Saí de casa a caminho do jogo, ansiosa, feliz pelo Palmeiras estar na briga pelo título, e, no trajeto, me deparei com um mendigo, dos muitos que dormem nas calçadas do meu caminho habitual.

Em todas as vezes que o vi, ele me chamou atenção. Tem uma certa boa aparência, está sempre usando roupas que parecem limpas, calçando tênis… mas o que me fez prestar atenção nele, mesmo, foram algumas camisas do Palmeiras (tem mais de uma) com as quais ele está quase sempre vestido.

Quando me viu passar, pela primeira vez falou alguma coisa comigo; parei, já mais à frente, me voltei pra ele e disse: Hã? E ele, que estava sentado no chão, levantou os braços pra cima, me deu um sorriso, levou as duas mãos ao peito e me disse:

Palmeiras, o meu amor! É hoje… Palmeiras!

Me deixou com um nó na garganta… só consegui sorrir e balbuciar: É Palmeiras!

Sinais…

Eu, que sabia que o Palmeiras não ia perder, e temia apenas o nosso grande inimigo de sempre, a arbitragem (e ela bem que tentou), tive então certeza da vitória.

Chegando ao Pacaembu, enquanto nos dirigíamos para o portão, caminhar não me parecia suficiente, a minha vontade era a de correr lá pra dentro.

Quando o jogo começou, o estádio estava cheio (mais de 25 mil pessoas), e o Palmeiras, estava do jeito que a gente queria: Valdivia, Bruno César, Leandro, “Lã” Kardec e Wesley… para desespero dos carniceiros jogadores do Bragantino.

E não deu outra, ou melhor, não deu “outro”, o Palmeiras foi o senhor da partida (teve 69% de posse de bola, pra você ter uma ideia). O Verdão atacava, controlava o jogo, e o Bragantino, na retranca, sem competência para praticar futebol, distribuía pancadas, abusava das faltas, muitas vezes violentas – time pequeno e covarde é assim mesmo – com bastante conivência do árbitro.

Com menos de 3 minutos de jogo, Valdivia – que foi deslealmente caçado durante toda a partida – como sempre acontece -, foi agredido com uma cotovelada, e o juiz  deixou passar e nem amarelo deu para o agressor. (Na final da Copa do Brasil, o Mago foi agredido com um pontapé por um jogador do Coritiba, e o juiz também deixou passar). Um absurdo um árbitro estar em campo para coibir a violência e deixar passar agressões, permitir que um jogador seja pisado, chutado, leve cotovelada. “Legal” o árbitro, Flávio Guerra, né? Depois que o colocaram na geladeira por ter assinalado 3 penalidades, LEGÍTIMAS, para o Palmeiras, diante dos bambis, em 2008, ele agora me dá a impressão de ter aprendido o jeito “certo” de apitar jogos do Verdão, sem ir parar no freezer outra vez. Olha a agressão, para expulsão, sofrida pelo Mago, que o juiz deixou sem punição:

AgressãoAoMago

Será que Valdivia poderia fazer algo parecido e continuar em campo?

Ao final do jogo, o tornozelo do Mago, o jogador “desleal” (ele desleal??), “que deveria ter sido expulso” (por apanhar tanto??), segundo o pessoal do Bragantino,  ficaria assim:

Foto: Olha o tornozelo do Mago como ficou de tanta botinada que ele levou!!!!!!

Mas, mesmo com violência dos adversários, mesmo com agressão já no início do jogo, os primeiros 25 minutos do Palmeiras foram dentro da área do Bragantino, que não conseguia sair do seu campo de defesa, e já fazia cera em qualquer lance, tentando ganhar tempo.

Bruno César cobrou falta, a bola passou pertinho… Bruno César cruzou,  o “Lã” mandou na rede pelo lado de fora… Wesley mandou uma bola perigosa na área, o zagueiro afastou o perigo… Tava chegando!

O Pacaembu se inflamava, chamava o gol. A torcida cantava, jogando com o time, fazia barulho, reclamava muito das faltas violentas do Bragantino e da conivência do árbitro que parecia não vê-las… A tática do adversário (será que foi o técnico quem preparou essa estratégia?) era dar chutão lá pra frente e tentar cavar faltas, escanteios, laterais, tentar desestabilizar os nossos jogadores… qualquer coisa para ganhar tempo e, quem sabe, cavar a expulsão de algum palmeirense, quem sabe, levar o jogo para as penalidades,

A nossa ansiedade para ver a rede dos linguiceiros balançar era enorme. Aos 20′, Bruno César chutou de fora da área e o goleiro espalmou; na cobrança de escanteio, Wesley levantou na pequena área, o zagueiro se atrapalhou todo tentando tirar a bola, e ela sobrou… pro “Lã” Kardec lindo!!! E se sobra pra ele, é rede!  Linha atacante de raça!

O Pacaembu explodiu no gol do artilheiro do Paulistão! Era o Palmeiras mais pertinho da semifinal do campeonato. Que alegria, meu Deus! Faz cera agora, Bragantino!

O Bragantino não nos assustava, a não ser pela violência com que atingia nossos jogadores. Valdivia, que jogava um futebol maravilhoso, apanhava mais que Judas em Sábado de Aleluia (e depois não querem que ele reclame). E nenhum jogador  do Bragantino era expulso!! Nossos atletas apanhavam com bola, sem bola… O árbitro era péssimo, ignorava as faltas que sofríamos e deixava o jogo seguir. Só parava o jogo quando a falta era cometida por alguém de verde… numa oportunidade, deu cartão amarelo para o jogador palmeirense errado, o que nos levava a pensar que se não viu nem o jogador, como poderia ter visto a falta?A torcida ficava revoltada.

O Palmeiras continuou comandando as ações, mesmo tendo tirado um pouco o pé do acelerador.  Nas modestas tentativas do Bragantino a defesa verde, comandada por Lúcio, estava esperta, Prass atento…e a primeira etapa acabou com 1 x 0 mesmo.

No segundo tempo, o Bragantino pareceu colocar o time pra cima do Palmeiras, na tentativa de buscar o empate – resultado que era tudo o que ele queria desde o início  – mas a defesa esmeraldina não dava chance. E, pra falar a verdade, os adversários não levavam perigo.

Valdivia, que tomava sarrafada a cada vez que tentava um de seus mágicos dribles, fez uma falta normal e recebeu amarelo. Lembra que ele foi agredido no começo do jogo e nem amarelo seu agressor levou? Então… Um desaforo esse livro de regras inventado para o Palmeiras! O juiz parecia avaliar a gravidade da infração dependendo de quem fosse o  jogador infrator ou de qual fosse o time dele…

Mas não tinha jeito, o Palmeiras sobrava no jogo mesmo apanhando, mesmo com o juiz facilitando a vida do adversário… Wesley, Valdivia, Bruno César, Leandro e “Lã” Kardec estavam impossíveis, Juninho jogava um absurdo! Wendel era um guerreiro. A defesa estava como no hino… ninguém passava! Coisa linda esse ‘Parmera’!

Valdivia fez jogada individual, invadiu a área e chutou, mas o goleiro fez a defesa. No rebote, Kardec encheu o pé e, de novo, o goleiro salvou. O grito de gol parou na garganta…

O Verdão metia artilharia pesada pra cima do Bragantino; Marcelo Oliveira chutou de longe, o goleiro conseguiu espalmar… no rebote, Kardec mandou pra fora…

Faltava a pá de cal nos “açougueiros” …

17′, … a bola passou de pé em pé… Valdivia se livrou de uma falta, ficou com a bola, tocou pra Juninho, que mandou pra área; Leandro foi na bola, atrapalhou o goleiro, a bola sobrou pra Kardec, que tocou para Wesley mandar pro gooooooooooooool! ESTÁVAMOS NA SEMIFINAL!! Que festa da Que Canta e Vibra!

Enquanto enlouqueciámos na bancada, e o ‘Fred Flintstone’ na lateral do campo, uma cena linda se desenrolava à nossa frente. Depois do gol, Kardec e Wesley se abraçaram, e os outros jogadores foram chegando para aumentar o tamanho do abraço… e ficaram ali, comemorando abraçados, parceiros em campo e fora dele…

Abraço

Meu coração não aguentou a alegria do gol, a imagem dos jogadores, e minha razão se rendeu à emoção. A torcida cantava… “Eu sempre te amarei…”,  arrepiante! Eu não conseguia cantar e nem parar de chorar… Meu Palmeiras classificado, meu Palmeiras em paz (apesar de tanto fogo-amigo), a torcida feliz, meu Palmeiras a caminho do título…

Não consegui ver mais nada direito depois desse gol, meu coração se antecipava, e já sonhava com o próximo jogo… mas, mesmo com olhos no futuro, vi Leandro soltar a bomba e o goleiro espalmar… vi entrar Eguren, Patrick… vi o Mago fazer magias ao lado do “Lã”… ouvi a torcida homenagear Valdivia durante a partida… ouvi os gritos de “Olé… vi entrar o Vinícius… ouvi o juiz apitar o final de jogo… ouvi os aplausos da torcida, vi os jogadores comemorando, vi o Kleina feliz, vi meu Palmeiras, imponente, classificado… eu continuava antevendo um domingo futuro, num outro Pacaembu lotado, sonhando com um gol do Mago, outro do “Lã” Kardec, um do Juninho… com defesas precisas do Prass… com o Palmeiras na final…

E O DOMINGO FUTURO, COM O QUAL EU TANTO SONHAVA,  É HOJE!!!

AVANTI, PALMEIRAS,  SCOPPIA CHE LA VITTORIA È NOSTRA!!