A vergonha é sua, a vergonha é nossa, é de quem quiser, quem vier…♫

Estamos às vésperas da Copa do Mundo, às vésperas de vermos serem usados os caríssimos estádios que foram construídos com o nosso dinheiro, sem que tivéssemos sido consultados a respeito do uso que fariam dele, e tampouco permitido que o que pagamos em impostos deixasse de ser usado em nosso favor, para ser usado em favor da Fifa e de mais “meia dúzia” de espertalhões (o dinheiro público nunca é usado em favor do povo, com Copa ou sem ela).

E não bastasse usarem o dinheiro público nessa sandice “lulesca” de querer mostrar ao mundo um Brasil que não existe (o mundo acabou vendo o verdadeiro Brasil antes mesmo do Mundial começar), de se fazer uma Copa do Mundo num país de população tão carente, onde não há escolas suficientes e decentes, nem ensino de qualidade; onde uma boa quantidade de cidades do país não tem nem mesmo saneamento básico; num país onde há mulheres que dão à luz nas calçadas, em frente à maternidades, porque essas se recusam a atendê-las; onde centenas de pacientes são atendidos no chão dos hospitais; onde o respeito ao cidadão e ao ser humano desaparece a cada dia…

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… não bastasse usarem tão irresponsavelmente o nosso dinheiro, os valores dos estádios construídos para a Copa do Mundo foram ‘ultrasupermegahiperfaturados’. No popular: fizeram a maior farra com a nossa grana.

E nesse último domingo, tivemos a oportunidade de ver mais um ‘momento ostentação com o dinheiro alheio’ do governo brasileiro (a população continua miserável),  a inauguração oficial da ‘ultramegasuperhiperfaturada’ arena construída em Itaquera, que, por não ter um nome, tem uma tonelada de apelidos: Itaquerão, Esmolão, Entulhão, Roubalhão, Impressora… E já que ‘a primeira impressão é a que fica’, ficamos com a impressão de que jogaram mesmo o nosso dinheiro no lixo.

E como os palmeirenses também pagaram a doação desse estádio (vão ficar nos devendo essa, hein ‘itakeras’?), e como o Allianz Parque – a arena do Palmeiras -, não custou um centavo aos cofres públicos, e não recebeu nenhum tipo de isenção fiscal da prefeitura de SP, ao contrário do Itaquerão, e porque, mesmo sendo muito mais funcional moderna e espetacular, a arena palestrina,  tenha custado 500 milhões – menos do que a metade do que foi desperdiçado de dinheiro público em Itaquera-, me sinto bastante à vontade para falar sobre o tal estádio aqui.

No domingo,  a TV mostrou Corinthians 0 x 1 Figueirense, e pudemos ver o “sucesso” que foi a inauguração oficial de um dos estádios, padrão Fifa, que o governo nos ‘obrigou’ a pagar (alguns jornais nos mostrariam detalhes depois).

Foi tudo padrão “PHIPHA” … torcedores tomando chuva, até mesmo na área VIP (na parte nobre da arena, os torcedores precisaram usar capas de chuva),  goteiras em alguns outros setores, ingressos vendidos para setores que ainda não estão acabados, vidros que faltam em algumas áreas, e que só serão colocados depois da Copa, som ruim, ponto cego, fotógrafo que teve equipamentos furtados dentro da sala de imprensa (e ninguém sabe, ninguém viu quem foi),  74 cadeiras quebradas – 55 delas no setor da torcida organizada -, falta de iluminação no entorno do estádio (o jornal francês L’Équipe publicaria que os torcedores saíram do estádio iluminando as ruas, totalmente escuras, com a lanterna do celular), ambulantes vendendo camisas piratas, com varais improvisados e pendurados dentro da área do estádio (!?!?); centenas de torcedores sem ingresso, que ultrapassaram a área dos portões para “assistir” pelo vão dos prédios; serviços de telecomunicações deficientes, que foram criticados até mesmo na mídia internacional (periódicos esportivos na França apontaram que era impossível fazer ligações dentro do estádio. Os celulares não funcionavam na bancada).

Além disso, dois dos quatro elevadores não estavam funcionando. Os pisos das lanchonetes ainda são de cimento aparente, os de vários corredores também, o mesmo com a estrutura de parte das arquibancadas. Caixas d’água  estão à mostra…

Houve desrespeito ao torcedor também… Cadeirantes, crianças menores de 12 anos e pessoas com mais de 60 anos, que não costumam pagar ingressos nos estádios municipais, tiveram que pagar no Itaquerão (o “dono” diria que, como o estádio é privado – PRIVADO? E CONSTRUÍDO COM DINHEIRO PÚBLICO?? -, pode cobrar por todos os ingressos). O problema é que só disponibilizaram um setor pra eles, o dos ingressos a R$ 180,00 reais (esse papo de “time do povo” é só clichê) e como não houve tempo hábil para que cadeirantes, crianças e idosos se tornassem sócios-torcedores, não puderam comprar mesmo.
http://www.elhombre.com.br/o-corinthians-esqueceu-que-ha -cadeirantes-em-sua-torcida/

E a Lei Federal 12933/13, que EXIGE meia entrada pra deficiente físico e seu acompanhante legal em eventos de locais privados, parece que foi esquecida pelos “donos” do estádio privado da Copa…

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As capas de chuva fizeram sucesso na área VIP…

Os ambulantes vendiam camisas piratas dentro do estádio…

No domingo (18), dia do jogo, o entorno do estádio estava assim…

Obras ao redor do estádio Itaquerão, em São Paulo, neste domingo (18).

E como é que um estádio, que nem mesmo terá todas as suas áreas cobertas, que não tem som de qualidade e nem segurança eficaz (um jornalista teve seu equipamento furtado lá), que tem ponto cego,  goteiras, pode custar 1,2 bi?

Como é que um estádio, cuja construção objetiva ser o palco da abertura da Copa do Mundo, não estará totalmente pronto na Copa do Mundo? Segundo a Veja, boa parte dos 89 camarotes da arena ainda não está concluída, bem como um grande setor das arquibancadas superiores do prédio oeste, que ainda está sem cadeiras instaladas. As arquibancadas provisórias, localizadas atrás de cada gol, também não foram finalizadas. O setor que elevará a capacidade do estádio de 48 mil para 67,8 mil espectadores durante a Copa será usado pela primeira vez justamente na abertura da Copa.

Se o objetivo primeiro da construção, e do uso da verba pública, era o Mundial e não a doação do estádio, como é que o clube que vai ser dono do estádio só daqui a 40 anos – depois que pagar o custo – pôde vetar a colocação de vidros nas áreas nobres, porque eles ficavam “palmeirensemente” esverdeados ao sol (e a Nike teve a cara de pau de rotular as outras torcidas e clubes de “antis”)? O que a Copa do Mundo tem com isso? Como puderam decidir que isso seja feito só depois da Copa, se a razão de se gastar tanto dinheiro do povo na construção desse estádio era unicamente… a Copa do Mundo? Se chover durante as partidas do Mundial, 30 mil torcedores ficarão encharcados lá no Esmolão.

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Um abuso, não é mesmo? E com o meu e o seu dinheiro… que foi irresponsavelmente gasto no Itaquerão, Arena São Paulo, Arena Corinthians, Arena PCO (ninguém sabe como chama), para, muito provavelmente, dar um vexame na Copa do Mundo. Desculpinha esfarrafada essa de fazer estádio para a Copa em São Paulo, né? E ficam cada vez mais claras quais eram as reais e ‘moluscas’ intenções…

Mas o responsável pelo estádio que o clube recebeu “de grátis”, diz que vai pagá-lo, diz que “prevê sete anos de bilheteria para pagar dívidas do Itaquerão”.

Você acredita que eles vão pagar? Eu não. E se formos nos basear nas contas do cidadão “pagador de dívidas”, aí é que não vamos poder acreditar mesmo.

Vejamos…

Os “proprietários” dizem que o estádio custou 750 milhões, há quem diga que custou 950 milhões, mas, na verdade, a conta já passou de 1,2 bi (são mestres em aumentar números para se valorizarem, mas, na hora de pagar dívidas, diminuem os valores quase pela metade).

Para quitar a dívida em 7 anos, como um dos responsáveis pela construção diz que fará, o clube teria que pagar mais ou menos 107 milhões por ano, para totalizar os tais 750 milhões (isso nas contas dele), ou 135,7 milhões por ano, caso o estádio tenha custado 950 milhões, ou ainda, 185,7 milhões por ano, para totalizar o custo de 1,2 bi, que parece que é o que foi gasto mesmo.

Um clube faz uma média de 4 partidas por mês em seu estádio (2 por semana, 1 fora e 1 em casa), o que daria 48 partidas em casa no ano (nas partidas em casa é que os clubes ficam com a maior parte das rendas). Vamos arredondar para 60 partidas, e façamos as contas de quanto seria necessário de renda por jogo para pagar essa dívida. Mas não nos esqueçamos que a renda bruta é uma coisa e a renda líquida é outra.

Custo do estádio 750 milhões – 107/60 = 1,783 mi por partida

Custo do estádio: 950 milhões – 135,7/60 = 2,295 mi por partida

Custo do estádio 1,2 bilhão – 171,4/60 =  2,85 mi por partida

Difícil, hein? Se na estreia do estádio, com ingressos a preços exorbitantes (a torcida reclamou um bocado dos valores cobrados) e 36 mil pagantes, a renda, bruta, foi na casa dos 3 milhões, imagine no restante do ano… No Paulistão 2014, por exemplo, a média de público corintiana foi de 14.978. muito abaixo do que seria necessário para pagar a dívida. O que nos leva a pensar que vai ser bem difícil os cofres públicos serem ressarcidos com as rendas do estádio de Itaquera, não é mesmo?

Ainda mais se levarmos em conta que o clube, que deveria pagar essa dívida, está sem dinheiro, tem dívidas fiscais no valor de 120 milhões, tem bonificações e direitos de imagem atrasados, e vai fazer um empréstimo de 70 milhões, dos quais, descontadas as taxas de juros, sobrará ao clube 53 mi (um time com problemas financeiros vai mesmo abrir mão das rendas dos jogos, durante sete anos? Me engana que eu gosto!).

O estádio, que o povo brasileiro pagou contra a sua vontade, não vai ter o seu valor ressarcido aos cofres públicos, também não vai ser entregue 100% para a Copa do Mundo, os turistas e torcedores terão que rezar pra não chover…

Parece que nessa Copa, o Esmolão só vai ser bom mesmo para os vendedores de capas de chuva, churrasquinho, camisas piratas… para os que se gabam de ter algo que foi comprado com o dinheiro alheio, e para os que se favoreceram com o superfaturamento no valor dessa construção.

Pros demais, vai sobrar aborrecimento e vergonha….

Mas o que importam esses “detalhezinhos”, não é mesmo? Afinal, a Copa do Mundo é nossa.