Embora nunca saibamos a ordem de partida desse mundo, há uns anos, eu meio que me preparava, aos poucos, para um Dia dos Pais como esse… Não adiantou nada…

Eu tenho um péssimo hábito/mecanismo – é involuntário, creia – de ignorar as minhas maiores dores, as que machucam mais. Abro uma gaveta no peito e tranco a dor lá dentro. Até que seria bom esse artifício, se não acontecesse de, de repente, a gaveta escancarar por conta própria sem que eu tenha tempo de fechá-la outra vez…

Meu pai se foi há seis meses e ficaram as perguntas, que vira e mexe, cortantes, aparecem na minha cabeça…

Pai, onde você está agora?
Será que existe mesmo um lugar pra você estar?
Pai, será que você fica triste nas vezes em que choro aqui sozinha?
Será que você se magoa nas vezes em que não choro e escondo de mim mesma o que sinto?
Pai, será que você me perdoa por não ter tido coragem de voltar ao cemitério nenhuma outra vez? Por não ter coragem de ir lá amanhã?
Será que você lembra das vezes em que te dei meu café com leite e bolachas escondido das enfermeiras?
Será que você já sarou, pai?
Pai, será que você estava comigo na quarta-feira? Será que ficou feliz?
Pai, será que você pode ver que eu durmo com o seu pijama? Que calço as suas meias quando vou aos jogos? Que eu queria tanto te levar pra ver o Allianz e não deu tempo?
Será que você percebeu que eu te achei tão lindo na última vez que o vi?
Pai, será que você sentiu medo?
Será que você sabe que cada vez que passo em frente à uma loja de camisas eu penso em comprar uma pra você?
Será que você percebeu que fiz sempre o melhor que pude para nunca desapontá-lo?
Será que você sente que algumas vezes quando para um carro aqui em frente, eu me confundo por uns segundos, achando que poderia ser você, mesmo sabendo que você já não dirigia mais?
E que eu senti a sua presença quando aquele cara, do nada, começou a assobiar dentro do metrô, na minha frente, como você fazia quando vinha pra casa almoçar?
Pai, será que você sabe que eu adoraria poder fazer bolinhos pra você?
Será que você está feliz com o time do Palmeiras? Será que gosta do MO?
Será que você se orgulha por tantas coisas que me ensinou e deixou comigo?
Será que você sente que eu sinto uma saudade imensa de você?

Feliz Dia dos Pais, meu pai, onde quer que você esteja. E fica em paz porque gente vai dando conta de tudo aqui.

E Feliz Dia dos Pais pra você, meu amigo. Pra você, para o seu pai, e para os pais de todos os palestrinos e palestrinas também! Aproveite a data, e não só ela, para poder beijar e abraçar o seu pai. Se a vida seguir a ordem natural das coisas, vai chegar um dia em que você sentirá a maior vontade de fazer isso e, assim como acontece comigo agora, não vai poder mais…

Ele me deu a vida… Me deu também o sangue palestrino que corre em minhas veias. Ele sempre amou tanto esse time, que não deu outra: nasci de olhos verdes (iguais aos dele), sangue verde e o coração já pulsando no mesmo ritmo que pulsa até hoje: o das arquibancadas do Palestra Itália. Ele, que foi um maravilhoso jogador de futebol (era bom mesmo), cujas histórias ouço até hoje; também foi técnico, e eu, muito pequena, me lembro de certa vez, vê-lo sendo carregado em júbilo, pela torcida do time da minha cidade. E ele queria tanto um filho homem (já tinha uma filha), para acompanhá-lo no futebol e vejam só quem apareceu: EU! O menino não veio, mas não é que tudo deu certo? Gostar de futebol e amar o Palmeiras, é com a Clorofila!

Mas o Sr. Alberto, Seu Badula (assim é chamado), me ensinou tantas outras coisas… As mais importantes, ele nem se deu conta, aprendi pelo exemplo. Caráter, bondade, honestidade (coisa rara hoje em dia), e esse sangue latino esquentado, também…. uhauhauhauha

Hoje é dia dos Pais…  De todos os pais. Pais com filhos; pais sem filhos; pais de filhos que ainda estão por chegar; pais de primeira viagem, com seus bebezinhos rosadinhos e tão amados; pais em dobro, que são os avós; pais solteiros; pais adolescentes; pais “de” adolescentes; pais que são mães também; pais ciumentos; pais ‘cabeças’; pais jovens; pais maduros; o pai da minha filha, que é um super-pai; e o meu pai, de quem eu herdei o amor ao Palmeiras,  a mania de fazer tudo certinho e a de ficar brincando ainda que o mundo esteja desmoronando… E o que eu não herdei, o seu exemplo me ensinou…

Hoje também é dia de serem lembrados os pais que já estão em outro plano, mas que deixaram aqui o seu legado de amor, deixaram aqui os filhos que tanto amaram e continuam amando, agora meio de longe… Deixaram aqui, as suas ‘crianças’, que ensinaram a dar os primeiros passos e que depois ensinaram a caminhar com dignidade…

Que todos sejam muito felizes, aqui, ou em outro plano, no dia de hoje e em todos os outros dias! Principalmente os palmeirenses! Parabéns Papais! Que Deus os abençoe!

Um beijo grande da Clo