa essência  lutar e honrar o nosso clube, a nossa casa, a nossa família; fazer as coisas da maneira certa e amar o Palmeiras acima de tudo; reverenciar a nossa história e os que a escreveram até aqui, deixando o caminho limpo para os que vierem depois de nós. E é a nossa história, linda, com capítulos emocionantes, que nos faz permanecer altivos, nos faz levantar ainda mais a cabeça, olhar o céu e enxergar o sol, mesmo quando os tempos ficam difícieis e as nuvens escuras teimam em aparecer; é a nossa história (e ter história é para poucos e bons) que nos faz cantar ainda mais alto, bater no peito e dizer: Aqui é Palmeiras, p%#@rra!

Eu tenho muito orgulho da história desse gigante! Orgulho imenso de ter o sangue esmeralda correndo em minhas veias…

Não sou eterna, mas o meu amor pelo Palmeiras é!! 

AUGURI, PALESTRA/PALMEIRAS!!

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