Dizia a notícia na quinta-feira: “Sentado no banco de reservas, Valdivia chorou”. Que aperto no peito ler isso. Um momento tão feliz de todos nós e tinha que ter algo para toldar a nossa felicidade. Como é difícil acompanharmos a tristeza de alguém que amamos. Como se não bastasse termos sofrido com todos os dramas de Marcos, agora temos que ver nosso ídolo, normalmente tão sorridente, chorando por não conseguir jogar… Juro, sinto o meu coração doer, de verdade…

Eu tinha acordado às 4 da matina, na quarta-feira. Saira de casa enquanto o mundo ainda dormia; nas ruas, totalmente desertas, eu parecia um  personagem de um filme de ficção sobre um mundo sem habitantes. Durante o trajeto, foram aparecendo as pessoas e os ônibus que, enfurecidos, avançavam em meio à escuridão, com seus letreiros acesos. Pareciam contrariados por carregar tanta gente quando ainda deveria ser hora de dormir.

Eu tinha tantas coisas para pensar, mas à toda hora me lembrava que à noite teria jogo do Palmeiras, valendo vaga na semifinal da Sulamericana. Não queria me sentir ansiosa mas, àquela hora da manhã, já tinha “borboletas no estômago”…E como foi difícil esperar o dia passar. Por ter me levantado tão cedo, o dia me pareceu ainda mais longo. Nem mesmo todas aquelas crianças e as provas que ajudariam a avaliar a qualidade do Ensino Fundamental nas escolas de São Paulo, me faziam esquecer que era dia de jogo entre Palmeiras e Galo; o jogo da volta. Mal podia esperar o momento de chegar ao Pacaembu e ver o Verdão em campo. Verdão que tinha o Mago entre os relacionados. Imaginem se eu iria perder… Uma terceira camisa, novinha em folha, dormia quietinha na minha bolsa, só esperando o momento de ser vestida.

As horas custavam a passar… Será que iríamos vencer? Será que o juiz não nos roubaria desta vez? Será que o Mago conseguiria jogar a partida toda? Quantas perguntas eu me fiz o dia todo.  Só que as horas, teimosas, como se fizessem de propósito, se arrastavam. Mas elas acabaram vencidas e o momento de ir ao Pacaembu chegou. Enquanto me dirigia ao estádio a tensão aumentava.  Felipão pedira 25 mil torcedores, mas a torcida, desobediente e apaixonada, resolveu que seria mais de 35 mil. Recorde de público do Verdão neste ano. Depois de um dia de muito sol, o frio tomava conta da cidade e, antes do jogo começar, uma chuva fina já descia do céu. Mas quem é que se importava? Os amigos iam se encontrando, se abraçavam e, sorrindo, faziam planos, arriscavam palpites, numa felicidade que antecipava o resultado do jogo.

Quando o Palmeiras entrou em campo foi recebido pela festa e euforia da Que Canta e Vibra.  Lindo! E o time esbanjou raça e vontade, correspondendo à energia que vinha das arquibancadas! E foi prá cima do Galo que, com seus três zagueiros, conseguia conter a ofensividade do Verdão. Em 20 minutos tivemos 10 finalizações e a cada uma delas o Pacaembu (com o coração doendo, desde os 9 minutos de jogo) se preparava para explodir. Os jogadores palestrinos vibravam a cada lance de bola roubada, de desarme. Ainda que a técnica deixasse a desejar algumas vezes, o time era raça pura! E o Palmeiras é quem buscava e ditava o ritmo da partida. E tanto buscou que, aos 26′, Marcos Assunção, “esnobe”, predestinado, cobrou escanteio fechado na primeira trave e fez olímpico!! O PACAEMBU EXPLODIU EM VERDE E BRANCO!! A semifinal estava mais perto. Os torcedores, molhados pela chuva, pulavam, se abraçavam… O Palmeiras chegando…E esse Assunção, hein? Já é uma sumidade nas cobranças de falta e agora tá fazendo até gol olímpico? E eu, lá nas cadeiras, pensando que o gol tinha sido do Luan…

No segundo tempo, o Galo resolveu tentar mais. Em alguns momentos o Palmeiras parecia se manter acuado. Mas quem é que não lembra daquele time campeão de Felipão? Quem é que não lembra da maneira dele jogar? Nosso técnico, não está preocupado com espetáculo, com goleada. Não! Ele é mestre em conseguir resultados!! A torcida, conhecedora do trabalho dele, mesmo com o coração entristecido e doendo desde os 9 minutos, fazia a sua parte! Empurrava o time, marcava em cima o juiz e o time adversário. O Galo, querendo o gol que levaria o jogo à decisão por pênaltis, veio prá cima, mas deu de cara com a consistente defesa que ninguém passa; deu de cara com Deola, Danilo, Maurício Ramos, Edinho (que cara chato! ainda bem que joga no meu time… rsrs); deu de cara com Luan, que pode não ser ainda o atacante dos nossos sonhos, mas já é imprescindível ao time. Ajuda Gabriel(como joga esse garoto!) na esquerda, ajuda a zaga, corre o campo inteiro, durante o jogo todo e ainda faz gol. Tá certo que o Galo nos assustou em duas bolas que passaram raspando, mas saiu do jogo sem conseguir vencer Deola e a parede verde. E ainda teve que se virar para conter os avanços de Lincoln, Kleber, Tinga, Luan, e até de Márcio Araújo, algumas vezes.

E para selar a partida; para “matar” o Galo, de vez, e conquistar a vaga à semifinal da Sulamericana, aos 33′, numa jogada rápida, Tinga puxou o contra-ataque pela direita e tocou para Lincoln, no meio. Ele tocou na esquerda para Luan, já dentro da área, chutar cruzado e guardar!! A TORCIDA ENLOUQUECEU! A FESTA NO CHIQUEIRO, EXPLODIU DE VEZ!!  O PALMEIRAS ESTAVA CLASSIFICADO! Ia esperar o confronto entre Goiás e Avaí para conhecer seu próximo adversário (será o Goiás). A torcida , rouca e molhada, já podia voltar para casa e dormir tranquila, feliz…

Teria sido tudo maravilhosamente perfeito se, no comecinho da partida, aos 9 minutos, numa jogada de velocidade, que quase resultou em gol do Palmeiras, Valdívia não tivesse sentido a coxa, outra vez… A terceira vez seguida! Foi por isso que o coração palestrino doeu o jogo todo. Aquele pequeno gesto de colocar a mão na perna, gelou o torcedor no Pacaembu. Eu não podia acreditar que o Mago, que treinara normalmente na terça, segundo disseram, não tivesse conseguido jogar nem 10 minutos. Rezei tanto, pedi tanto a Deus que lhe enviasse ajuda naquele momento e não consegui conter as lágrimas diante da tristeza do meu ídolo e das suas tentativas de se alongar e continuar jogando. Os torcedores, mudos, se entendiam apenas pelo olhar.  Uma névoa de  dúvida e receio pairou no Pacaembu. A dor e a tristeza do Mago eram de todos nós. Poucas vezes me senti tão triste… Ainda agora, ao escrever, não consigo conter as lágrimas, ao me lembrar dele saindo de campo, aos 15′, triste, cabisbaixo, se sentindo derrotado por uma lesão… Logo ele, que é a encarnação da alegria… E, como se fosse um afago, um carinho, a torcida gritava seu nome.  Que revolta me deu! Enquanto tem jogador badalado pela imprensinha, que joga uma partida, “descansa” trinta e ainda reclama do tédio da concentração, lá no banco do Palmeiras a magia chorava por não poder estar em campo…

Tenha paciência, Mago. A vida de um “parmera” nunca é fácil, e como você é palestrino de coração, não poderia ser diferente. Talvez os dois anos em que esteve fora e a preparação física lá dos Emirados sejam responsáveis por esse drama que você vive agora. Talvez nosso Depto Médico, tenha errado em alguma coisa. Não sei…  Só sei que vai dar tudo certo, acredite ! Nosso amor vai te curar, Valdivia! Você é um guerreiro e a sua volta por cima se dará em breve e SERÁ OLÍMPICA!! Valdivia, Felipão e Kleber, voltaram para ser campeões, e vão ser!! VAMOS CONQUISTAR ESSA PORRA E VOCÊ MAGO, VAI ESTAR EM CAMPO E FARÁ O GOL DO TÍTULO!

Estamos na subida final do ponteiro do relógio e na subida é mais difícil. FORZA VALDIVIA!! FORZA PALMEIRAS!! TEMOS UM TÍTULO  A CONQUISTAR!