PALMEIRAS CAMPEÃO DO MUNDO… ERA A COPA QUE FICAVA – Parte V – “E junho chegou”

V – E JUNHO CHEGOU

“Para onde quer que fores, vai todo, leva junto teu coração” – Confúcio

O coração dos brasileiros se apertava, e era bem grande a empolgação. Junho conduziria os brasileiros ao torneio mundial, a mais um torneio mundial no Brasil… Muitos já sentiam aquele friozinho na barriga quando pensavam na competição. Meu pai, que iria, claro, assistir aos jogos do Verdão no Pacaembu, certamente, já pensava na possibilidade de assistir à final caso o Palmeiras chegasse até ela (mesmo sem nunca ter perguntado isso a ele  – e agora não posso mais fazê-lo -, tenho certeza que ele acreditava piamente que o Palmeiras estaria na final). Muito provavelmente, naquele início de Junho, ele e os amigos que foram ao RJ também, já faziam planos para uma possível viagem – outro dia mesmo, minha mãe, com quem eu falava sobre essa postagem, me contou sobre as pessoas que foram ao Rio de Janeiro com ele na ocasião.

A hora estava chegando… A “Copa Rio”, verdadeiro Campeonato Mundial de campeões logo começaria…

E, por decisão da Associação Uruguaia de Futebol, o Nacional confirmava presença no torneio…

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E porque o Nacional participaria do  Mundial de Clubes, o campeonato uruguaio também seria paralisado durante a disputa (mas que “torneiozinho sem expressão”… Paralisaria até o campeonato do Uruguai, o país que acabara de ser campeão do mundo), e haviam negociações em andamento para a realização, em Montevidéu, e durante o torneio aqui no Brasil, de uma série de partidas entre clubes orientais (clubes uruguaios) e brasileiros. O Corinthians já havia aceitado a proposta para se exibir em Montevidéu no que seria o seu primeiro amistoso fora do país (seria um amistoso de “fax”?), e Bangu, América e outros clubes nacionais estudavam o assunto. Um representante da CBF seguiria para a capital uruguaia para acertar em definitivo essas negociações.

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Antes mesmo que a tabela ficasse realmente pronta,  já noticiavam…  O Vasco, no dia 30 de Junho, enfrentaria o Sporting, de Portugal, na abertura do Torneio Mundial de Campeões, pela chave do Rio de Janeiro. Na chave de São Paulo, o Palmeiras, no mesmo dia, enfrentaria um time italiano. Pensava-se que seria o Milan, no entanto, o campeonato italiano só terminaria na segunda quinzena de Junho – o Milan já tinha acertado anteriormente que disputaria a Copa Latina, que seria na Itália naquele ano –  e, antes disso, Barassi, que também era presidente da Federação Italiana,  acabaria preferindo, convidando e se acertando com o Juventus, o campeão de 50, com vários jogadores da seleção italiana, e que já tinha conquistado oito campeonatos italianos contra três do Milan (o Milan conquistaria o seu quarto título em 51).

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E, então, depois de alguns dias, Barassi finalmente definiria todos os participantes do primeiro mundial de clubes. Além de Palmeiras e Vasco, seis campeões estrangeiros participariam da disputa. Eram eles:

Nacional (URU) – Campeão uruguaio de 1950 (batera o Peñarol, a base da seleção que conquistara a Copa no Brasil), e possuía 9 conquistas no campeonato do Uruguai.
Sporting (POR) – Campeão português de 1951, dez vezes campeão nacional (na última década, tinha sido campeão em 41/44/47/48/49/50),  sendo o representante designado pela federação portuguesa.
Juventus (ITA) – Campeão italiano da temporada 49/50, com 8 conquistas no campeonato nacional, e que tinha em seu elenco 7 jogadores da Azzurra e um da seleção sueca, e fora designado pelo próprio Barassi,  presidente da Federação Italiana, para representar o futebol de seu país no torneio.
Olympique Nice (FRA) – Campeão francês da temporada 50/51, o melhor clube da França, onde jogava o popular Ieso Amalfi, o brasileiro que era o astro número 1 do futebol francês naquela temporada.
Estrela Vermelha (IUG) – ele não era o campeão iugoslavo de 50 – acabaria se tornando o campeão de 51 -, mas era o Tricampeão da Copa da Iugoslávia (48/49/50), além de ser a base da seleção que estivera no Brasil na Copa de 50, e fora designado pela própria Federação de Belgrado como o representante melhor qualificado do futebol iugoslavo.
Austria Wien (AUS) – Bicampeão austríaco (48/49 e 49/50), quatro vezes campeão da Áustria, tinha em sua equipe 10 jogadores que integravam a seleção austríaca – o Rapid Viena era o campeão de 50/51, mas, por problemas ocasionados em outras competições, a CBF o vetara e Barassi nem sequer o convidara – Diário da Noite, 06/51.

E com essas equipes já acertadas para o torneio, a imprensa alertava: “Nada de otimismo exagerado para o Mundial de Campeões”.  Mesmo com muitos triunfos internacionais dos clubes brasileiros diante de clubes estrangeiros, mesmo com o futebol brasileiro atravessando um período áureo, não se podia achar que estava tudo azul… e que o título de campeão mundial de clubes já estava no papo.

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E tudo ia se acertando, se encaixando… as providências todas iam sendo tomadas… E formavam-se as comissões para o Torneio Mundial dos Campeões.

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A Comissão de Imprensa também seria formada e, para isso, estariam reunidos na sede da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) os cronistas credenciados.

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O Ministro das Relações Exteriores do Brasil telegrafaria para todos os embaixadores brasileiros em países cujos campeões participariam do Torneio Mundial, para que facilitassem no que fosse necessário as citadas delegações.

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Os gastos com a Copa Rio, segundo informava a CBD, atingiam cerca de 12 milhões de cruzeiros. Os dirigentes esperavam lucros com o torneio, mas havia os que profetizavam (eles existem em qualquer época) que o torneio daria prejuízo – se ele seria um torneio rentável parecia ser uma das coisas que a Fifa queria observar nesse primeiro mundial.

Enquanto o país todo acompanhava e aguardava o torneio,  Rio e São Paulo fervilhavam de ansiedade, aguardando a chegada das delegações. Palmeirenses, vascaínos e os demais torcedores brasileiros não viam a hora de ver a bola rolando no mundial de clubes. Os jogadores de Palmeiras e Vasco  não viam a hora de entrar em campo.

A CBD e a FIFA, repetindo a decisão da Copa do Mundo, oficializaram a bola para a Copa Rio… A SUPERBALL, a mesma bola utilizada na Copa do Mundo, seria a bola oficial no 1º Torneio Mundial de Campeões (Ainnn, mas não era mundial). E, para atender ao regulamento, Maurício Fucks foi pesar e medir as  “Superballs” e colocar a sua assinatura em cada uma delas.

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Havia gente da imprensa que procurava desmerecer o Mundial de Clubes, desmerecer as equipes estrangeiras que iam participar do torneio… Havia um jornal, ou melhor,  havia um cronista, que não assinava o que escrevia (devia ser avô de algum desses “jornaleiros” atuais), que tentava confundir o fato de o Torneio Mundial de Clubes Campeões também ser chamado pelo nome do seu troféu, “Copa Rio”, como se o segundo anulasse o primeiro (da mesma forma que, levianamente – ou por ignorância – fazem alguns agora, quase 70 anos depois), havia quem achasse que não deveria mais ser considerado um torneio mundial. E Mario Filho – o idealizador do torneio -, em sua coluna no jornal,  esclareceria os fatos e o ‘certo cronista’…

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“O campeonato do mundo de futebol é Taça Jules Rimet. O campeonato mundial de clubes  é “Taça Rio”. Só que o campeonato mundial de Futebol já foi “Coupe du Monde”, e o campeonato mundial de clubes nunca deixou de ser “Copa Rio”. “COPA RIO” É O NOME DA TAÇA. Sempre se chamou o mundial de clubes de “Copa Rio” e “Copa Rio” de mundial de clubes” , Mário Filho.  – Duas notas sobre o mundial de clubes ou “Copa Rio”, Jornal dos Sports, 16 de Junho de 1951.

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Mas são “juquinhas” da vida que, quase 70 anos depois, juram que sabem mais sobre o torneio do que o jornalista que o idealizou e que apresentou a ideia do torneio aos dirigentes da FIFA, juram que sabem mais do que as notícias contaram sobre o torneio na época em que ele aconteceu.

Não havia no mundo um torneio entre clubes que fosse mais importante do que a “Copa Rio”. Em importância no cenário futebolístico só a Copa do Mundo era maior do que o mundial de clubes que estava sendo organizado no Brasil. E Mario Filho contava em sua coluna, que tinha encontrado um aliado em Ottorino Barassi, que o dirigente via o estádio com os mesmos olhos dele, Mario Filho. E quando ele falara com Barassi sobre o mundial de clubes, antes de dizer “sim” ou “não”, Barassi lhe perguntara quanto ele achava que renderia o campeonato do mundo. E quando Mario Filho respondeu que renderia uns 40 milhões, Barassi, então, lhe apertara a mão.
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Sim, a Copa do Mundo de seleções era o torneio de maior expressão no planeta. E, por isso mesmo, alguns membros da Fifa temeram que esta nova competição de relevo mundial, por levar o nome de mundial também, prejudicasse o sucesso das futuras Copas do Mundo (Taça Jules Rimet), lhes tirasse algum brilho – a Copa do Mundo era, e tinha que continuar sendo, a maior e mais importante competição do planeta -, mas fora o próprio presidente da FIFA, Jules Rimet (o Jornal dos Sports publicaria isso depois), quem afirmara que não havia motivo para tantos receios.


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Era um mundial de clubes desde que fora idealizado, concebido – as notícias dos jornais, de vários jornais diferentes, nos contam essa história. O primeiro mundial de clubes a ser realizado. E era no Brasil… E o Brasil, que ainda não conquistara nenhum título mundial, e ansiava por uma conquista assim, aguardava e contava as horas para o início do torneio…

“Pronto. Está tudo feito. Agora é esperar que esses poucos, pouquíssimos dias se escoem. Cada meia-noite passada, sendo um dia a menos. E então começará a romaria diária ao aeroporto do Galeão. Será a chegada dos concorrentes ao torneio mundial dos campeões. Candidatos à primeira posse da Copa Rio. Uruguaios, italianos, franceses, iugoslavos, austríacos, portugueses. Sim, também os portugueses. Para alegria de quantias que ansiavam por uma reaproximação que já estava tardando. Iremos, pois, uma porção de vezes ao aeroporto para receber os nossos hóspedes. Seis clubes estrangeiros. Meia dúzia que, com nossos Vasco e Palmeiras, totalizarão oito concorrentes ao primeiro Torneio Mundial de Clubes Campeões. Tal como havia sido previsto. Pensara-se inicialmente em oito, mesmo antes da Copa do Mundo de cincoenta. E oito são os que virão.

Não foi sopa, porém, para trazer ao Rio esses oito concorrentes. Que o diga Ottorino Barassi, o operoso dirigente da Federação Italiana e da FIFA. O Herbert Moses do futebol internacional pela faculdade de onipresença. Teve de andar de Herodes para Pilatos a fim de não fracassar.  Parecia até o combinado São Paulo-Bangu, hoje aqui, amanhã ali. E como Barassi é homem que não está acostumado a fracassar, teve de meter os peitos. Afinal, conseguindo resolver tudo a contento. E ninguém poderá negar o mérito que esse italiano teve para um certame praticamente já vitorioso. Porque o mais difícil está feito. Agora é esperar o momento do início da festa”, escreveu Everardo Lopes para o Jornal dos Sports, em 16 de Junho de 1951).

 

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Sim, seria uma festa, disso todos tinham certeza… os brasileiros estavam inteiros nisso, de coração… mas será que dessa vez o anfitrião ficaria com o título? Será que dessa vez a Copa ficaria no Brasil?

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