Quando uma confederação de futebol, seja ela a Conmebol, a CBF, a FPF, ou qualquer outra, tenta impedir que, num determinado torneio, um clube mande seus jogos em sua arena – arena padrão Fifa -, certamente essa federação está pensando em qualquer outra coisa, menos em futebol.

Quando essa federação exige que o clube esconda a marca do patrocinador que comprou os naming-rights da sua arena, ela não se importa se prejudica esse clube com o seu patrocinador, se o prejudica financeiramente, ou numa eventual renovação de contrato;  no popular: ela quer mais é que esse clube se dane.

Na América do Sul, os clubes de futebol andam passando por várias dificuldades financeiras. Os clubes pequenos estão fechando as portas, ou em vias de; já os  grandes, estão quase todos com a corda no pescoço.

No Brasil, é de conhecimento geral da nação que o último campeão brasileiro – o clube que mais recebe dinheiro em cotas televisivas e foi sustentado com patrocínio do governo até alguns dias atrás -, deve 5 anos em impostos; devia, ou ainda deve, salários; não conseguiu ainda pagar aos seus atletas a premiação pelo título de 2015 e, sem dinheiro, não conseguiu segurar no clube vários dos seus jogadores (só conseguiu manter os árbitros, que estão “jogando um bolão” no Paulistão 2016).

E não é só ele,  tem clube onde vários jogadores tiveram que entrar na Justiça por causa dos salários atrasados – muitos clubes atrasam salários; tem clube (a maioria deles) com dívidas altíssimas… tem clube (a maioria, de novo) que, uma vez que as empresas não andam querendo investir em futebol, só tem patrocínio máster porque é do governo federal (governo, que deixa a população sem recursos, tira até o fígado dos cidadãos em impostos, mas investe loucamente em futebol)… tem clube que ganha estádio – que já está caindo -, construído com dinheiro tomado dos cofres públicos e não consegue vender os naming-rights de jeito nenhum… tem clube que anuncia patrocínio, anuncia investimento de muitos milhões, de empresa que não tem nem CNPJ… tem clube com patrocínio de empresa panamenha, totalmente desconhecida, que na verdade é um site de apostas em futebol (quer coisa mais digna de suspeita do que um clube de futebol ser patrocinado por um site de apostas … em futebol?)… tem clube que anda com medo da Operação Lava Jato da PF…

A coisa tá feia… É uma dificuldade para se conseguir manter um clube de futebol hoje em dia. Uns, trilham os caminhos corretos; outros tentam pagar qualquer atalho, ainda que possam ser atalhos suspeitos…

E então, esquecendo o profissionalismo, vêm as federações – as televisões também -, preocupadas apenas com as suas contas bancárias, com os investimentos de seus patrocinadores, querer atrapalhar os clubes e seus parceiros. Parece mentira, mas confederações e televisão estão prejudicando a maioria dos clubes.

Ninguém se dá conta, mas poucos sobreviverão…

Já cansamos de ver o que acontece, por exemplo, em relação ao nome da arena do Palmeiras, o Allianz Parque. Os profissionais da emissora que detém os direitos de transmissão dos campeonatos não falam o nome “Allianz Parque” de jeito nenhum, seja nas transmissões ou mesmo nos programas esportivos – outras emissoras também se recusam a fazê-lo. Nas transmissões – a TV aberta transmite pouquíssimos jogos do Palmeiras -, mostrar as placas com o nome Allianz Parque então, nem pensar. As câmeras parecem “treinadinhas”.

E qual a vantagem de um clube ter um patrocinador cuja marca não é exposta ? Um patrocinador investe 300 milhões na arena de um clube, mas a CBF, Globo e quase toda a imprensa esportiva escondem a marca? O que eles esperam que aconteça, que o patrocinador desista e não renove o contrato? E o clube que se dane? Como os clubes vão sobreviver se os patrocínios sumirem de vez – sobrarão só os dois que a CBF e Globo querem que sobre? Como vão viver os anunciantes das TVs, se muitos clubes fecharem as suas portas e os torcedores desistirem do futebol? Como viverão os profissionais de imprensa, das notícias polêmicas e distorcidas, ávidas por cliques e acessos?

Por causa dos patrocinadores do campeonato brasileiro e da Rede Globo, e sem que houvesse qualquer regulamento que justificasse a atitude, CBF e emissora fizeram o Palmeiras cobrir as placas com o nome da Allianz, no último Brasileirão (será que acham que a Allianz tem que dar dinheiro para eles também?). A coisa só não deu certo porque torcedores do Palmeiras, revoltados com o abuso, retiraram as faixas que cobriam as placas. E após mais umas duas tentativas sem sucesso, a CBF e a emissora desistiram da “empreitada”.

E aqui, vale lembrar, a mesma Globo que esconde o nome do Allianz Parque – na TV aberta e na TV paga também – por causa dos seus patrocinadores, já tinha prometido a Andrés Sanchez falar o nome do estádio doado ao Corinthians, caso ele vendesse os naming-rights da arena, e não importando para quem vendesse (segundo a imprensa, que faz um lobby desgraçado pra isso, ele está “quase fechando” um contrato de naming-rights, desde 2013″)

E então, em 2016, entra em cena a Conmebol! Aquela mesma, que não puniu  o clube brasileiro cuja torcida foi responsável pela morte de um garotinho, um torcedor boliviano, atingido por sinalizadores adversários (um jogo com portões fechados – e 3 torcedores burlando a proibição – não pode ter sido uma punição para uma morte, não é mesmo?) , mas que eliminou de uma competição um clube argentino cuja torcida usou gás de pimenta em jogadores rivais, e deu a ele uma suspensão de 8 jogos, que logo foi diminuída para 2.

Com morte em estádio, gás pimenta em jogadores, a Conmebol é bastante condescendente (segundo as punições dadas por ela, a morte foi menos grave do que o uso do gás pimenta), mas em relação à grana a coisa parece mudar de figura. Pra não mostrar o patrocinador da arena palmeirense, para não mostrar o nome “Allianz”, a inflexível Conmebol, queria proibir o Palmeiras de mandar seus jogos da Libertadores 2016 no Allianz Parque, caso ele não cobrisse as placas na sua arena. Então, segundo as notícias de hoje, ficou decidido que as placas serão cobertas. Tá bom pra você, palestrino?

“Não está certo, mas é o regulamento da competição”, dirão alguns.

Vejamos o que diz o regulamento…

18.2 Derechos de Patrocinio y Publicidad Estática

c) Los clubes que oficien de locales en partidos oficiales de la Copa Bridgestone Libertadores, conforme al Manual Técnico: Derechos de Patrocinio, tienen la obligación de entregar para sus respectivos juegos el estadio libre de todo tipo de publicidad, inclusive institucional y/o nombres y símbolos de clubes y/o asociaciones que no participan en la edición actual del Torneo, con la responsabilidad intransferible de retirar o cubrir la exposición comercial de las marcas que estén allí presentes. Este compromiso también aplica para aquellos casos en los que el equipo, por decisión propia o por circunstancias especiales, debe jugar en un estadio diferente al que habitualmente utiliza para sus partidos de local.

Nem precisamos entender muito de espanhol para compreendermos que “os clubes têm a obrigação de entregar para os seus jogos o estádio livre de todo tipo de publicidade, inclusive institucional e/ou nomes e símbolos de clubes e/ou associações que não participam na edição atual do torneio, com a responsabilidade intransferível de retirar ou cobrir a exposição comercial das marcas que estejam ali presentes…”

http://www.conmebol.com/sites/default/files/reglamento_copa_libertadores_2016_-_edicion_final.pdf

Mas será que é assim mesmo que acontece?

O Toluca não precisou esconder placas de publicidade com a marca da cerveja “Corona” de seu estádio, tampouco foi ameaçado de mandar seus jogos em outro local. Jogou numa boa e sem problema ou encheção de saco alguma.

patrocínio-Toluca

O símbolo do América-MG, dono do estádio Independência, que não participa da edição atual do torneio e, portanto, não poderia aparecer de jeito nenhum, não precisou ser coberto, como prevê o regulamento, e isso já aconteceu em mais de uma edição da competição. Será que  o América-MG anda disputando a Libertadores, será que ele está nessa edição atual e a gente não sabe, dona Conmebol?

estádioIndependencia

Na verdade, e estou editando o texto com mais um parágrafo e essa outra informação, o América peitou a Conmebol, se recusou a aceitar que a identidade visual do seu estádio fosse alterada e a Conmebol esqueceu o regulamento e liberou o símbolo do América.

Conmebol-regulamento-América

Conmebol-regulamento-América2

Conmebol-regulamento-América1

Como você pode observar meu caro leitor, assim como no “livro de regras” das arbitragens, ou no “livro de regras” dos jornalistas – no qual eles se baseiam para falar de maneiras diferentes , de times diferentes em situações semelhantes -, o regulamento da Conmebol também é dúbio, camarada com alguns e rigoroso com outros e pode ser “esquecido”, “deixado de lado” dependendo da conveniência ou do tamanho da encrenca (se está no regulamento tem de ser cumprido, não é mesmo? Qual a finalidade de um regulamento que uns cumprem e outros não?).

E a imprensinha, que fez um escarcéu danado pelo possível veto ao Allianz Parque, não falou, não lembrou do regulamento, que foi deixado de lado, quando o América peitou a Conmebol.

E ficamos pensando… que cazzo de federação é essa, que não exige que todos os clubes cumpram o regulamento igualmente? É só o Palmeiras que precisa cumpri-lo à risca?

Não sei se é a Conmebol mesmo que faz questão disso, ou se é a parceira da Conmebol, a dona dos direitos televisivos, que nunca diz o nome “Allianz Parque” que está mais interessada em esconder o “Allianz”. Fico na dúvida (acerta com o EI, Palmeiras, e já começa a dar um pé no traseiro de quem tanto esconde os seus jogos, as marcas dos seus patrocinadores e, por causa disso, o prejudica)…

Eles podem proibir, podem atrapalhar o Palmeiras e demais clubes com essa proibição, e o Palmeiras certamente não irá contra o regulamento, nem poderia – a WTorre já anunciou que retirará as placas.

No entanto, nós, torcedores, poderemos escrever “ALLIANZ” na testa, nas bandeiras… e onde mais /e do jeito que a nossa imaginação mandar.

Poderemos gritar “Allianz” durante a transmissão, como se gritássemos o nome de um jogador. A acústica do Allianz Parque é excelente.

E já pensou que legal, na hora do hino, a Que Canta e Vibra resolver entoar um: “PALMEIRAS, MEU PALMEIRAS, DO ALLIANZ PAAARQUE…” ?

A nossa torcida é muito inteligente e criativa. Vai ser um jogão… 😈

Corre comprar o seu ingresso, amigo palestrino! Quase 30 mil já foram vendidos – o meu tá garantido.

O Caldeirão Verde vai ferver!! E o Porco vai pegar!!

♪ ♫”PQP, é o melhor naming-rights do Brasil… Allianz!!”♫ ♪

 

P.S -Meus agradecimentos ao Arthur Carvalho pela inestimável ajuda nas pesquisas.